El Mismo Aire

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Quando tinha quinze anos de idade, Estella ficou obcecada pelo efeito borboleta

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Quando tinha quinze anos de idade, Estella ficou obcecada pelo efeito borboleta.

Não o filme, apesar da sua quedinha juvenil por Ashton Kutcher quando o assistiu na companhia de Carlos, Blanca e Ana. Mas sim a teoria, proposta por Lorenz, que dizia que "o simples bater de asas de uma borboleta no Brasil pode ocasionar um tornado no Texas".

Os estudos do meteorologista eram maiores que isso e a madrilena tinha dedicado muito do seu tempo para lê-los um por um. Entendia aquela frase como uma metáfora para comportamentos de sistemas caóticos, onde pequenas modificações — como um bater de asas de uma borboleta — resultavam em grandes eventos. Foi a partir daquela descoberta que ela colocou na cabeça que queria ser cientista quando crescesse. Ou lepidopterologista — quem estuda borboletas —, apesar de não saber que existia um nome para isso na época.

Estella não se tornou cientista, muito menos dedicou sua vida ao estudo das borboletas. Mas tatuou uma em suas costas para lembrá-la todos os dias que tudo estava conectado. Borboletas conseguem influir nas condições atmosféricas com um bater de asas. Um impulso nervoso emitido por um neurônio é capaz de atingir outros trinta adjacentes. Uma viagem para Mallorca foi capaz de mudar toda sua vida.

— Não acha, querida?

Estella voltou a atenção para a mesa, disfarçando sua dispersão com um grande gole na taça de vinho branco que bebia. As outras três pessoas presentes olhavam para ela, esperando por uma resposta de uma pergunta que ela nem tinha se dado o trabalho de escutar.

Sabia que Raia Muniez odiaria sua falta de atenção então olhou para Ana, sentada ao seu lado, buscando por qualquer dica do que deveria responder. Seus olhos praticamente suplicavam um pedido de socorro e as duas eram amigas por tempo o suficiente para se comunicarem dessa maneira.

— O setor imobiliário de Madrid agora? Um inferno — Ana se apressou para falar, com a naturalidade de quem não tinha uma segunda intenção em acabar com aquela conversa. Estella ficou ainda mais confusa, estreitando as sobrancelhas em direção a ela. — Se eu fosse vocês, esperaria por mais uns meses.

— Eu acabei de falar a sua mãe que tenho insistido para a gente procurar um apartamento — Enrique retrucou por ela, levando o copo de whisky a boca. Estava na cara que tinha notado que Estella não estava prestando atenção e a forma que suas sobrancelhas estavam posicionadas diziam que ele não estava nem um pouco satisfeito. — E que você continua a remarcar todas as visitas que eu programo.

Estella levou o olhar até Enrique, sentado na sua frente. Era uma das coisas que a incomodava nele: sempre sentava-se na sua frente, não ao seu lado. Parecia a coisa mais boba do mundo — e talvez fosse — mas odiava aquela mania de Enrique desde que se conheciam. No auge do romantismo — os primeiros três meses de namoro — queria entrelaçar seus os dedos com os dele por baixo da mesa e fazer carinho por trás do seu cabelo. Enrique, porém, achava que aquilo tudo era uma bobice. 'É só um jantar, querida. Não tem lugar certo ou errado para eu me sentar'.

Paralaje Estelar | Carlos SainzWhere stories live. Discover now