Capítulo XIV

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Fome

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Fome. Era o que Katherine sentia quando conseguiu acordar por completo. Não havia ninguém no quarto naquele momento, nem Alec, nem o senhor curandeiro que cuidara dela. Ela sentou-se na cama, confusa ainda, mas queria levantar-se urgentemente daquela cama. Céus... Parecia que havia dormido por uma eternidade, pensou, quando lembrou as falas do senhor grisalho. Dias, fora o que ele disse quando acordou pela primeira vez, antes de não aguentar seus olhos abertos e fechá-los novamente, voltando a dormir. A cabeça latejava fortemente ainda quando a princesa tentou olhar pela janela.

A jovem sentiu as pernas pesadas, mas com a ajuda das mãos, colou o pé no chão — que estava frio, Katherine recuou, mas voltou-se novamente para o piso de madeira. Ao apoiar os pés, sentiu-as bambas e sem força suficiente para continuar em pé, em seguida escutou-se apenas o baque ao chão. Fora o corpo de Katherine.

Alec entrou rapidamente pela porta, que rangeu ao ser aberta, acompanhado do senhor curandeiro para socorrer a princesa que olhava confusa para as próprias pernas.

— Minhas pernas... O que aconteceu com minhas pernas? — perguntava confusa.

Alec a levantou, apoiando-a em seu ombro e sentando-a novamente enquanto o senhor grisalho pegava suas pernas e a esticava sob a cama.

— Sua alteza real —, reverenciou-a — suas pernas se encontram dormentes, uma paralisia muscular temporária. Quando foi atingida por aquela flecha, o veneno que estava na ponta espalhou-se rapidamente pelo seu corpo, atingindo principalmente suas pernas, mas não se preocupe, em breve voltará a andar normalmente, dê tempo aos seus músculos para que eles se recuperem e seu corpo elimine qualquer traço de veneno que tenha sobrado — respirou. — A propósito, me chamo Gavyn, e diria que teve muita sorte em sobreviver.

— Paralisia? Voltarei a andar em breve, não é? — Katherine o encarava confusa e os seus olhos refletiam medo e angústia. — Digo, meu reino se encontra em tamanha confusão e não posso demorar para me recuperar, eu tenho muito para fazer e descobrir... Eu, eu... — pânico, era como estava. Estava completamente em pânico com a bagunça que tudo se encontrava, aquela era uma péssima hora para continuar deitada, era só o que conseguia pensar.

Uma mão estendeu-lhe um copo de água, então viu Alec com o braço esticado para ela, o olhar de conforto em seu rosto de que ficaria tudo bem. A sua vontade era pedir socorro, mas pediu outra coisa.

— Ajude-me! — foi tudo o que disse. Ele apenas assentiu, iria ajudá-la, afinal, seus propósitos eram similares. A verdade era que naquele momento um precisava do outro para alcançar seus objetivos, e eles sabiam disso.

 A verdade era que naquele momento um precisava do outro para alcançar seus objetivos, e eles sabiam disso

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— Pra onde iremos? — Miriam perguntava ainda apoiada sobre os ombros do capitão.

— Para um lugar longe da vista desses guardas. Precisamos de abrigo e acho que sei onde encontrar — disse o capitão, sempre com confiança em suas palavras, aquela era uma de suas qualidades, sempre otimista, mesmo em situações difíceis e aparentemente sem saída como aquela. — Também precisamos nos hidratar e recuperar as energias, aguente um pouco mais.

Próximo dali ficava um pequeno comércio, cheio de pequenos comerciantes espalhados pela rua com suas mercadorias em suas barracas de madeira e por sorte, Ralph não se esqueceu de seu dinheiro ao trocar de roupa com o guarda, era definitivamente um homem precavido.

— Sente-se aqui, comprarei algo para comer e beber, se continuarmos assim não aguentaremos muito tempo — disse o capitão enquanto ajudava-a a sentar em um dos banquinhos da pequena pracinha que ficava ali próximo. Miriam assentiu, a garganta seca pedia socorro a um bom tempo. Diferente de Ralph — que aproveitou toda a comida e líquido dado a eles nas masmorras —, Miriam não teve estômago para comer a gororoba que lhe traziam uma vez por dia, nem da água que não parecia filtrada.

Ralph então partiu em direção aos comerciantes. Tinha pouco dinheiro no bolso, fora pego de surpresa, não imaginava que precisaria em uma vigília de baile, engano o dele, precisava mais do que nunca.

Enquanto pechinchava com o comerciante barbudo e arrogante maçãs e duas pequenas garrafas de suco, avistou uma capa semelhante, então encarou, observando suas passadas e lembrou-se daquela noite em que estava pernoitando na vigília do palácio. Sim, ele. Fora ele que trouxe Katherine em seus braços. Ralph então o seguiu, mas seus passos eram sutis de silenciosos, decerto ele havia algum tipo de treinamento para pisar daquela forma, era habilidosa até ao andar. O capitão o seguiu até alguns becos estreitos e desertos, até que o perdeu de vista, ele procurou, observando ao redor, quando foi surpreendido pelas costas, uma adaga apertando-lhe o pescoço. Ralph segurou o ar instantaneamente, sabia que era ele — e que tinha notado que o seguia, sabia também que havia caído em uma armadilha e que fora descuidado ao lhe seguir — estava analisando-o e distraiu-se nisso, erro dele.

— Por que me segues? Quem o mandou? — a voz soou firme e forte em seu ouvido, a adaga ainda pressionada firmemente não lhe dava brecha alguma para sair daquela situação. Sequer falar, ou responder-lhe era difícil.

Ralph ergueu as mãos para cima em sinal de paz — cada mão ocupada com o alimento que acabara de negociar —, então o encapuzado soltou um pouco mais a adaga, dando-lhe brecha para a resposta.

— Você! Fora você que vi naquela noite, que me entregou Sua Alteza — o capitão respirou, não estava nervoso, mas ter algo afiado prendendo-lhe o pescoço fazia com que fosse difícil a entrada de ar.

Então o homem o soltou, virando-se para Ralph.

— Por que está vestido com as cores da nova guarda? Por acaso é um dos traidores? — ao dizer isso, pôs as mãos sobre a espada, em posição já defensiva.

— Não, muito pelo contrário! Mas não tenho tempo para lhe dar explicações, preciso procurar pela princesa, saber se está bem. Alguém está me aguardando — então Ralph virou-se para voltar e ir de encontro a Miriam, com os sucos e maçãs ainda em mãos.

— Um momento! — O capitão então parou. — E se eu souber da princesa, o que faria? — perguntou. Era uma atitude precipitada, mas estudara o capitão e o vira quando chegou na praça acompanhado de uma moça aparentemente frágil, não reagiu em momento algum e tomou posição defensiva, sua pele suja também dava a entender que não passara por bons bocados. Também os viu acompanhando a princesa na noite seguinte que o salvara, quando ela parecia procurar-lhe de bar em bar. Observara tudo dos telhados escuros das ruas, eram o seu maior refúgio quando precisava observar. Sua maior vantagem era a atenção, quase nada lhe escapava, afinal, era um estrategista.

— Precisaríamos de um plano para tomar o controle do palácio novamente — Ralph respondeu ainda de costas, sobre os ombros.

— Sei onde ela está.

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Quote do capítulo XIV

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Palácio de PedraWhere stories live. Discover now