Gizelly atravessou a rua. Quando entrou na avenida, a noite estava se enchendo de nuvens. A chuva fina foi substituída por um temporal de verão. Levantou a cabeça e olhou o céu. Sentou-se num muro e ali permaneceu, sob a chuva.
Quando cessou a chuva, entrou no prédio, subiu as escadas e abriu a porta do seu apartamento.
Tinha os cabelos ensopados, deixou toda a roupa na sala, colocou uma toalha nos cabelos, e vestiu um roupão. Na cozinha, desarrolhou uma garrafa de bordeaux. Serviu-se de um copo grande, foi até o quarto, contemplando a paisagem. Voltou para sala.
Olhou de soslaio para o sofá que lhe abria os braços. Ignorou-o e avançou com passos decidido até a pequena biblioteca. Pegou um livro, deixou-o cair aos seus pés, começou com outro, e dominada por uma cólera, deixou cair todos os livros no chão.
Quando as prateleiras ficaram vazias, empurrou a estante e liberou a janela que se escondia por trás. Logo foi a vez do sofá e, lançando mão de toda sua força, o fez girar noventa graus. Titubeante, recuperou o copo que havia deixado no quarto e se deixou cair em cima do tapete. Rafaella tinha razão: dali a vista dos telhados das casas era esplêndida. Bebeu o vinho quase que de um gole só. A mão de Gizelly, entorpecida pelo sono, se abriu lentamente e o copo vazio rodou até os pés do sofá.
- Levem-na para cirurgia - gritou Flavia para a plantonista.
- Deixe que primeiro suba sua pressão.
- Não temos tempo.
- Diabos, Flavia, eu sou a interna aqui.
- Doutora Tais, eu era enfermeira quando você ainda usava fraldas. E se subirmos sua saturação sanguínea ao mesmo tempo que a levamos para cima?
Flavia empurrou a maca até o corredor e a doutora Tais a seguiu arrastando o carro de reanimação.
As rodas da maca giravam a toda velocidade; as portas do elevador estavam a ponto de fechar-se quando Flavia gritou:
- Esperem! É uma emergência!
Um interno parou os batentes metálicos, Flavia entrou na cabine e a doutora Tais fez girar o carro de reanimação.
Enquanto o elevador subia, quis pegar o celular, que estava no bolso da bata, mas as portas logo se abriram no serviço de Neurologia. Empurrou a maca com toda a força até a cabine situada no outro extremo do corredor. Luiza a esperava na entrada da sala de pré-operatório. Inclinou-se sobre a paciente.
- Redução de um hematoma subdural fulgurante, segunda passada. – Falou Flavia.
- Você avisou Thelma?
- Já deve estar aqui! – Flavia respondeu, abandonando o lugar.
Correu para o corredor e desceu com toda pressa ao andar de Emergência.
O barulho do telefone arrancou Gizelly de seu sonho. Pegou o aparelho com dificuldade.
- Finalmente! - disse a voz de Flavia -. É a terceira vez que te ligo, onde você estava?
- Que horas são?
- Thelma vai me matar se souber que a avisei.
Gizelly se ajeitou no sofá e Flavia lhe explicou que tinha subido para cirurgia a paciente do 307, que ela operara recentemente. O coração de Gizelly começou a bater a mil por hora.
- Mas por que vocês a deixaram sair tão cedo? - perguntou, nervosa.
- Do que você está falando? - interrogou Flavia.
YOU ARE READING
E Se Fosse Verdade - GiRafa
RomanceGizelly é uma médica empenhada, mas tudo muda após envolver-se em um acidente. Seis meses depois, ela se vê no seu apartamento conhecendo alguém que mudaria a sua vida. Adaptação do livro: E se fosse verdade de Marc Levy com o shipp Girafa (Gizelly...