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Isabelly

Eu estava completamente assustada, o tempo se passava e eu só ficava mais preocupada. Não fazia ideia do que o Vicente queria fazer comigo e nem quando eu conseguiria sair daqui. Essa incerteza me mata..

Meus pensamentos foram interrompidos quando ele entrou pela porta velha.

- Sentiu saudades, gata? — ele sorriu e passou o polegar na minha bochecha.

- Vicente.. o que você quer comigo?

- Esse seu vitimismo me estressa, Isabelly! — ele levantou a mão e eu fechei os olhos, mas ele saiu.

Não sei a quanto tempo eu estou sem comer, mas a minha barriga já começou a reclamar. Não sei para onde Vicente foi, e nem imagino o que ele pretende fazer comigo.

Acabei adormecendo sentada, e acordei com o pescoço doendo horrores. Consegui ouvir barulhos de portas sendo arrombadas lá em cima, que diabos está acontecendo?

- SOCORRO! — gritei. - EU ESTOU AQUI! — gritei novamente, mas sem sucesso.

A porta foi aberta e por alguns segundos eu sorri, pensando ser alguém vindo me buscar.

Logo o cenário se transformou e eu estava em uma espécie de jardim. Não entendi bem como vim parar aqui, mas o lugar é lindo. Havia uma mulher sentada penteando os cabelos, mas quando eu me aproximei, eu percebi ser a minha avó, e mais, a minha falecida avó.

- Vó? — ela se virou para mim e sorriu.

- Minha menina.. — ela me abraçou e eu pude sentir toda a fome e todo o medo ir embora.

- Eu morri? Vó.. não entendo.

- Nenhuma tempestade dura para sempre, meu amor.

- Vó! Eu estava com o Vicente, o que quer dizer com isso? — eu respondi e caiu minha ficha que tudo se passava de um sonho, quando minha avó começou a desaparecer lentamente, mas antes, ouvi ela dizer;

- Acorde! Isa, vieram te buscar.

E então a minha avó sumiu, eu me sentia uma adolescente, chorando tanto quanto no enterro dela aos meus quinze anos. Eu fechei os olhos para tentar sentir ela novamente, mas quando abri, eu me assustei com o barulho da porta. Não, não era o meu salvador, pelo contrário, era o Vicente.

- Bora! Levanta daí, porra! — ele começou a tirar as correntes e me puxou de uma forma brusca.

- Vicente! O que diabos tá acontecendo?

- Fica caladinha, é melhor pra você.

Nós saímos da salinha, e era noite. A casa era completamente abandonada, só haviam destroços, a única coisa que estava inteira era o lugar onde eu estava, mas aparentava que estávamos saindo pelos fundos, Vicente parecia nervoso e quando percebi, haviam diversas sirenes piscando, era a polícia.

Vicente se assustou e me pegou pelo pescoço, como num "mata leão" e colocou a arma na minha cabeça. Ele andou calculadamente e lentamente comigo, eu tive a visão dos policiais, do meu pai, e do Samuca.. tudo que eu queria era correr até eles dois.

- Qualquer movimento eu atiro! E vocês podem ter certeza que eu atiro.

- Vicente.. você conhece nossa família, estamos sofrendo.. — meu pai se opôs a falar e se aproximou lentamente, os policiais tentaram impedir, mas ele negou.

- Osmar, osmar.. é melhor você sair daí, sogrinho. — o Vicente riu como um maluco.

- Solta essa arma, Vicente.. sabe que a gente pode resolver sem burocracias.

- É? E eu ganho o quê em troca? Vou apodrecer em uma prisão?

- Claro que não.. nós podemos fazer o acordo que você quiser.

- Ah, é? — ele pareceu pensativo e andou lentamente, ainda me segurando, mas pelo visto, ele ia abaixar a arma.

Foi quando o Vicente passou a perna em todos nós que estávamos ali, no momento que ele abaixou a arma e os policiais se moveram, ele em um movimento rápido atirou no meu pai, um tiro certeiro no peito.

Meu coração parou por um segundo, quando eu vi meu pai cair, tirei forças que eu não reconhecia e me soltei do mesmo, indo ao encontro do meu pai. Vicente ficou em choque e se rendeu, os policiais os pegaram e imediatamente a ambulância foi chamada.

- Pai.. não! Pai! Não me deixa, olha pra mim. — eu coloquei sua cabeça em meu colo e ele começou a cuspir sangue.

- Mi..nha menina.. eu.. amo.. todos. — foi a última coisa que eu ouvi do meu pai.

Ele fechou os olhos, ali, no meu colo, e eu senti seu coração parar junto. Samuel correu e me abraçou, ele quis segurar o meu mundo que estava desabando, mas não tinha nada que amenizasse aquilo. Eu nem consegui olhar para o Vicente na viatura, quando os paramédicos chegaram eu ainda estava abraçada ao corpo do meu pai. Eu senti os olhares dos paramédicos, sabendo que ele não estava mais entre nós.

[...]

A minha mãe não conseguia se segurar em pé, e ver o corpo do meu pai naquele caixão, antes de descer e ali acabar tudo, a sete palmos do chão. A cena se repetiu na minha memória quando subi ao palanque. Samuel estava a todo tempo do meu lado, e minha mão tremia enquanto segurava o microfone. Eu não tive cabeça pra nada, nem mesmo para escrever um discurso, eu respirei fundo, e comecei a falar.

- Pai.. não importa o quanto eu tente encontrar palavras para te descrever, é impossível. Você foi um homem incrível, no qual eu sempre me senti honrada em ter como pai. Eu nunca vou me perdoar por não ter te escutado, por não ter passado mais tempo contigo. Você sempre foi o meu herói, foi quem esteve comigo desde a primeira desilusão amorosa no colegial, até o altar do meu casamento. Todos sempre vão lembrar de você como o melhor esposo, o melhor pai, e o melhor avô do mundo.. eu sinto muito, pai, eu sinto muito pelas vezes que eu não te escutei, que eu fui além da sua palavra. Eu não sei como eu vou viver de agora em diante, sem ter você com as suas piadas toscas nos nossos Natais, sem a sua seriedade de quando voltava do trabalho.. e do seu bom coração. Ah.. pai, todos nós aqui sabemos o quão imenso era o seu coração, o quanto você sempre pensava nos outros antes mesmo de pensar em você. Eu prometo, que de onde você estiver, eu vou continuar te orgulhando, que eu vou brincar com os seus netos como você brincava, fazendo as suas palhaçadas. Eu vou realizar tudo aquilo que você queria.. de fazer doações pelas ruas até ver a vista do Grand Canyon de um helicóptero.. você sempre disse para nós: "quando eu me for, quero que minhas cinzas sejam jogadas em cima de um mar brasileiro, para que eu possa voar como um pássaro e espalhar o amor por aí". Pode ter certeza, pai, que nós vamos espalhar você por todo o litoral brasileiro, e você vai, como sempre falou, voar como um pássaro.

Meu Melhor Erro II Where stories live. Discover now