Capítulo 4

71 15 5
                                    

Quando Clara e Luciano foram embora, já era noite e Josielda, Pedro e Juliana entraram em casa. Mas Raissa decidiu ficar mais algum tempo na varanda aproveitando o ar, quando Lionel apareceu e se sentou do seu lado.

— É difícil não é? Largar tudo e vir para um lugar distante.

— Na verdade eu acho que isso é a consequência por minhas ações. Não tenho dúvidas que o Senhor permitiu isso para que eu voltasse ao lugar onde tudo se iniciou, onde conheci seu sublime amor e seu cuidado. Se eu estou aqui é para aprender uma lição. — ela respondeu.

— Se você sabe de tudo isso, o que está esperando para voltar?

— É uma coisa complicada, quando você sai dos caminhos do Senhor é difícil voltar, por mais que você queira muito. Parece que algo segura você e não permite que isso aconteça.

— Isso é uma batalha espiritual, o Espírito Santo está aqui para ser nosso consolador, Ele é nosso amigo e também nos convence dos erros. Mas do outro lado está o diabo, ele usa seus pecados para acusá-la e fazer com que não volte mesmo. É a batalha da carne e do espírito.

— Ao mesmo tempo que eu tenho vontade de correr aos braços dele, eu fraquejo por causa das acusações. E acabo me tornando uma covarde, eu sinto falta do primeiro amor, de como eu era feliz, de como eu sentia a presença dele em mim.

— Por favor, não desanime. Nós estamos orando por você e no momento certo acontecerá. Mas tente não dar ouvidos ao inimigo, em vez de pensar em seus pecados pense no seu arrependimento por eles, que o Senhor está com você e seu amor é infinito. Já deve estar tarde, vou voltar para a minha casa. Depois passo aqui para conversarmos mais tempo.

Quando Lionel foi embora, Raissa entrou para tomar um banho e depois iria dormir. Foi para o banheiro e quando terminou, desenrolou a toalha do cabelo para penteá-lo olhando seu reflexo no espelho começou a se lembrar novamente do seu passado sujo, ela estava em uma lama que insistia em grudar e não conseguia sair sozinha. Precisava ser resgatada dali por alguém, e esse alguém era Jesus ela sabia muito bem disso. Mas ao olhar para a pia, viu ali uma lâmina que por muito tempo foi usada para machucar seu corpo após Augusto passar por sua vida. Olhou para seus braços onde estavam ali as cicatrizes, então relembrou todo aquele momento difícil. Onde sua dor era tão grande que machucava o próprio corpo para fazer com que diminuísse. Foi ano mais miserável de sua vida. Raissa segurou-a nas mãos e olhando para ela disse:

— Augusto, aquele miserável! Mesmo depois de tanto tempo ainda se atreve a me assombrar! — falou jogando a lâmina para longe e se sentou no chão, onde chorou lágrimas de amargura e arrependimento.

(…)

No dia seguinte após fazer suas tarefas Raissa foi até o riacho onde se sentou em uma pedra e começou a observar a paisagem em sua frente. O riacho que era dentro de uma gruta, estava rodeado de árvores e vegetações, sua água era tão cristalina e azul que se conseguia ver seu fundo. Pássaros voavam à todo momento, e ela voltou no tempo onde ia ali para conversar com Deus e via naquele lugar o quão perfeito Ele era.

— Deus, será que um dia eu conseguirei voltar? — questionou olhando para o céu que estava completamente azul naquela tarde.

Quando de repente sentiu alguém lhe empurrando e ela caiu com tudo dentro da água. Olhando para cima lá estava Pedro.

— Pelos céus! Você está maluco? E se eu tivesse caído em uma pedra e batido as botas? — perguntou furiosa ao ver suas roupas e sapatos completamente encharcados.

— Não se preocupe Rai, eu conheço esse riacho como a palma das minhas mãos. Não há nenhuma pedra aí, apenas areia. — gritou causando um eco e riu em seguida. — Não se sinta isolada, eu e Ju viemos fazer companhia.

Pedro sumiu de suas vistas e ela saiu da água onde tirou suas botas que estavam pesadas.

— Garoto maluco. — resmungou as virando de ponta a cabeça.

— Onde pensa que está indo? Não vai embora agora, olhe eu trouxe uma roupa de banho para você. Vá se trocar. — disse Juliana lhe entregando um maiô vermelho e um short preto.

— Nem pensar! Eu preciso voltar para casa, tirar essa roupa, lavar e pôr para secar. Preciso dela para amanhã.

— Rai por favor, está parecendo uma velhinha gagá. — falou Pedro. — Só lhe faltam os cabelos brancos e uma bengala. — provocou arrancando a risada das duas mulheres.

— Ok, ok. Vou me trocar e já volto. — Raissa se dirigiu até um pequeno banheiro que havia ali construído por seu avô e trocou suas roupas.

Colocou as molhadas em um canto e foi para onde os primos estavam.

— O que acham de fazer como nos velhos tempos? — sugeriu Pedro assim que chegaram na pedra que Raissa estava antes. — Não me diga que não sabe mais nadar, Rai.

— Isso não é algo que se esquece da noite para o dia. Eu não tive que nadar agora à pouco porque uma certa pessoa me jogou sem dó nem piedade?

— Então o que estamos esperando? — disse Juliana.

— Vamos lá! 1,2,3! — após a contagem de Pedro, os três pularam na água e ficaram ali a tarde toda.

Raissa estava aos poucos recuperando sua verdadeira identidade, deixando sua máscara de lado. Seu próximo passo seria sua redenção, algo que aconteceria muito em breve.

De Volta Ao Primeiro Amor - [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora