Rojo

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— Está todo mundo aí?

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— Está todo mundo aí?

A pergunta quase não fora ouvida dentro da casa barulhenta e agitada. Dois cachorros corriam pela grama, Reyes ainda chorava — muito —, Carlos bebia uma cerveja animadamente enquanto cantarolava a música que tocava nos autofalantes enquanto Ana equilibrava o celular em uma mão, na tentativa de dar uma visão panorâmica da grande família ao homem do outro lado, que dividia a imagem na tela.

Só faltava Carlos Sainz Jr. naquela bagunça em Madrid. Blanca e o marido ainda olhavam extasiados para a televisão, revendo em um canal espanhol o momento exato que seu irmão do meio tinha levantado o troféu de segundo lugar, Tonio acenava animado no canto da tela para o cunhado e Estella, tentando se tornar invisível sentada no outro lado de Ana, fugia da câmera do celular de última geração.

Todo mundo — a irmã mais nova respondeu, mostrando rapidamente Estella sentada ao seu lado, com os olhos fixos na tela e o nariz vermelho típico de choro. — Estella está aqui também. Não conseguiu manter a bunda no sofá nas últimas voltas. Você nos deve um calmante, cabron.

Carlos riu. Essa era a resposta que queria ouvir quando fez a pergunta. Sabia que suas irmãs, seus pais e seus cunhados se apertavam no sofá da sala em Madrid para assistir sua corrida naquele domingo, como faziam em todos os outros. Queria saber se Estella tinha se juntado a eles naquele dia para assisti-lo cruzar a bandeira quadriculada de Monza em segundo lugar, depois de uma qualificação boa em P3 e uma corrida agitada.

Não que os dois não estivessem se falando depois de sua visita em Madrid. As quase duas semanas que tinham se passado depois dele ter pego um avião para sua próxima corrida foram lotada de mensagens trocadas e ligações recebidas de surpresa.

Passaram a última noite que estiveram juntos praticamente em claro. Estella tinha muito o que falar e Carlos queria escutar tudo. O celular dela vibrava sem parar, mostrando mensagens e ligações de Enrique e sua mãe que seriam ignoradas até segunda ordem. Ela estava ocupada. Tinha tomado a decisão da sua vida, não queria ouvir nada que pudesse puxá-la de volta.

A despedida pela manhã foi estranha. Beijaram-se como que fosse a última vez, mesmo sabendo que não era. Não iriam sumir da vida um do outro por meses, como faziam antes. Carlos teria alguém para mandar mensagens quando o avião pousasse e Estella iria respondê-las uma por uma.

Ele ainda estava tentando se acostumar com a ansiedade que explodia em seu peito todo dia que chegava no hotel na espera de receber uma ligação dela. Era estranho, era novo, mas também era um dos melhores sentimentos que Carlos tinha experimentado em sua vida. Imaginou que isso queria dizer alguma coisa.

— Oi Estrellita — Carlos cumprimentou no momento que Ana voltou a deixar que a câmera focasse na mulher que estava ao seu lado, sorrindo em sua direção. — Bien?

Respondeu com um aceno, ignorando toda sua vontade de xingá-lo naquele momento. A decisão que eles tinham feito, até aquele dia, era um segredo. Ana sabia — porque não havia como esconder aquilo da mais nova —, mas só. Entre mensagens e ligações escolheram esperar mais um pouco para tornar a relação — ainda era difícil aceitar que depois de anos agora aquilo definitivamente era uma relação — de conhecimento público da família.

Paralaje Estelar | Carlos SainzWhere stories live. Discover now