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Anna Vitória

Como assim eu oficialmente tenho 18 anos? Meu Deus, hoje é realmente meu aniversário e eu estou completando 18 anos? Sério que enfim a maior idade chegou? Que merda hein, galera, que merda!

Completar 18 anos não é nenhuma maravilha como falam por aí não viu? Completar maior idade só significa mais trabalho, mais conta pra pagar, responsabilidade dobrada e por aí vai. Quem diz que é uma maravilha está mentindo, pode ter certeza! Não vão nessa de que completando maior idade vocês vão poder ter mais liberdade, não poder obedecer mais seus pais e finalmente pode ser livre, porque é uma mentira isso, não passa de uma ilusão.

Demoro um tempo pra finalmente abrir os olhos e levantar da cama ainda meio grogue. Como todos os dias eu esqueço e bato a cabeça no estrado da cama de cima, Kimberly resmunga e manda eu me fuder, ignoro minha irmã mais velha e vou até o único banheiro da casa. Escovo os dentes e aproveito logo pra tomar banho, visto o uniforme do trabalho e passo só um rímel pra afastar a cara de morta.

Sorrio pro meu reflexo aparentemente cansado no espelho e faço uma careta pra mim mesma saindo do banheiro, Kimberly ainda está jogada feito uma porca na cama de cima da beliche e só então noto que a cama debaixo já está arrumada e fechada, estranho olhando o horário no relógio barato em meu pulso, ainda são 06:30, onde diabos aquela garota se meteu? Saio do quarto e caminho até a pequena sala, que é grudada com a cozinha, encontro Cauanã encostada na pia virada de costa pra mim.

Anna: Caiu da cama ou o que?- Pergunto parando no batente que separa a cozinha da sala, a garota toma um susto e vira pra mim com os olhos arregalados, acabo rindo da sua cara assustada não me aguentando.- Que foi, tá devendo?

Cauanã: Claro que não sua idiota, apenas tomei um susto com essa sua cara de Fiona, não penteou o cabelo ainda? Tá parecendo a noiva do chucky!- Solta uma risada e eu taco o pano de prato que está em cima da pedra de mármore nela, que resmunga.

Anna: Haha, muito engraçada você, vou até te mandar para um circo de tão engraçada que é, você já tem cara de palhaça mesmo.- Falo sorrindo pra ela que me dá língua e eu apenas ignoro a pré adolescente rebelde e abro a geladeira, me surpreendendo ao ver um mini bolo lá, pego ele na mesma hora me virando pra Cauanã, que tem um sorriso de orelha a orelha nos lábios.

Cauanã: Surpresa!- Comemora animada e eu sinto meus olhos se encherem de lágrimas involuntariamente, deixo o bolo na pia e corro pra abraçar a pequena a minha frente, cubro seu corpo pequeno e magro com o meu em um abraço bem forte.

Anna: Aí meu Deus, não acredito que você fez isso!- Cauanã apenas sorri toda boba pra mim, mas então franzo a testa.- Como? A gente mal tem dinheiro pra comida aqui dentro de casa, cortamos até uma refeição porque a situação tava apertada mês passado. Você não...

Cauanã: Não Anna, claro que não!- Como se tivesse lido minha mente ela me corta ao responder minhas dúvidas, respiro aliviada ao tirar fora a opção de ela ter conseguido o dinheiro do bolo se prostituindo. Na verdade isso é bem comum por aqui aonde a gente mora, meninas que se prostituem desde de muitos novas para conseguir pelo menos colocar o alimento na mesa.- Eu fiquei economizando todo dinheiro que você me dava. Não é muito, mas espero que goste, sei que você nunca teve uma festa, sempre anda tão preocupada com o que vamos vestir que até se esquece de si própria. Então quis fazer algo por você, é seu dia, você merece!

Anna: Ah meu amor, não precisava!- Aperto ela mais em meus braços e afago seus cabelos lisos sentindo uma dor no peito por minha irmã ter que passar por essas coisas.- Olha, eu amei demais a surpresa e pode ter certeza que foi a melhor coisa que alguém poderia fazer por mim, mas você tem que me prometer que não vai mais fazer, tá me ouvindo? O dinheiro que te dou toda semana é seu, é pra você gastar!

Destino Traçado- nova versãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora