Ondas Azuis

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-Agora, -disse Nico, colocando os remos nos lugares. -Vamos para um lugar mais privado.
-Contando que você não esteja se referindo ao fundo do mar, eu topo.
Nico os dirigiu para longe da costa, mas não tão longe, então descansou os remos. As ondas os erguiam de vez em quando. E elas brilhavam tanto...
-Isso é muito lindo.
-Podemos ficar aqui o quanto quiser. -Disse Nico, se reclinando em um dos lados do barco, que por sinal os acomodava muito bem.
-Quanto tempo isso dura?
-Até de manhã.
Will ergueu uma sobrancelha.
-Está sugerindo ficar aqui até de manhã?
Nico deu de ombros.
-Quanto tempo precisar. Elas são bem terapêuticas.
Will riu, fazia um tempo desde que ia no terapeuta, após sua mãe ficar melhor dos surtos violentos, ele deixara de visitar a Doutora Daisy, mas sentia falta dela. Porém, ondas azuis como mágica eram bem mais interessantes.
-Obrigado. -disse Will, olhando o azul florescer nas ondas e sumir.
Nico balançou a cabeça em resposta.
Will olhava o azul brilhando no rosto de Nico. Seus olhos eram tão escuros que nem aquela luz o fazia ver suas pupilas, e Will até que gostaria de vê-las. Tinha certeza que Nico conseguia ver pelas dele que Will estava o adorando desde a primeira vez que o viu. Deviam estar no mínimo dilatadas.
-No que está pensando? -Nico perguntou, desviando seu olhar de volta para Will.
-Que eu não consigo ver os seus olhos.
Nico franziu a testa.
-Como assim?
Will se sentiu corando.
-Você consegue ver os meus. Mas os seus são muito escuros para que eu consiga ver.
Nico sorriu.
-Estava tentando me ler?
-Um pouco.
Nico sentou mais para frente. E em um momento assustador Will percebeu que ele estava tão perto que seus joelhos se tocavam.
-Consegue vê-los agora?
Will segurou um suspiro. Ainda assim, os olhos de Nico estavam muito escuros. Não fazia nenhuma diferença estar tão perto.
-Não.
Nico se inclinou um pouco mais para frente.
-E agora?
Will sabia onde isso ia acabar. E por estar tão explicitamente óbvio, o nervosismo deixou seu corpo, como se estivesse aceitando que não tinha mais jeito. Aquilo ia acontecer.
Will sorriu.
-Parece que estou os vendo ainda menos.
Nico pareceu entender que ele estava entrando no jogo, então se aproximou mais, suas pernas estavam quase em cima das de Will.
-Quando você disse ontem que eu era inseguro...
-Eu não quis dizer aquilo. -Nico reagiu, rapidamente.
-Não. Você estava certo.
Will se atreveu a correr os dedos pela bochecha dele. E parecia tão estranho, e tão maravilhoso.
-Eu quero parecer perfeito, na maior parte do tempo, mas é impossível. Acho que só estou entendendo agora que eu não preciso agradar todo mundo. -Will deslizou a mão até que sua palma estivesse bem alocada com a cabeça de Nico, a pele dele era macia, e perto do fim da mandíbula, seus ossos ficavam mais quadrados. Isso era novo. -Acho que eu sou uma pessoa diferente com todos eles.
-Está dizendo que eu estou presenciando a versão premium?
Will riu.
-Tipo isso.
Nico esticou o braço e o puxou mais para perto dele. Seus rostos estavam próximos, e havia apenas um pequeno espaço para ser quebrado.
  -Agora você não pode fugir de mim. -Nico disse, e sua voz soava tão satisfeita com isso, que Will começou a rir.
  -Nem você pode fugir.
  -Eu não...
  -Você nunca precisou cuidar de ninguém na festa.
  Will havia percebido isso depois de um tempo naquela noite, antes de apagar na cama. Se qualquer coisa tivesse acontecido alguém viria chamar ele, e todos estavam falando muito alto para que não soubesse que todos estavam na festa ainda.
  Ele havia fugido tanto quanto Will.
  Nico ainda tentou retrucar, mas desistiu. Seus olhos se focaram na boca de Will, tão perto da sua. Precisava só um pequeno impulso. Mas aquilo não era interessante? Era algo mais interessante que o beijo em si. O que, além disso, traria duas pessoas como eles a ficarem tão próximos um do outro daquela forma? Will avançou e o roubou um selinho longo, surpreendendo Nico, então, sem se afastar muito, permitindo que seus lábios ainda se tocassem, ele sussurrou:
  -Vou parar de fugir.
  Nico não conteve o sorriso. Era o suficiente para começassem a se beijar de verdade. Como se tudo tivesse sumido. Como se a insegurança de Will, o medo, tudo oque tinha pensado um dia antes, tivesse desaparecido como num passe de mágica.
  Will via os reflexos azuis sob as pálpebras, sentia a boca de Nico contra a sua, e sentia com os dedos a pele suave do seu pescoço, o formato dos ombros mais largos do que estava acostumado a tocar, os cabelos curtos que chegavam até pouco abaixo da orelha. Will estava encantado, perdido. Ele só não queria soltá-lo ainda.
  Mas quando o soltou, sentia-se bem consigo mesmo. E ninguém poderia fugir, como Nico havia pontuado.
  Seu olhar se fixou no de Nico por alguns instantes antes de se afastarem mais um pouco.
  -Você é uma pessoa engraçada, Will. -Nico disse, passando as mãos nos cabelos.
  -Mesmo? Por que?
  -Você vem com essa conversinha de "não tenho certeza", mas... você sempre parece ter muita certeza.
  Will sorriu.
  -Certeza eu tenho, só não tenho como maneja-la.
  Nico estava sentando um pouco mais afastado, mas suas pernas ainda estavam um pouco apoiadas nas de Will. E quando Will apoiou as mãos nas suas pernas, Nico ergueu as sobrancelhas, surpreendido.
  -Não sei qual mágica foi usada em você. -disse Nico, se inclinando só para ganhar mais um beijo rápido de Will. -Mas eu estou adorando.
  -Eu disse que queria parar de fugir.
  -É uma ótima ideia. -Nico ergueu a mão e tocou o pescoço dele, seus dedos estavam frios por causa da noite, mas aos poucos Will se acostumou. -Porque eu realmente estava achando um desperdício você deixar os outros na vontade e não ser no mínimo bi.
  Will gargalhou, sentindo o rosto ficar vermelho.
  -Você não disse isso. -ele disse, ainda rindo. 
  -Eu disse, e pensei, e fiquei muito irritado pensando isso. Era no que eu estava pensando quando te encontrei na praia naquele dia. Parecia uma forma do universo me dizer que você estava ainda mais inalcançável.
  -Inalcançável?
  Nico assentiu.
  -Era como eu me sentia olhando para você. E quando você me deu um fora ontem...
  -Eu não te dei um fora.
  Nico riu, como se Will estivesse falando bobagem.
  -Claro que deu. Você praticamente olhou na minha cara e disse que não.
  Se Will se sentia arrependido antes, ouvi-lo dizendo aquilo era ainda pior.
  -Eu não queria ter te dado um fora. -Will suspirou.
  -Eu percebi isso faz alguns minutos. -ele disse, com um sorrisinho no canto da boca. -Alguém sabe que você está aqui? Alguém que possa ter nos visto da praia e faça você me dar um segundo fora?
  Will revirou os olhos, mas por um lado até estava feliz por Nico estar levando aquilo na brincadeira e não com ressentimento.
  -Lindsay sabe que eu ia encontrar alguém hoje, não sabe quem ou onde.
  Nico o olhou como se ele fosse burro.
  -E você acha que ela não sabe com quem você está? -ele perguntou. -Ela te denunciou para mim. É claro que ela sabe que sou eu.
  -Mas não é um problema. Como você diz, Lindsay não é o suficiente para um segundo fora.
  -Achei que vocês tinham alguma coisa.
  Will fez uma careta de nojo.
  -Ela é como minha irmã, eu já disse. Já vi ela roendo as unhas do pé quando era criança.
  Nico riu, e soou maravilhoso para Will.
  -Vem cá. -chamou Will. Lembrando da forma que Nico havia o chamado naquela noite na varanda. Ele soara tão convidativo, Will não achava que ele próprio conseguiria fazer aquilo daquela forma, não com Nico. Ele não era como as garotas que ele encontrava nas festas, ele tinha real interesse nele. E isso era incrível. Parecia agora que nunca tivera interesse em mais ninguém.
Quando Nico voltou a se aproximar, Will o beijou suavemente e direcionou o rosto para o pescoço dele. Will o ouviu suspirar e sorriu.
-O que você está fazendo? -Nico perguntou, com um tom falso de irritação.
-Explorando.
O cheiro dele era bom. E quando Will beijou aquela região, pode sentir os arrepios com os lábios, o que só o fazia pensar que Nico estava tão suscetível a ele quanto Will se sentia.
Will deslizou as mãos de volta pelo pescoço dele e se colocou no nível dos seus olhos.
-Como isso vai funcionar? -Will pensou alto.
Nico, com os olhos pesados dos carinhos de Will, respirou fundo, apoiando o rosto na mão dele e fechou os olhos.
-Imagino que você não queira soltar essa bomba no meio de todo mundo.
-Não fale assim, faz eu me sentir um péssimo ficante.
Nico riu e tirou gentilmente as mãos dele do seu rosto. Quando abriu os olhos, não parecia tão sério quanto soava.
-Não se preocupe com isso. -Nico ergueu uma mão até os cabelos de Will e enrolou um cacho loiro no dedo. -Vamos saber aproveitar os momentos que tivermos.
Will deixou que ele se distraísse com o seu cabelo. E queria que aquele momento não acabasse nunca, porque estava tudo tão perfeito... mas uma hora teria que acabar. Então ele voltaria para casa, para seus amigos que não sabiam de nada ainda, para sua mãe e seu pai desgovernados e para toda aquela sociedade maluca que ele estava inserido.
-O que aconteceu? -Nico perguntou, erguendo uma sobrancelha.
-O que?
-De repente você pareceu muito triste.
Will deu um sorrisinho mascarado.
-Você vai se assustar se eu disser que estava pensando que não queria que esse momento acabasse?
Nico balançou a cabeça.
-Não me assustaria nem um pouco.
-Então, eu estava pensando isso.
Por um instante eles só se olharam. E Will se sentia tão estranho que nem se lembrava como era antes de sentir aquilo.
-Me sinto culpado por estar te prendendo no meu problema. -Will sussurrou, tirando o cabelo que estava preso nos cílios de Nico. -Tem tantas pessoas melhores com quem você poderia ficar, pessoas que não iriam querer esconder nada.
Nico revirou os olhos.
-Você acha que eu não sabia que ia ser escondido? -Nico balançou a cabeça. -Se eu me incomodasse com isso, pode ter certeza que eu não teria nem dado meu número e esperado você encontrar.
-Por que?
-Porquê eu quero continuar? - Will assentiu à pergunta. -Porque tudo é mais interessante quando ninguém sabe. E, eu gosto do conjunto. -ele gesticulou para Will em geral, fazendo-o rir. -Vai ser muito divertido ver os rosto das pessoas sem saberem que nas horas vagas, -ele puxou Will pela camisa até ter pouquíssimo espaço entre eles. -A gente se beija.
-Você falando assim até soa bem.
-Soa, parece, é, bom. Agora, pare de pensar tanto, -ele correu os dedos pelos cabelos de Will. -E faça o favor de me entreter.
Cuidadosamente, Will o deitou no chão no barco. Com Nico sob ele, sua sombra o cobrindo parcialmente, Will o beijou sem se preocupar com as horas. Nem quando aquilo iria acabar.

***

  Contudo, a diversão acabou por volta de meia noite, quando o mar começou a ficar agitado, e ambos estavam ficando com fome.
  -Eu te convidaria para o meu apartamento. -disse Nico, terminando de empurrar o barco para trás da pedra, com ajuda de Will. -Mas acho que você não vai aceitar.
  Will riu e se encostou na rocha alta,  cansado de ter empurrado o barco. Seus amigos já deviam ter chegado em casa, tendo em vista que eles saíram apenas com os planos de um show de comédia. Ele até poderia ir no apartamento de Nico, mas... sentia que se fosse para lá não conseguiria sair tão cedo.
-Não posso, meus amigos já devem ter chegado. -ele disse, olhando para as ondas ainda quebrando azuladas.
-Que pena.
Nico estava um pouco afastado, apoiado no barco, recuperando o fôlego. A testa brilhava pelo esforço com o barco. E continuava bonito aos olhos de Will. E de novo...
Aquilo era tão estranho.
Ele parecia ter dormido uma pessoa e acordado outra.
E ele definitivamente gostava dessa nova pessoa. A que se permitia ter tudo que queria, ainda que fosse em segredo.
-É, uma pena. -ele concordou. -Prometi a Lindsay que iria contar tudo.
Nico ergueu o olhar para ele e franziu a testa.
-O que você quer dizer com tudo? Achei que ela já soubesse.
-Ela quer saber o que aconteceu de fato. Eu não quis ir com eles na primeira festa, então eu sumi na segunda e só me acharam na outra manhã, e hoje eu também decidi ficar aqui. -Will lançou um olhar divertido para Nico. -Ela quer saber o que aconteceu para me convencer.
Nico assentiu com um meio sorriso orgulhoso. Ele caminhou até Will, deixando-o colado à parede, e quando ergueu a cabeça, fitando os olhos azuis tão claros, Will sentiu que podia derreter ali mesmo.
-Então ela quer detalhes. -concluiu Nico.
-Algo assim.
-E você vai contar a verdade?
Will franziu a testa.
-Como assim?
Nico se aproximou mais e encolheu os ombros.
-Vai contar que você quase desmaiou na varanda?
Will não se aguentou e riu.
-Ou que você precisou se sentar para poder me beijar? -Nico continuou.
-Eu não precisei me sentar. -Will retrucou, ainda rindo.
-Claro que sim, por quê acha que te levei lá para dentro?
-Você disse que era para ninguém ver!
-Eu podia simplesmente ter te encostado na parede, ninguém ia ver. Mas você estava pálido como mármore.
Will voltou a rir, e dessa vez ele se dobrou, encostando a testa no ombro de Nico.
-Eu sou uma piada. -Will resmungou, com ar de riso ainda.
-Não, você só é... como você disse? Nervosamente instável.
  Will sorriu e encostou mais o rosto no ombro dele, se aproveitando da situação. Nico tinha cheiro de roupa lavada, e, agora, um pouco de maresia.
  -Estou nos atrasando. -Will disse, de repente, erguendo a cabeça.
-Você disse que ia parar de fugir.
-Não estou fugindo.
Nico estreitou os olhos para ele.
-Então por acaso você tem um horário de voltar para casa?
-Sozinho? Um pouco. -Will tomou a liberdade de passar os braços ao redor de Nico, e o fez tão naturalmente que até o próprio Nico ficou surpreso. -Você sabe que se pretendemos manter segredo, eu vou ter que ter algumas desculpas plausíveis.
-E o que você vai dizer quando chegar lá?
-Fui passear na praia e... acabei indo longe demais.
-Isso é uma mentira horrível. -Nico acusou. -Pense melhor.
Will revirou os olhos e suspirou.
-Eu estava na praia e encontrei com alguém. -sugeriu.
-Melhorou. -Nico disse, ainda paralisado no abraço. -E vocês ficaram.
-Como?
-E vocês ficaram. Você acha que seus amigos vão deixar passar batido você simplesmente ter ido bem longe?
Will não queria admitir por birra, mas Nico estava certo, então ele deu o braço a torcer e aceitou a mentira dele.
-Você é melhor em mentir do que eu. -Will reconheceu. -Não sei se devo ficar preocupado.
Nico sorriu.
-Só um pouco preocupado.
Will inclinou um pouco mais a cabeça e o beijou suavemente.
-Preciso voltar para casa. -Will disse.
  Mas não tinha nenhuma pressa de sair dali, de onde Nico o prendera, e de onde ele prendera Nico.
  -Vamos nos encontrar outras vezes. -disse Nico, o tocando na bochecha. -Não se preocupe.
  Will suspirou, assentiu e soltou os braços. Nico riu e se afastou um pouco.
  -Vamos?
  -Vá na frente. -Will gesticulou para a subida atrás da pedra. -Hazel deve estar com saudade.
  Nico andou devagar em direção a subida e então parou.
  -E você?
  -Vou depois...
  -Não. -Nico sorriu astucioso. -Você vai sentir saudade?
  Will sorriu, sem saber como responder, mas era o suficiente para Nico. Ele foi embora para o seu apartamento, enquanto Will sentava no chão, sentindo o coração acelerado, o sorriso marcado permanentemente e zero de culpa.

***

Summer Strange Love - Solangelo Onde as histórias ganham vida. Descobre agora