Lua Cheia

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Desde o momento em que os enfermeiros entraram no Hospital Missão São Pedro, Bianca compreendeu a estupidez que havia cometido. A enfermeira Betty abandonou seu livro e sua guarita para guiar os enfermeiros até a sala de emergência.

Colocaram Rafaella na mesa e saíram.

Enquanto isso, Bianca olhou o relógio da recepção. Era mais de meia-noite quando Betty voltou; já tinha avisado que o interno que não demoraria. Na sala onde estava, Rafaella já não sofria, tinha submergido docemente no limbo de um sonho grandioso. A dor de cabeça cessara, como por encanto. E quando a dor desapareceu, Rafaella, feliz, voltou a ver...

"O roseiral estava lindo. Diante dela, abria-se uma rosa branca, de um tamanho que jamais tinha visto. Olga chegou, cortou a flor cuidadosamente em cima do nó que se formara no talo e a levou ao estacionamento. Ficou na entrada, com Bidu adormecido a seus pés. Arrancou as pétalas, uma a uma e as costurou na jaqueta de tweed, com infinita delicadeza. Era uma ideia magnífica utilizá-las desse modo, para recolocar o bolso que faltava. A porta da casa se abriu e sua mãe desceu os degraus da escadaria. Trazia uma bandeja com café e, biscoitos para o cachorro. Abaixou-se e disse para o animal.

- É para você, Jack.

Por que Olga não corrigiu sua mãe? O cãozinho chamava-se Bidu.

Mas Lili não parava de repetir, cada vez mais forte: , e a senhora Gavassi, repetia, rindo: "Jack, Jack, Jack". As duas mulheres voltaram-se para Rafaella, e, ambas, com um dedo autoritário nos lábios, lhe ordenaram que se calasse. Aquela cumplicidade repentina a irritava. Levantou-se, e o mesmo fez o vento.

A tormenta avançava desde o oceano a toda velocidade. Gotas pesadas martelavam o telhado. As nuvens impregnadas de água que se agrupavam no céu romperam sobre o roseiral. Sob o impacto da chuva formaram-se, ao redor, pequenas crateras. Olga largou a jaqueta e entrou em casa. Bidu a seguiu de imediato, com o rabo entre as pernas, mas no umbral da porta, o animal deu meia volta, latindo como para prevenir sobre um perigo. Rafaella chamou sua mãe. Gritou com todas as forças numa luta contra o vento, que confinava suas palavras no interior de sua garganta. Lili voltou-se, olhou para a filha com o rosto aflito e logo desapareceu, engolida pelas sombras do corredor. Bidu avançou até o primeiro degrau da escada, uivando.

Abaixo, na praia, o oceano desaguava. Rafaella pensou que seria impossível chegar à gruta, ao pé do jardim.

Sem dúvida, era o lugar ideal para se esconder. Olhou para longe, até a baía, e a maresia provocou-lhe uma violenta náusea.

Teve um enjoo e vomitou.

- Minha amiga não está bem, ela precisa de ajuda - disse Bianca com a bacia na mão.

A enfermeira Betty segurava Rafaella pelos ombros para que não caísse da cama.

- O médico já vai vir ou terei que ir buscá-lo com um taco de beisebol? - explodiu Bianca.

Passado algum tempo, Lucas entrou na cabine que Rafaella estava. Leu o histórico e observou que os sinais vitais estavam estáveis. Somente a sonolência era preocupante. Desobedecendo a enfermeira, Bianca entrou no local, quando este saiu da cabine. O plantonista pediu-lhe que fosse esperar no local reservado aos acompanhantes e que só assim conversaria com ela.

Na dúvida entre estrangular o homem ali mesmo ou esperar para saber o diagnóstico, Bianca obedeceu. Satisfeito, o médico assinalou que, de momento, não podia dizer nada. Enviaria Rafaella à radiologia o mais rápido possível. Bianca mencionou o scanner, mas o hospital não tinha o equipamento. Doutor Lucas a tranquilizou: transferiria Rafaella a um centro mais especializado, na manhã seguinte.

E Se Fosse Verdade - GiRafaWo Geschichten leben. Entdecke jetzt