eu nunca te deixaria fumar

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O silêncio da noite é o apetite para o nosso momento. E hoje somos o lado bom do mundo. O sol nem veio, mas nós já estamos brilhando. Nem está chovendo, mas tudo está tão úmido. Sua língua quente e úmida em mim, fazendo o que sabe fazer de melhor. E não falamos exatamente nada nas nossas pausas, porque sua respiração quente em meu rosto é como um cobertor para todas as minhas ladainhas e enrolações. É que ele viu que estive dando bobeira demais, brechas demais, que eu praticamente desenhei que talvez essa fosse uma boa ideia. Só não achei que ele realmente viria até mim. Porque está muito bom.

Oh, sim... Ele me é muito cuidadoso. Eu gosto de cair nesse teu jeito. Gosto de como caímos no beijo do outro. Da sua inquietação sem saber se me acaricia o pescoço ou a nuca. E também dos estalos que soltamos sem querer, porque não nos importamos com nada que não seja nós juntos. Eu provei de tudo, mas nada chega a ser como isso. Questiono comigo por que padecer tanto por uma futilidade. Mas é nós aqui. Outra vez. Minha boca na sua. Sua boca na minha. Fazendo o que fazíamos juntos.

Ele gosta de rock. Eu, as melhores dos anos dourados. Essas diferenças se juntam, se moldam e formam isso daqui. Eu encontro felicidade em mim. Mas eu também encontro felicidade na tua pele, no rosado, no grude. Entre o queixo pálido e o nariz, há algo que é somente meu agora. Ele me espreme com força os lábios. E sobre nós o vento deságua. Mas nós... nós desaguamos no tato, na boca, no granulado, no barulhinho molhado que chia quando nossas línguas invadem o território da outra. Eu não sei se ele me entenderia se eu dissesse que, se sou mesmo monstro e sou vilão, que por favor me chame de bruxa. Eu lhe enveneno aos poucos, lhe encanto inteiro, lhe preparo receitas, empurro-lhe poções, ele projeta seu desejo pela princesa em mim, e eu o deixo acreditar que sou uma... Porque no final de tudo, só quero ser amado sem ser cobrado.

— Eu nunca te deixaria fumar, Chittaphon — diz ao afastar-se de mim pra valer. Ele esmaga a bituca no cinzeiro, depois o fecha e se prepara para levantar-se. Eu o olho de baixo. — Boa noite. Vê se não dorme tarde.

E sai mancando para dentro da casa.

Eu abraço minhas pernas molhadas, sem saber o que fazer. Sem saber o que aconteceu. Se eu devo ir atrás dele e dizer algo, porque ainda consigo escutar seus passos lentos indo até a escada. Ou se fico aqui mesmo, do jeito que estou, olhando o céu e pensando nos beijos de agora mesmo. Dos beijos que eu estive a querer há algum tempo. E agora que o tenho, o que sou? O que virá a seguir?

Eu volto para a cozinha, lavo o copo, lavo meu canudo, fico no escuro por um tempo, olhando as sombras dos móveis. Enfim, eu subo de volta para o meu quarto. A porta da sacada está escancarada e, sentado à cama, observo as folhas remexerem-se com a agonia do vento, e encaro a escuridão do mar mais ao longe. Minhas pálpebras cansadas querem trégua, mas não sei se eu estou tão seguro assim em dormir. Sinto-me livre. Mas a liberdade é tão desconhecida e medonha, que fico acanhado. Realmente, foi só um beijo. Muitos. Mas foram só isso. E eu fico aliviado pela casualidade. Não foi nada.

Eu nem percebo que deito sem querer e durmo do nada. Então acordo mais cedo do que pensava que iria acordar. Mas não tão cedo quanto eu deveria, se fosse sair hoje. Doyoung e as meninas já estão de saída. A Hanee, uma das amigas de Minyoung, me entrega uma cartela de remédios e diz que são analgésicos que ela achou dentre suas coisas e acha que pode ajudar na dor de Taeyong. E isso me faz lembrar que talvez eu tenha relaxante muscular, porque pensei em trazer por conta da possível dor que sentirei quando estiver turistando.

— Acorda, Taeyong — eu abro a porta do quarto em que Jaehyun disse que ele está, depois entro. Taeyong está basicamente morto, jogado na cama, com as cortinas fechadas e a cara enterrada no travesseiro. Agora eu sei que a morte vem. — Acorda, Edward Cullen!

thé et fleurs༶✎༶tae. tenWhere stories live. Discover now