Hazel

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  Fazia alguns dias que Will não dormia bem. Ele dormia aborrecido e acordava aborrecido, mas naquela manhã, ele acordou sentindo que toda aquela raiva contida tinha evaporado.
  Aos poucos ele foi se localizando. Sua cabeça doía, mas não era um grande incômodo. E havia uma luz forte no quarto, mais forte do que estava acostumado. No seu bolso, o celular vibrava como louco.
  Com o rosto enfiado de lado em um travesseiro, ele só se virou o suficiente para tirar o celular do bolso. O nome de Lindsay brilhava furiosamente na tela, seguido de notificações de cem ligações antes daquela. Ele a atendeu rapidamente, o sono sendo evaporado por uma dose de adrenalina com a visão das ligações.
  -Onde você está? -ela disse pausadamente.
  Will olhou ao redor e rapidamente tudo voltou à sua cabeça. Ainda estava na festa. Na casa. No quarto... onde Nico o beijara.
  -Eu... estou na casa da festa. -ele respondeu.
  -Eu também. -ela disse, confusa. -Eu te procurei em cada cômodo dessa casa, onde você está?
  -Eu te encontro na sala.
  Ele desligou o celular e pulou da cama, se dando conta que estava no quarto de Nico, mas onde ele estava?
  Sem poder perder tempo nem testar a paciência de Lindsay, ele saiu do quarto cautelosamente para que ninguém o visse.
Mas não adiantou.
  -Bom dia.
  Ele sentiu cada músculo do seu corpo travar na posição em que estava fechando a porta. Will olhou por sobre o ombro, mas quem estava lá era Nico, parado do outro lado do corredor no batente da porta, com um celular na mão e o olhando com um sorrisinho simpático, e Will não sabia dizer se aquilo era bom ou não.
-Bom dia. -Will respondeu, fechado a porta mais naturalmente.
-Lindsay está te procurando desde ontem. -ele informou.
-E por que não a disse onde eu estava?
Nico deu de ombros.
-Porque esse é o meu quarto. Todo mundo sabe disso, menos a Bela Adormecida que apagou na minha cama. E eu não sabia se você queria que ela soubesse.
Will se sentia constrangido, mas conseguiu rir daquilo.
-Me desculpe. Não queria roubar seu lugar.
-Sem problema. Agora, vá atrás dela, Lindsay deve estar pondo fogo pelas orelhas.
Will ia começar a andar pelo corredor, mas se impediu no meio do caminho.
-Sobre ontem... -ele começou.
-Você pensou melhor? -perguntou Nico, erguendo uma sobrancelha.
-Não! -Will franziu a testa para a posição defensiva que ele tomava. -Só... queria agradecer.
-Ah! -Nico baixou a guarda. -Nesse caso, de nada.
Will riu.
-Não precisa ser tão arisco o tempo todo. -ele disse, vendo Nico claramente constrangido pela sua atitude.
-Eu sou assim, não que eu me orgulhe muito disso.
Will assentiu.
-...Te vejo mais tarde? -tomou a liberdade de perguntar.
  -Claro.
  Sem dizer mais, Will voltou a andar pelo corredor. Teria corrido se isso não deixasse tão óbvio quão ansioso ele estava. Will desceu a escadaria e entrou na sala de estar ampla e com janelas que iam do chão ao teto direcionadas para o jardim. Nos sofás estavam todos os seus amigos com a aparência de que haviam sido pisoteados por búfalos.
  -Você está vivo! -gritou Lindsay, levantando e correndo até ele. Ela o abraçou e deu um tapa forte na sua cabeça. -Você é um idiota, por que não atende a porcaria desse celular? Podia ao menos ter me mandado uma mensagem. Eu fiquei a noite toda pensando se você tinha sido sequestrado!
  Will segurou a risada e apertou a prima no abraço para que ela se acalmasse.
  -Eu só dormi em um dos quartos lá de cima.
  -Mas eu olhei cada um!
  -Talvez você tenha olhado errado.
  Deixando uma Lindsay confusa, ele foi ajudar os amigos a chegarem no carro, sempre notando o olhar curioso da prima sobre ele. Juntos, colocaram todos no carro e Will dirigiu de volta para o clube. Chegando lá foi mais uma luta para fazer com que cada um acordasse e fosse para um colchão. Lindsay desistiu de olhar para Will de cara feia depois de um tempo, quando o sono a ganhou e ela decidiu que iria dormir com os outros.
  Will não estava com sono. Nem um pouco, então tomou banho, trocou de roupa e, antes de sair, checou se sua mãe ainda estava dormindo, e ela estava. Ele desceu e seguiu para o prédio ao lado, mas antes que começasse a subir, Lee vinha descendo.
  -Você por aqui? -Lee levantou uma sobrancelha.
  -É, todos lá de casa estão destruídos, pensei em passar um tempo com outras pessoas que me suportam.
  -Festa? -Lee começou a andar e Will o acompanhou.
  -O que mais é capaz de destruir o Jake?
  Lee riu.
  Jake e Will eram amigos de infância. Haviam feito a escola juntos e só se separaram para a faculdade, mas enquanto eram vizinhos, todos da sua família conheciam muito bem Jake.
  -E por que você não está destruído? -Lee perguntou, limpando os óculos de sol na barra da camiseta. -Não bebeu?
  -Bebi pouco, e dormi mais que eles.
  -Você dormiu em uma festa?! -Lee o olhou como se ele fosse uma espécie de alien. -Onde foi parar a sua fama de festeiro? Você muda de personalidade quando vem para a Califórnia?
Alguma coisa assim, Will pensou.
  -Eu bebi, mas me jogaram na piscina e eu consegui ficar sóbrio. -Will cruzou as mãos nas costas. -Só que... o Nico apareceu.
  Lee parou de andar abruptamente. Quando Will olhou para trás, viu o irmão de queixo caído, e continuou a andar.
  -Não, espere. -Lee correu atrás dele e o segurou pelo braço. -É sério?
  -É sério. -Will suspirou.
  Lee sorriu satisfeito.
  -Você não perde tempo, hein?
  -Ele quem não perde tempo. Nunca vi uma pessoa tão direta como ele.
  Lee riu e pousou uma mão no ombro do irmão.
  -Pelo menos agora você tem referência. Qual a sua conclusão?
  -Como?
  Lee revirou os olhos.
  -Já resolveu as suas dúvidas?
  Will pensou um pouco. Já estavam perto das piscinas quando ele parou de andar e respirou fundo. O beijo de Nico havia sido suficiente para resolver tudo? Will havia gostado de beija-lo. E era óbvio que se sentia atraído por ele, só um imbecil não reconheceria isso. Mas... Nico era uma pessoa. Talvez estivesse se sentindo atraído pelo diferente, pela possibilidade, não por ele em si.
  Pelo amor de Deus.
  Quem estava tentando enganar de novo?
  Ele só faltava parar de respirar quando Nico falava com ele.
  -Acho que... por enquanto, sei o suficiente. -respondeu Will.
  Lee sorriu orgulhoso para ele.
  -Perfeito, agora vamos comer! Papai fez o pior café da manhã do mundo hoje, sinceramente, acho que aquele homem não é feito de carne, mas de chia inchada.

Summer Strange Love - Solangelo Onde as histórias ganham vida. Descobre agora