Capítulo 3

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Noah observa pela porta silenciosamente seu novo parceiro de quarto traçar seus dedos por todo e qualquer material sólido que se possa ser tocado.

Josh, por mais retraído e tímido, é altamente curioso. Gosta de conhecer 100% cada detalhe do espaço que se encontra ao seu redor. Talvez seja sue próprio modo de ver sem necessitar dos olhos. Afinal, não ver não foi sua escolha. Cabe a ele se adaptar do seu modo.

Noah se sente como um perseguidor obcecado, apenas observando tudo o que Josh faz. Ele ama testemunhar como Josh vê a vida. Como seu tato são seus olhos. Como ele não parece necessitar de enxergar a luz para poder tocá-la.

Josh é forte.

E Noah admira tanto... tanto... tanto isso.

Todos neste orfanato de crianças especiais têm sua própria história de vida. Umas são piores que outras, mas não diminui o fato de que todas foram superadas com força e bravura. Não importa se o problema é grande demais para uns, e não é nada demais para outros, seu próprio problema sempre será pesado demais para carregá-lo. Não importa a imensidão disso.

Noah não se acha forte, mas ele se acha um vencedor, ele superou seu problema. Ele superou o fato de que não pode falar e que tudo o que pode transmitir é o silêncio.

Um baque o faz voltar de seu devaneio e ele busca com os olhos a fonte do som inesperado.

- Desculpa. Não sabia que havia uma cômoda aqui – Josh cora enquanto caminha de volta. Noah franze a testa e se aproxima do menino mais baixo lhe perguntando através do código Morse.

- Como sabia que eu estava aqui?

Josh esbanja um sorriso que faz bagunçar os pensamentos de Noah. Ele não sabe se gosta da sensação, ou se ama isso.

- Você não é tão silencioso quanto parece. Além do mais, minha audição é... digamos que amplificada. Isso foi se aperfeiçoando com o tempo. Você não acredita nas coisas que já tive o desprazer de ouvir – Josh brinca e Noah sorri.

Ele ama como Josh parece se deixar relaxar quando está com Noah. Como ele se solta e confia. Noah se sente privilegiado. Afinal Josh não é assim com mais ninguém.

- Não sei se invejo você.

Agora foi a vez de Noah brincar. Ambos sorriem. Noah segura o cotovelo de Josh e o guia para fora do quarto, mas não antes de pontuar.

- Quero que conheça um lugar.

Eles atravessam o longo corredor em direção para fora do orfanato. Josh não parece temeroso, pelo contrário, ele está risonho e ansioso.

Assim que chegam fora, o cheiro de flores entope seus narizes. O lugar é o preferido de Noah. Um grande jardim nos fundos do orfanato, contendo diversificadas flores de todas as cores e formas. Noah ama se sentar no meio delas e relaxar.

Esse também é o lugar para o qual Noah corre e se deixa chorar quando percebe que a sua vida será sempre assim.

Sem voz. Sem mãe. Sem família.

Por mais que ele tenha aceitado há muito tempo a sua realidade, às vezes isso lhe vem como uma onda e o derruba, lhe lembrando que ele tem um defeito, que não necessariamente o torna diferente, mas também não lhe torna igual a todo o resto do mundo.

Um sorriso se forma nos lábios de Josh quando saem, e Noah sempre considera uma vitória quando vê esse sorriso surgir. Ele ama ver um Josh descontraído, diferente do seu eu quieto e tão calado quanto Noah.

Entre o Silêncio e a Escuridão • Adaptação NoshWhere stories live. Discover now