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CONFISSÕES

Decepcionei as garotas e estou ocupando Henrique, quem está dirigindo, e sei que nada disso é algo fantasiado pela minha mente. Estou decepcionada também, então é uma pena a noite ter terminado como terminou e não há nada que eu possa fazer. Talvez não me queiram mais amanhã, talvez tentem se convecer do contrário. Henrique não é uma prioridade e sua opinião não me importa, por mais que esteja grata pela carona, mas essas garotas...

Encosto minha cabeça na janela de trás do carro e fecho os olhos. Elas definitivamente são algo para mim.

Não sei bem porque aceitei o convite de Isak, ou talvez eu saiba. Eu já estava embriagada quando aceitei sua proposta, mas não posso culpar a isso, escolhas erradas sempre estiveram no topo do meu currículo.

Me despeço das garotas e agradeço a Henrique quando estacionamos em frente a minha casa, despejando meus pedidos de desculpa sobre eles enquanto bato a porta do carro e me afasto. Assim que entro, encontro minha mãe tomando algo fumegando em sua xícara de porcelana que comprou em Londres. Seus olhos estão vermelhos, como se houvesse chorado e o caroço em minha garganta se aperta mais de imediato.

- Por que mentiu para mim? - questiona assim que fecho a porta.

- Eu não sei... Você não deixaria caso eu tivesse pedido.

- Como sabe se não me deu a chance? - Acusa, seu indicador apontado para mim. - Eu tento confiar em você, mas parece que não quer isso, Ayla.

- Eu não quis arriscar - seguro o meu tom de voz, não quero desapontá-la mais.

- Está tarde. - Ela vai até a cozinha e coloca sua xícara lá. - Amanhã é domingo e estou acabada, não posso falar com você nesse estado. Tome um banho e vá para cama.

Não me atrevo a contestá-la. Eu errei, fiz com que chorasse até seus olhos ficarem vermelhos e... Caramba, como posso ser tão ruim para ela? Eu não pensei nela, mas deveria ter feito. Menti, como já fiz tantas vezes. Eu já a fiz chorar vezes demais. Claro que ela queria uma filha diferente... Uma que pelo menos fosse verdadeira. Como posso culpá-la tanto por tentar me amar diariamente se eu sou assim?

Subo as escadas correndo e jogo minhas botas ao lado da porta. Me tranco no banheiro e ligo o chuveiro em água fria, girando o registro até o som da água ficar mais alto do que os meus pensamentos, porque preciso urgentemente sentir algo diferente desse nó na garganta e ardência nos olhos. Não há motivos para chorar. Chorar é para aqueles que merecem perdão, o seu próprio. E o meu nunca vem.

Eu cometi o erro e tenho que lidar com isso. O problema é que estou sempre cometendo erros.

Eu me lavo e me enrolo no roupão. Pego meus produtos de limpeza facial do pequeno armário embaixo da pia e coloco-os sobre ela. Uso um cotonete para limpar a linha d'água do olho e passo os cremes que costumo usar antes de dormir. Escovo os dentes e me visto no moletom mais surrado e vergonhoso que tenho na gaveta, e então abro a janela e uso a escada de emergência para subir ao telhado, onde me encolho e encaro as nuvens cinzas. Finalmente sinto o ar entrar e sair dos meus pulmões e começo a falar, sozinha, como venho fazendo há anos:

- Hoje eu fui uma filha ruim, assim como ontem e há uma semana atrás. Eu ainda seguro as lágrimas, sei que isso quer dizer que estou falhando, que escolho diariamente aceitar meus erros como uma maldição do que me perdoar por cometê-los. Doutora Soraya estaria feLiz de me ouvir admitindo isso, se eu não dissesse que chorar ainda parece ser o fundo do poço pra mim. - Começo a dizer as coisas que nunca vou conseguir dizer a minha psicóloga, por mais que a visite toda semana. - Ainda sou melhor sozinha, mesmo depois de encontrar boas amigas; acho que me acostumei a isso. Bem, talvez eu est já fazendo aquela coisa de afastar quem eu possa me importar demais também, talvez. Ah, eu criei demasiadas expectativas nas últimas horas e agora estou muito desapontada comigo mesma. - Fecho os olhos e cruzo os braços para me proteger da brisa gélida. - E eu meio que ainda me odeio. Isso soa triste, eu sei, mas acho que é a explicação para as máscaras que coloco no rosto todos os dias, elas me fazem parecer mais prepotente, me sinto forte, por mais que seja desconfortável.

As mil melodias que cantei por você [Em Atualização]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora