Mil Razões

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Deitada na cama da cela da delegacia, Gizelly se perguntava como, em uma noite, tinha conseguido arruinar suas possibilidades de obter o título de neurocirurgia e perder sete anos de árduo trabalho.

Enquanto isso no hospital Memorial, Thelma desligava o telefone. A conversa com o administrador do hospital São Pedro havia se desenrolado conforme o previsto. Seu colega ordenaria a Gallina que retirasse sua denúncia e ignoraria o roubo da ambulância; esta, por sua vez, não levaria a fundo sua ameaça de fazer intervir uma comissão para que fosse inspecionar seu serviço de Emergência.

Bianca após se recuperar, foi buscar seu carro no estacionamento do hospital S. Pedro, depois parou numa confeitaria, e, partiu rumo a casa de Rafaella.

Estacionou diante do edifício em que morava uma senhora de grande encanto. A noite anterior, ela tinha salvo a vida de sua melhor amiga. A Sra. Gavassi estava passeando com Bidu. Bianca desceu do carro e a convidou para comer uns croissants quentes, enquanto dava notícias tranquilizadoras sobre Rafaella.

(...)

Uma enfermeira entrou sem fazer barulho no quarto de reanimação. Rafaella estava dormindo. Trocou a bolsa que recolhia as últimas secreções do hematoma e comprovou os sinais vitais. Satisfeita, anotou suas conclusões em uma folha e guardou na papelada de Rafaella.

(...)

Dennis bateu na porta da sala. Thelma pegou o braço de seu mais antigo enfermeiro e o levou ao corredor. Era a primeira vez que se permitia um gesto de cumplicidade dentro do recinto hospitalar.

- Tenho uma ideia - disse -. Vamos olhar as ondas e na praia, relaxaremos.

- Você não trabalha hoje?

- Já cumpri minhas obrigações à noite, fico com o dia livre.

- Tenho que informar ao pessoal que vou tirar uma folga.

- Todos já foram avisados.

As portas do elevador se abriram diante deles. Alguns funcionários cumprimentaram a professora que, contrariamente ao que tinha pensado Dennis, não retirou seu braço do dele ao entrar na cabine.

Às dez da manhã, um agente de polícia entrou na cela onde Gizelly havia dormido. O doutor Gallina tinha retirado a denúncia. O Hospital São Pedro não desejava processá-la por "levar" uma de suas ambulâncias.

Um guindaste tinha rebocado o Triumph até o estacionamento da delegacia. Gizelly só teria que pagar a fatura do transporte e estaria livre para voltar para sua casa.

Na calçada, em frente à delegacia, o sol era deslumbrante. Ao seu redor, a cidade parecia ter recobrado vida, e sem motivo, Gizelly se sentia muito só. Subiu no Triumph e continuou seu caminho.

- Poderei fazer-lhe uma visita? - perguntou Olga enquanto acompanhava Bianca ao outro extremo do patamar.

- Acredito que sim.

- Venha aqui mais vezes - disse ela, segurando o braço de Bianca -. Vou preparar uma canja para que você leve para ela amanhã.

Olga tornou a entrar em sua casa, pegou a cópia das chaves do apartamento de Rafaella e foi regar suas plantas. Sentia muitas saudades de sua vizinha. Para sua surpresa, Bianca decidiu acompanhá-la.

Dennis e Thelma estavam deitados na areia. Ela pegou sua mão, enquanto contemplava uma gaivota que voava na praia.

- O que a deixa tão preocupada? - perguntou Dennis.

- Nada - respondeu Thelma.

- Você fará muitas coisas quando sair do hospital: viajará, dará conferências, e além de tudo, tem o seu jardim. Não é isso o que fazem os aposentados?

E Se Fosse Verdade - GiRafaOnde histórias criam vida. Descubra agora