26.2

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Sabe quando você pergunta uma coisa para alguém e cada segundo em que ela passa sem te responder, parece uma eternidade?

Pois bem, é exatamente isso que estou sentindo nesse momento.

Depois que finalmente consegui pronunciar aquela pergunta em voz alta, algo mudou na minha mãe, é como se eu tivesse batido com um taco de basebol na cabeça dela e tivesse quebrado parte de seu crânio.

Uma mulher tão decidida como ela sempre tem uma resposta na ponta da língua, mas dessa vez não, hoje ela não tem.

-E-eu não entendi. -Falou mais confusa do que eu jamais tinha visto em toda a minha vida. Seus olhos estavam perdidos, encarando qualquer ponto na sala que não fosse o meu rosto. -Por quê você acha que não te amo?

Como ela consegue ser tão descarada? Não acho que ela não me ame, eu tenho certeza disso! Tenho certeza por causa de suas ações, por todas as vezes que ela me ignorou, por todos os momentos que ela não esteve quando precisei... Se ela me amasse teria demonstrado isso, e não me largado a própria sorte.

-Por quê eu acho que você não me ama? -Pergunto retoricamente, deixando claro minha indignação com a pergunta. -Talvez seja porquê você não estava lá quando eu aprendi a dirigir. Ou talvez porquê nós nunca tivemos um único momento sequer de mãe e filho... Ah, também pode ser porquê você nunca se importou comigo!

Falei tudo com o tom de voz um pouco alterado, mas a loira na minha frente nem sequer tentou me interromper, ela apenas abaixou a cabeça e passou a brincar com os próprios dedos em cima da mesa.

-Por Deus, depois de todos esses anos você não tem nem mesmo a capacidade de tentar se justificar? -Prossigo fazendo sinal negativo com a cabeça. -Fala comigo Caroline, me explica porquê você não me trata como seu filho caramba! -Ela permanece calada, e o silêncio que continua sendo a única coisa que recebo dela me faz repensar sobre a minha vinda até aqui. Como eu achei que conseguiria resolver tudo com ela na base da conversa? -Quer saber? Não importa, você ainda é a mesma mulher egoísta de sempre.

Falo com completo desdém e me viro para andar até a porta, decidido a sair daquela sala e nunca mais voltar. Como ela pode ser tão mesquinha assim? Além de me negar a maternidade também me nega explicações?

Mas foi aí que tudo mudou. Sem que eu estivesse esperando, a mulher que me trouxe ao mundo finalmente se pronunciou fazendo com que eu me virasse para ela outra vez.

-Você tem razão, eu fiz todas essas coisas e provavelmente também fiz mais. -Dessa vez ela estava de pé e sua voz estava trêmula, mas não me importei o suficiente para me certificar se ela estava chorando. -Eu sei que fui uma péssima mãe para você e para Arielle e não tem um único dia na minha vida que eu não me arrependa disso, mas não posso voltar atrás e mudar o que já está feito, então o que você quer que eu faça? Quer que eu peça desculpas?

-"Desculpas"?? -Repito com incredulidade sentindo a raiva começar a me consumir por completo. -É, você devia me pedir desculpas mesmo, devia se ajoelhar e implorar pelo meu perdão! -A essa altura eu já estava completamente alterado e meu tom de voz já era alto o suficiente para que qualquer pessoa do lado de fora da sala pudesse me ouvir. -Tudo que aconteceu de ruim comigo poderia ter sido evitado se você estivesse lá para mim! Eu precisava de você, precisava que você me dissesse que eu valia a pena e que todos que diziam o contrário estavam errados...

Aos poucos o meu tom de voz foi abaixando e a raiva foi perdendo lugar para o rancor e a mágoa. Tudo o que eu precisava naquele momento era botar tudo que estava engasgado na minha garganta durante toda minha vida.

-Você devia ter brigado com meu pai quando ele decidiu me abandonar, mas ao invés disso você foi embora também, você me abandonou como todo mundo sempre fez! Eu precisava de um abraço e tudo o que recebi foi o seu desprezo! Você devia me amar, mas ao invés disso tudo o que você fez foi me quebrar como ninguém jamais conseguiu. Então sim, você me deve desculpas, mas não é isso que quero de você. -Pela primeira vez nossos olhos se encontraram, e para a surpresa dos dois, ambos estavam lacrimejando. -Eu só quero que você me responda com sinceridade... -Sussurrei unindo todas as minhas forças para fazer a próxima pergunta, porquê talvez eu não estivesse preparado para escutar a resposta. -Por quê não mereço o seu amor?

Meu colega de quarto.Where stories live. Discover now