Capítulo 39 - I Love You

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Ao abrir a porta de casa, deparei-me com a imagem de meus pais abraçados no sofá da sala, assistindo algum filme na TV. O amor daqueles dois um pelo outro e pela nossa família me inspirava, e me fazia querer ser como eles um dia.

Me aproximei lentamente, e ambos sorriram ao notarem minha presença, acenando para que eu me juntasse a eles.

- Filha! Como foi a gravação? - Ouvi meu pai perguntar, e recebi um carinho reconfortante nos cabelos.

- Foi tudo tranquilo, pai. Como pode ver, nós até terminamos cedo.

- Por que não convidou Lauren para almoçar conosco? - O questionamento de minha mãe me fez rir, e negar com a cabeça.

Se ao menos ela soubesse de metade do que havia acontecido...

- Ela tinha coisas pra fazer, mãe. - Me limitei a dizer.

Após um diálogo breve sobre as novidades e acontecimentos de nossos dias, os deixei a sós novamente, e tomei meu rumo em direção ao meu quarto. Avistar Sofia sentada sobre a cama não foi uma surpresa, ela parecia passar mais tempo lá do que eu. Minha real surpresa foi sua postura contida e reservada, sem provocações ou perguntas intermináveis, como costumava ser.

- Certo, o que houve? - Questionei, sentada ao lado dela. Sofia deu de ombros.

- Como assim?

- Na última vez em que a vi tão calada assim, você estava doente. - Minha irmã suspirou e olhou na minha direção, como se desistisse de fingir que nada estava acontecendo.

- Promete que não vai surtar?

- Depende. Não posso prometer algo assim. - Fui sincera.

- Mila!

- Diga logo, está me assustando.

- Supondo que eu tenha sido pedida em namoro...

- Ah, era só isso? - Voltei a respirar aliviada. - Escute, há várias formas de dispensar alguém. Você pode dizer que está focada nos estudos, ou que gosta de outra pessoa.

- Camila, eu já aceitei.

- O que?! Por que? - Exclamei, incrédula, e minha irmã fez um sinal para que eu falasse mais baixo.

- Porque eu gosto dele, ué!

- Você não sabe o que diz, é nova demais para entender esse tipo de coisa. - Cruzei os braços.

- Eu tenho 15 anos, e não 5, Mila. Ficarei bem. Não vim pedir sua permissão, vim compartilhar isso porque para mim era importante que você soubesse.

- A mamãe e o papai já estão sabendo disso?

- Ainda não, quero que esteja comigo quando eu for contar. Pior do que o seu ciúme, só o do papai mesmo.

Fui incapaz de conter minhas risadas, sabendo que era verdade. Meu pai demorou a aceitar a presença de Shawn, mesmo quando ainda éramos apenas amigos. Com o tempo, as implicâncias diminuíram, e o carinho por ele só aumentou. O que me fazia pensar no quão difícil seria contar a minha mãe e ele, caso nosso relacionamento, de fato, chegasse ao fim. Ou contar que eu estava apaixonada por outra pessoa. Uma mulher, sobre a qual as pessoas especulavam há anos.

Ao contrário de Sofia, eu tinha a independência a meu favor, mas nada tornaria fácil não ter mais o colo da minha mãe ou do meu pai à minha espera quando algo desse errado. Eles sempre foram meu porto seguro, as pessoas mais importantes da minha vida, e era difícil prever como iriam reagir. Ainda assim, decidi mandar aqueles pensamentos para longe. Sofrer por antecipação definitivamente não me ajudaria em nada.

- Claro, estarei ao seu lado. Mas se esse moleque sequer pensar em machucá-la, seja como for...

- Ele não vai. E, por favor, não apavore o garoto.

- Eu vou me esforçar, prometo. - A envolvi em um abraço aconchegante, reconhecendo o quão assustador era notar que minha irmãzinha não era mais uma criança.

Ela aos poucos se tornava uma mulher belíssima, inteligente e de bom coração, que eu me sentia grata e orgulhosa por ter ao meu lado.

--♡--

- É melhor voltarmos, não estou me sentindo muito bem. - Falei, nervosa, mas Paul, meu motorista, negou com a cabeça.

- Negativo, não vamos voltar.

Apoiei o peso do meu corpo sobre o estofado do banco de trás, sentindo a ansiedade me consumir, totalmente arrependida de ter iniciado aquele trajeto.

- Acho que estou passando mal. Não vai querer que eu desmaie aqui, vai? -  Apoiei a mão sobre o peito, dramatizando um pouco mais do que deveria, mas isso não pareceu comovê-lo.

- A senhorita só está nervosa. Pode tomar um pouco da água gelada que está aí atrás, certamente irá ajudar.

- Sabe que sou sua chefe, não é? Precisa fazer o que estou pedindo! - Eu já começava a entrar em pânico, mas Paul permanecia tranquilo, como de costume.

- Por isso mesmo. A senhorita me instruiu, antes de sairmos, a não deixar que mudasse de ideia, não importa o que dissesse. Logo, estou apenas obedecendo suas ordens.

Deixei escapar um longo suspiro, desistindo de argumentar, e odiando a mim mesma por aquilo. Por outro lado, talvez fosse o melhor a se fazer. Eu precisaria ter um pouco de coragem e ir em frente com o que planejava, ao menos uma vez na vida. Após quase um dia todo passado em estúdio, tirando o atraso de tantas semanas afastada do trabalho, meu destino era um lugar em que eu não colocava os pés há mais tempo do que deveria: o apartamento de Shawn.

- Chegamos. A senhorita já pode descer agora.

Com as pernas trêmulas, caminhei na direção do prédio, tentando não pensar demais no que fazia. Era quase impossível. Eu me sentia aterrorizada, não sabia bem como ir em frente, mas fraquejar naquele momento estava fora de questão. Quando me dei conta, eu encarava a entrada do apartamento, tentando encontrar um resquício de coragem para tocar a campainha. Meu tempo se esgotou, e levei um susto quando a porta se abriu de repente.

- Oi, amor, entre. Quando o porteiro avisou que você estava aqui, eu quase não acreditei, fiquei tão feliz...

Aceitei o convite para entrar, incapaz de dizer uma palavra. Sentei-me no grande sofá da sala, sentindo minhas mãos suarem, conforme os passos de Shawn se aproximavam. Minha ansiedade era crescente, mas eu sabia que deveria ir em frente. Por mim, e por ele.

- É muito bom que esteja aqui. - Ele voltou a falar, diante do meu silêncio. - Fiquei confuso quando você saiu correndo naquele dia, e então não atendeu mais as minhas ligações, e nem respondeu minhas mensagens. Sinto muito mesmo se fiz algo que a desagradou, ou apressei as coisas de alguma forma, nunca foi minha intenção. Tenho tentado respeitar seu espaço, mas é difícil, sinto a sua falta...

Senti meu coração doer ao ouvir aquilo. No fundo, eu também sentia falta dele, de como as coisas eram antes de toda aquela confusão. Por isso vivia adiando o inadiável, por saber que, uma vez feito, nada nunca mais seria igual.

- Você não fez nada de errado. Foi incrível, como sempre, eu amei tudo. O lugar, as músicas, a decoração... por favor, me perdoe por ter saído daquela maneira, e sumido por tanto tempo. Não foi certo e nem justo com você, mas eu estava com medo. Ainda estou, na verdade.

- Então me conte o que está acontecendo, por favor... - Ele segurou uma das minhas mãos, e fixou os olhos castanhos nos meus, praticamente implorando por respostas.

Respirei fundo, pensando em qual seria a melhor forma de se fazer o pior. Não parecia haver uma.

- Depois do que eu vou dizer... vou entender se você me odiar.

- Eu nunca poderia te odiar. Eu amo você, Camila.

- Eu também te amo, Shawn. E é por isso que não posso continuar sendo injusta com você. - Senti um nó se formar em minha garganta, e pisquei para afastar as lágrimas que insistiam em tomar meus olhos. - Eu quero terminar.

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Shadows - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora