I

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O carro ainda cheirava aos nossos corpos, ele ainda estava suado. E eu não conseguia mudar a expressão de espanto, tudo aquilo doeu, e eu deixei, sabendo que era o que eu queria eu deixei.
Ele perguntou por diversas vezes se queria que parasse, perguntou antes mesmo de se colocar dentro de mim, e mesmo sendo lento doeu e eu o deixei. Como as pessoas gostavam daquilo?
Eu estava com fogo queria que apagasse o meu e ele apagou, e depois que me fez gozar, e que enfim liberou seu líquido dentro de mim eu me dei conta que eu estava com leve repulsa de tudo aquilo.
Então quilo era algo que fazia os casais se sentir completo? E Júpiter e eu estávamos completos, mas aquilo também era o motivo dos homens usar as mulheres, e eu me perguntei, depois em meu silêncio ainda mais assustador que o silêncio anterior se eu fui usado.

E para Júpiter estava tudo bem. Não consegui responder se tudo estava bem.
Eu queria chorar, e talvez eu já tivesse chorado ou eram parte dos gemidos dolorosos?
Por que não parei? Ele perguntou tantas vezes se eu queria parar, ele me acariciou de tantos modos e eu queria tanto aquilo mas no final, depois de todo o prazer eu não queria mais. Só fui ver tudo aquilo como um erro depois que acabamos pois na hora virar os olhos foi o ato mais gostoso que soube fazer.
Eu não sabia se estava certo.
Foi como gozar na boca da Cida, minha amiga de adolescência, e depois se arrepender por medo e receio de ter violado ela, ou foi o contrário ela me violou?
Não teve violações. Não foi nada que não fosse permitido, então não entendia o que estava causando o arrependimento. Acho que era o medo de depois daquilo não ver nunca mais Júpiter, me descobrir uma fonte de prazer para ele usar, e quem mais quisesse, esse era o arrependimento, a descoberta de que meu corpo poderia proporcionar para ele algo, que ao seu ver, podia parecer comum e para mim algo único.

Júpiter encostou no banco com a mão no rosto com se fosse espreguiçar, mas ele bufou e apertou os olhos.

— Eu sabia que não devia ter feito nada!

Antes suas palavras tinha respostas. Suas perguntas tinham respostas.
Como foi o resto dos eu dia? E eu respondi como foi, perguntando sobre o seu.
Agora eu não conseguia falar.

Júpiter esfregou a mão em seu rosto todo fortemente fazendo o rosto ficar avermelhado.

— Está com enojado não é?! Arrependido?

Eu continuava em silêncio olhando para frente. Não sei se estava arrependido ou com medo, pois o que fizemos era errado de mais para homens.

— Luís, me desculpa. Eu... Merda, eu devia ter parado, mas você parecia estar gostando. Eu... — Ele deu uma pausa — Esta dolorido não está? Está doendo...?

Estava muito. Mas eu não sabia o que me doía mais, meu corpo ou minha consciência. O que doía mais era minha mente me condenando por ter feito sexo com um outro homem. Eu devia ter seguido o Conselho de Gabriel, agora eu estava sem honra nenhuma.

Eu não deixei ele parar quando ele quis, não foi culpa dele então eu o violei, acho que ele sentia isso também: postergado.
Mas o que seria realmente isso? Acho que é quando ninguém nunca te viu nu de verdade, quando você tem vergonha do seu corpo e o outro não tem, então se sente um pouco violado por alguém gostar de algo em ti que você particularmente não gostaria que ninguém gostasse ou tocasse.
E Júpiter dizia: “Como você é gostoso, como é lindo, nossa que bunda! Você faz isso bem!” mesmo sendo minha primeira vez.
Acho que ele estava mentindo.
Esses pensamentos eram os que eu tinha com ele, eu o imaginava gostoso, lindo e que faria sexo tão bem. Então eu gostava tanto dele e de seu corpo que talvez todas as vezes que eu o olhava o violava por imaginar ele nu, olhava com desejo para sua genitália, quase sempre e ele notava. Eu fazia aquilo constantemente.

Homens não deviam fazer aquilo.

— Estou bem Ju... — Falo abrindo o carro.

— Luís, volta aqui vamos conversar. Merda eu... — ele tentou falar.

Mas sai de seu carro batendo a porta.
Era tarde.
Ele acelerou o motor fazendo as rodas executarem barulhos de pedras moídas sob o paralelepípedo. Creio que ficou nervoso, chateado, pois arrancou com o carro.

Enquanto eu tentava encontrar a chave da porta observei seu chaveiro o que me deu. E antes de abrir chorei baixinho com a cabeça na porta. Com medo por tudo.

Eu não sabia que me arrependeria de fazer sexo.
Mas eu me arrependeria de toda forma, com ele, ou com alguma garota, pois eu achava em si algo que idolatrava e nunca seria como eu imaginava.
Tudo aquilo aconteceu tão distante de minha imaginação. Eu criei expectativa no nossos sexo pois sonhava com ele, e o sexo não foi como deitar em uma cama de rosas, com velas românticas, com uma cama bem forrada, não foi como nos filmes. Foi num carro apertado, bruto, rapido, com saliva, com jeitinho para encaixar, foi cansativo.
Limpei as lagrima e entrei em casa.
Todos estavam dormindo.

Subo as escadas a cada passinho lento. E aquela noite tomei um banho demorado.
Podia acabar toda a água do planeta eu não me importaria queria tirar de mim o líquido de Júpiter.

Ele me perguntou se podia gozar dentro de mim, e por alguma razão deixei.
Deixei sabendo o quão era errado, mas ele também sabia, então nós estávamos errados. Mas estava tão bom que eu não queria que ele parasse.

Eu queria tirar tudo de mim agora e no banho.
Todo o seu líquido.

E no dia seguinte tomei mais banhos demorados no mesmo intuito.
Mesmo não tendo nada em mim, mesmo nem sabendo se ele gozou, ou tendo a plena certeza que: sim ele gozou pois gemeu feito um bicho nessa hora, e era o que éramos bichos.
Animais, animais, animais!

Durante o trabalho eu não consegui fazer nada, só conseguia pensar nele, no seu corpo suando no meu, nos apertos que dei, nos múrmuros, no modo como eu o segurei forte, em como eu o queria dentro de mim,  pegando e apertando sua bunda macia enquanto ele socava sem parar. Eu evitava pensar pois começava a ficar duro e logo me arrependia. Em cada olhar carinhoso que ele tinha, em cada gesto de suas mãos, em cada ação. Acho que naquele momento até nossos corações batiam na mesma intensidade que nossas coxas se batiam, mais rápido, rápido, rápido, depois uma calmaria lenta e forte.

Quando sai do serviço ele estava parado de braços cruzados.
Não usava seu uniforme. Nem ele trabalhou, acho que ele mesmo sabia que não conseguiria, creio que antecedeu uma folga.
Seu bíceps alto marcava na camisa como se ele fizesse uma força ao cruzar os braços. Não ele não era forte, era eu quem o fazia forte. Havia uma marca no mesmo, meus dentes estavam marcados lá, em roxo, e me lembrei arrependido.
Aquilo no momento em que gozei pela segunda vez enquanto sentia seu pau dentro de mim me parecia correto. Quis gritar, eu não podia, cravei meus dentes nele.
Animais, animais, animais.

Ele estava sério. Parei em sua frente.

— Oi — disse ele.

— Oi

Respondo no tom de voz mais baixp, mas passo por ele como se ele não existisse. Preciso ir ao ponto de ônibus.
Ele segura em meu braço.
Observo a marca em seu braço, animais, animais!

— Luís, vamos conversar...

Não quero.

— Tudo bem.

Por que meu pensamento não funciona como minhas palavras?
Entramos no carro de modo rapido, como se fossemos a um encontro onde o cavaleiro abre a porta para a mocinha entrar e a mocinha é eu. Em sentei de modo formidável e não me mexo, de modo silencioso apertando meus dentes de boca fechada olhando para frente.
Ele dá a volta no carro, está de suspensórios, como é antiquado.
Entra no veículo e avança com e mesmo até duas quadras de distancia longe o suficiente do alvoroço do centro.

— Por que está me evitando?

— Não estou — nego a ele e a mim mesmo.

— Não está?

— Não, não estou.

— É, não está...

Silêncio.

Sentir seu cheiro é o golpe mais baixo que Júpiter me dá sem ao menos perceber que o seu cheiro, me fazia sentir a necessidades de tê-lo perto, e talvez novamente dentro de mim. Eu estava arrependido por estar apaixonado e por ter me dado conta que gostei do nosso sexo. Eu estava sem controle como um Porsche sem freio.

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