Capitulo 1

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AMÁLIA

Há alguns dias, completei meus 18 anos e, a partir de então, comecei a preparar minhas coisas, pois já não podia mais ficar no orfanato. Sim, eu morava em um. Segundo a lei, eu já poderia ter minha própria guarda e deveria deixar o abrigo. 

Desde meus 6 anos, vivia aqui. Quando havia chegado, era a mais velha, então nunca fui adotada, já que normalmente os casais optam por bebês ou crianças ainda pequenas. Um dos motivos também foi uma enorme cicatriz que tenho na bochecha, herança de um acidente de carro que tive quando criança. Dentro do veículo, estava meu pai. Ele morreu. Além disso, minha mãe teve um parto difícil. Infelizmente, por isso, ela não resistiu e nem ao menos chegou a me ver.  

Após perder meus pais, eu passei a morar com minha tia-avó. Ela era uma mãezona para mim, mas aos meus 6 anos ela faleceu. Então, fui mandada para o orfanato Your Light, pois ninguém mais quis ficar comigo. Havia muitos motivos para ficar triste, mas aqui ganhei uma nova família: irmãos e minhas tias, que cuidavam de mim; além de Estela, que me cuidou como se eu fosse sua filha e que me ensinou a ser uma pessoa de fé. Ela me mostrou que, apesar de tudo, tenho que agradecer e amar o Deus que me deu a vida. E eu o amo. Ela me ensinou, me educou e me amou. 

— Você tem onde ficar? — Ela me perguntou, derramando lágrimas.

— Sim, tia. Com o dinheiro que a senhora me deu, eu vou me hospedar em algum lugar e procurar um emprego.

— Tudo bem, não esqueça que você pode me procurar sempre que precisar, certo? 

— Obrigada, tia. —  Ela me abraça apertado.

— Que Deus te acompanhe. Não esqueça Amália que Deus te ama e que todos temos um propósito e cabe a você descobrir o seu. —  Confirmo com a cabeça e deixo um beijo em sua testa. Após, afasto-me com as malas.

— Seja feliz, minha menina. — Ela gritou ao longe. Olhei para trás e acenei  para Estela e as crianças.

[...]

Após horas dentro do ônibus, finalmente cheguei ao meu destino. O centro da cidade. Vou à procura de algum hotel, até que encontro um. Entro e vou até a recepção.

— Olá!

—  Pois não? —  Ele falou, meio mal-humorado. 

—  É... Bem, eu preciso de um quarto em que eu possa me hospedar.

—  Não temos vaga, senhorita.

— Não? — Ele nega. 

—  Ah, tudo bem. —  Sorrio. —  Tenha um bom dia, Senhor. —  Saio um pouco decepcionada. Olhei para os lados e respirei fundo, continuando a andar em frente, à procura de outro lugar. 

A cidade era tão grande, mas parecia não ter estadia para uma única pessoa. Pela manhã inteira, andei pelas ruas e pelos becos, ouvindo sempre "Não há quarto disponível". O sol estava mais quente que antes e já começava a sentir fome. 

Olhei para o lado e vi um restaurante. Minha barriga roncou apenas por olhar a imagem da comida nos cartazes. Decidi dar uma pausa de buscar um lugar para ficar e, então, ir almoçar.

[...]

Estava sentada à mesa, esperando meu pedido, quando um homem elegante de terno entrou e, atrás dele, mais dois. Eles sentaram à mesa à minha frente e começaram a conversar. Uma garçonete se aproximou deles, praticamente oferecendo-se, enquanto os homens babavam, menos o primeiro que entrou. Ele estava olhando em minha direção. Seus olhos eram azuis, mas eu conseguia ver a escuridão que habitava suas orbes claras. 

Ele tirou sua atenção de mim e olhou para a mulher à sua frente, sorrindo. Um sorriso que me deu medo. Os homens fizeram os pedidos e ela saiu. 

Minha comida chegou e soltei um suspiro de satisfação. O cheiro estava delicioso, então também esperava que o gosto estivesse.

Quando terminei de comer, pedi a conta e deixei o dinheiro junto com o cardápio. Levantei-me e andei até a saída, enquanto puxava minha mala e guardava o restante do dinheiro na minha bolsa. Então, do nada, esbarrei em alguma coisa ou, melhor, em alguém. Levantei minha cabeça e dei de cara com o mesmo homem de antes à minha frente. Afastei-me, assustada, vendo a mancha enorme de café em seu terno, que parecia caríssimo. 

—  Olhe para onde anda, sua imbecil!

—  Me desculpe, mas eu estava com a cabeça baixa, se você não percebeu. — Falei, séria. — Então, você quem deveria ter mais atenção, já que eu não vi que vinha na mesma direção.

— Olhe o jeito como você fala comigo. Você sabe quem eu sou?! — Ele esbraveja, irritado. 

— Não, não sei. Mas vejo que é alguém importante, porém que não tem muita paciência. —  Ele parece querer voar para cima de mim. — Peço desculpas novamente. Eu, com certeza, não posso pagar por um terno como esse.

— Não mesmo, sua imbecil!

— Senhor, peço que me respeite. Não sabe quem sou para falar isso. — Ele ri, sarcástico, aproximando-se ainda mais. 

— Para mim, você não é ninguém! —  Disse, desdenhoso. 

— Para mim, o Senhor não é ninguém também, mas nem por isso eu te xinguei. 

Ele ficou sério, sem dizer nada, e sua testa enrugou, denunciando que estava muito irritado. As pessoas no restaurante estavam olhando para nós, enquanto cochichavam uns com os outros.  

— Com licença, eu preciso ir. Me desculpe mais uma vez. Tenha um bom dia, Senhor. — Segurei mais forte a mala e saí às pressas do restaurante.

Segui andando pela calçada, pensando no que iria fazer se não encontrasse um lugar.

— Não pense assim, Amália. Eu vou conseguir, ainda tenho a tarde inteira para encontrar um lugar, nem que seja só por essa noite. Amanhã, bem cedo, vou sair e procurar emprego.


Obrigada por ler ❤✔

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