Capítulo XXXII | Kara

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O despertador de Lena tocou assim que me deitei exausta na cama após passar a madrugada inteira de vigília.

— Bom descanso, meu amor — consegui ouvir Lena sussurrar e sentir os seus lábios na minha bochecha antes de cair em um sono profundo.

Era três horas e alguma coisa quando finalmente acordei. Otto resmungava baixinho no canto do quarto, estava com fome. 

Levantei-me da cama, tomei um banho e fui ao meu enorme closet — ainda era estranho pensar que eu tinha um, junto com todas as outras coisas chiques que Lena possuía na sua mansão. 

Quer dizer, nossa mansão.

Lena e eu decidimos morar juntas a cerca de mais ou menos dois anos atrás. Foi difícil de abandonar o meu velho apartamento, possuía muitas boas lembranças nele, mas foi um mal necessário. Às vezes acho que Otto também sente um pouco de falta do velho lar, mas ele parece se contentar bastante com o enorme pátio da mansão e por poder ver Lena todos os dias.

A casa encontrava-se silenciosa — isso sempre ocorria quando Lena não estava — dando um ar mórbido no local.

Meu celular vibrou assim que terminei de colocar a comida para Otto. Uma mensagem era de Brainy pedindo que eu retornasse ao D.E.O no final da tarde. Ele também me informou que as câmeras de segurança da prisão foram todas desligadas no momento da fuga, ou seja, nenhuma pista de como os prisioneiros puderam ter escapado. Brainy disse que passaria a tarde interrogando os seguranças na esperança de obter uma informação extra.

A segunda mensagem era de Lena surtando pelo fato de que a mãe e o irmão haviam fugido da prisão. Foi possível notar a sua decepção com Lillian pois, tínhamos ido visita-la praticamente no mesmo dia em que a fuga ocorreu. Comecei a planejar algo que pudesse animar Lena e fazê-la se esquecer, mesmo que temporariamente, seus dramas familiares.

A última mensagem foi de Nia me convidando para tomar chá com ela naquele mesmo horário. Fui pega de surpresa pelo seu convite, mas não recusei. Na verdade, se não fosse ela ter mandando a mensagem teria sido eu. Precisava esclarecer algumas de minhas dúvidas com Nia e enquanto me direcionava ao seu encontro, me perguntei se ela já não havia previsto que eu queria falar com ela.

A casa onde Brainy e Nia moravam ficava situada no bairro mais afastado da cidade. A pequena residência era repleta de plantas de todos os tipos, Nia cultivava um jardim tão aperfeiçoado que causava inveja nos vizinhos. Com a chegada da primavera então, suas flores estavam ainda mais belas.

Nia regava suas rosas vermelhas quando eu apareci em frente ao baixo portão branco feito de madeira.

— Por favor Kara, entre — pediu ainda regando as flores — Está aberto, essa é uma vizinhança segura.

Entrei no jardim perfeito de Nia assim que ela guardou o regador. Observei os seus cabelos castanhos, eles estavam muito longos, já lhe passavam do quadril e ainda havia uma parte arrumada em uma fina trança. Acredito que se estivessem totalmente soltos fariam cócegas no chão.

— Oi, Nia — balbuciei enquanto ela me guiava para dentro da casa.

A residência cheirava a incenso e ervas. Havia mais plantas do lado de dentro do que do lado de fora dando a aparência de um local bagunçado, mesmo tudo estando em perfeita ordem.

Tentei imaginar Brainy vivendo nestas paredes e não consegui. Agora entendia o porquê dele passar mais tempo no D.E.O do que na própria casa. Me indaguei em pensamentos se Brainy e Nia estavam passando por alguma dificuldade no relacionamento e, se estavam ou não, nenhum deles demonstrava.

Depois que a Mãe foi derrotada, Nia tinha se tornando uma mulher completamente diferente do que ela costumava ser. Isolou-se do grupo, raramente comparecia aos jantares de sexta-feira, não visitava mais o D.E.O e deixou de ser a Sonhadora.

My Other Face || SupercorpWhere stories live. Discover now