lovin kind

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Madre mia, você vai ficar só olhando? — a voz conhecida só serviu para irritar ainda mais Carlos.

Se Ana Sainz soubesse o quão irritado seu irmão do meio estava naquele momento, não insistiria nas piadas. Podia respondê-la, mas fez uma das suas pouquíssimas boas escolhas na vida e ficou em silêncio. No seu estado — puto e levemente alcoolizado — as coisas que falava não costumavam ser muito bem pensadas. Magoaria a irmã mais nova só porque ela tinha tocado em um ponto delicado.

Ana não mentia. Desde que tinha chegado naquela boate apertada e calorenta, o piloto não tinha tirado os olhos de Estella.

Não se viam desde os primeiros dias do ano, quando estiveram juntos em Mallorca. Aquela fatídica madrugada infernal que o castigava em todas as noites que passava em claro, uma forma dos seus pensamentos o punirem por tê-la deixado ir embora do seu quarto sem ter coragem de dizer nada.

Se soubesse que fingir que estava dormindo tiraria toda sua saúde mental nos meses que se seguiram quando Estella tentou acordá-lo pela manhã, não teria feito isso. Na hora, achou que essa era a sua única opção. Não achou que podia encará-la naquela manhã, não depois da última noite que tiveram.

Sumiu da sua vida pelos próximos meses. Não fora tão difícil, começava seu contrato de três anos na Toro Rosso e passou boa parte do tempo viajando entre um país e outro, voltando cada vez com menos frequência para Madrid. Toda vez que estava lá, buscava outras distrações.

Estella tampouco o procurou. Não estava na sua casa quando ele voltava para a Espanha, nem aparecia nos jantares de família que Reyes insistia para que Ana a convidasse. O convite sempre era feito, mas a convidada sempre estava ocupada. Quase como se houvesse um motivo por trás disso.

Aquela noite em questão, Carlos não conseguiu se manter distante. Não se contentou em ficar em casa quando Ana anunciou que tinha planos para a noite com Estella, em uma boate da cidade. Não naquela noite.

Não no aniversário de Estella Muniez.

— Ela ainda nem sabe que você está aqui — Ana anunciou ao perceber que o irmão ia continuar calado, guardando seu tom irônico dessa vez. — Você deveria ao menos desejar parabéns.

Carlos deu mais um gole no whisky forte que bebia. Odiava whisky, mas o gosto amargo parecia a escolha certa para a noite. Não queria cerveja. Fugiria da vodka. Tequila só teria graça se ele tivesse companhia, e era um dos poucos que estava sozinho. Champagne o lembraria Estella.

Não que ele precisasse da sua língua para lembrá-la dela. Pensava em cada segundo que estava longe naquela noite e ali — a poucos passos de onde ela se divertia com as amigas com uma tiara brilhante de plástico no topo dos cabelos e um vestido branco que acentuava suas curvas — ele não precisava de muito para que suas memórias estivessem em sua pele.

— Eu nem liguei pra ela — murmurou baixo, sem desviar o olhar de Estella. — Depois de tudo. Nos despedimos em Mallorca como sempre e depois...

— Eu sei, cabrón — o interrompeu, arqueando as sobrancelhas antes de suspirar fundo. Era óbvio que ela sabia, era a melhor amiga de Estella. Aproveitou a abertura que seu irmão tinha dado para continuar. — O que foi estúpido, se você quer a minha opinião. O fato de que você continua pensando nisso e que ela evita até hoje ver até sua sombra diz muito sobre o que vocês estão fazendo um com o outro.

Achava estranho conversar sobre aquele assunto com Ana. Blanca seria a opção mais óbvia, como sua irmã mais velha e com mais experiência, mas sua relação com Ana sempre fora mais aberta naquelas questões. Não por escolha, a mais nova só era curiosa demais e desvendava todos os segredos do piloto antes que ele sequer tentasse escondê-los.

Paralaje Estelar | Carlos SainzWhere stories live. Discover now