Capítulo 1

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Raissa não tinha outra opção, a não ser obedecer Marta e ir para Riacho Azul. A velha caminhonete prata já deveria estar à uns trezentos quilômetros de distância da capital quando entrou em uma estrada de terra. Conforme a estrada empoeirada ficava para trás, ela ia se lembrando de sua infância, sua adolescência e o início de sua juventude que foram passados ali. Ela amava ver seus primos e tios distantes, comer a delícias de milho que só sua avó sabia preparar, da família reunida para um almoço caseiro, das idas ao riacho e na igreja aos domingos de manhã. Mas tudo fora substituído por seu trabalho, sua falta de tempo fez com que ela perdesse tudo aquilo, tudo o que ela tinha feito era para conseguir dar uma vida melhor para sua mãe e se realizar profissionalmente. Mas no fim o que conseguiu foi uma carta de demissão e uma saúde fragilizada. Ela se sentia quebrada e inútil.

Saiu de seus devaneios ao ver sua mãe parar a caminhonete de frente a gigante placa de madeira gasta escrito Riacho Azul, e descer para abrir a porteira. Sentiu um frio na barriga, era sua primeira vez ali após seis anos. Mais à frente já podia ver as árvores frutíferas, a casa de madeira vermelha, galinhas andando pelo quintal e ao lado direito a horta de sua avó.

— Chegamos. — disse Marta após um longo suspiro e saiu da caminhonete primeiro. Dona Josielda foi em passos lentos até a filha. — Ah mamãe, que saudades eu estava.— falou abraçando a senhora de cabelos grisalhos.

— Oh meu bem, nem parece que esteve aqui no fim de semana passado. — comentou dando uma gargalhada. — Mas fico feliz que está aqui novamente. E dessa vez conseguiu trazer uma certa mocinha. — falou se referindo a Raissa que permanecia imóvel encostada na caminhonete.

— Venha até aqui filha, sua avó quer te ver. — Raissa se aproximou um pouco acanhada.

— Olhe só como você cresceu, se tornou uma linda mulher. Está se parecendo ainda mais com a sua mãe. — dona Josielda elogiou a neta afagando seus cabelos.

As três mulheres na verdade eram bem parecidas, as três tinham a pele negra, olhos castanhos e cabelos cacheados. O de Marta e Josielda se encontravam acima dos ombros, e os de Raissa na altura das costas com uma coloração acobreada nas pontas.

— Vamos entrar, preparei algumas coisas para que possam comer.

As três caminharam até a entrada da casa, subiram três degraus e chegaram na varanda. Ao entrar na residência, Raissa viu que tudo estava exatamente igual.

— Onde está o vovô? — ela perguntou fazendo a expressões de Josielda e de Marta mudarem no mesmo instante.

— Meu bem, você não se lembra? O vovô faleceu tem 3 anos, mas você não compareceu ao sepultamento por causa do seu trabalho. — disse Marta fazendo Raissa se sentir culpada.

Naquele momento ela percebeu o quão grave a situação era, não havia comparecido no enterro do seu avô e ainda por cima nem se lembrou. Se sentia a pior neta existente.

— Me desculpem.

— Querida, não vamos falar sobre isso. O importante agora é cuidar da sua saúde. — dona Josielda foi até o fogão onde retirou o pano que cobria um prato revelando um bolo de milho que havia acabado de sair do forno. — Eu sei que é o seu preferido. Venha, não se sinta acanhada.

Raissa acatou a ordem de sua avó e foi até o local, Josielda pegou um prato e colocou um pedaço do bolo para a neta. Por um momento se sentiu constrangida, havia falhado tantas vezes com elas e mesmo assim faziam de tudo para cuida-la sem apontar um dedo.

As três passaram uma hora conversando, mas não tocaram no assunto de Raissa, sua saúde e o vício no trabalho pois aquilo tudo era recente e podia acabar ferindo a mulher, que já estava com muitas cicatrizes em seu coração que sangravam a todo momento não à deixando em paz. Mas com todo o carinho das duas, o gelo foi se quebrando aos poucos e em minutos de conversa já estava relembrando sua infância e rindo de suas traquinagens.

De Volta Ao Primeiro Amor - [Concluído]Where stories live. Discover now