dolorosamente comum

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Byakuya escorou-se na parede, ainda sem acreditar no que estava tendo que ouvir. Àquela altura, tinha certeza que talvez preferisse ser torturado. 

Não era segredo para ninguém que ele não ligava para a comemoração de festivos tolos, como gostava de chamar. Natal e Ano Novo não possuíam um significado concreto algum; o ano acabava, mas e daí? Que grande diferença as pessoas achavam que aconteceria após o relógio bater meia-noite? As coisas só mudariam se alguém tomasse ação. Se o ano era novo ou velho ou sei lá era só consequência. Seu pai sempre deixou isso claro; mesmo com tantos irmãos quando criança, sua família não costumava fazer nada de diferente no Natal. Agora, que estava basicamente deserdado por escolha, seus irmãos até se reuniam para fazer uma ceia, mas todos sentiam o mesmo: buscavam por um sentimento que não existia, era uma mera formalidade. 

Dito isso, Byakuya se importava ainda menos com as festividades do trabalho. Como advogado, sua função era revisar os processos da empresa e representá-la judicialmente, não comprar um presente de amigo secreto para algum colega incompetente.

Mas, aparentemente, esse ano seria ainda pior. Até o Natal anterior, a empresa fazia apenas uma festa: acontecia na semana do dia 20 e cada setor fazia a sua, sem se envolver com os outros. Escolhiam o dia, as regras do amigo secreto, o que comeriam... Era ruim? Claro, mas Byakuya até podia tolerar aquelas pessoas depois de anos trabalhando no mesmo ambiente. Porém agora seu chefe estava ali, no auditório da empresa, anunciando a maravilhosa novidade: agora teriam duas festas — o amigo secreto no início do mês e mais uma no final, sendo esta fora da empresa — e elas seriam por andar, não mais por setor. Ainda fariam tudo do mesmo jeito: a vaquinha para pagar, secretários e recepcionistas se organizariam para ver como ficava melhor, a votação para ver o que todos comeriam... E não, nada disso era opcional. Você até podia não ir na festa do dia 23, mas seria obrigado a ir na do amigo secreto, pois ela aconteceria no horário de trabalho. Não é um plano excelente para criar vínculo entre os funcionários?

Byakuya simplesmente não conseguia entender como uma empresa daquelas se importava com futilidades desse tipo.

A maioria dos seus colegas parecia ter gostado da mudança. A empresa era enorme, tinha lá seus treze andares, e eles trabalhavam no décimo segundo. O setor jurídico era um dos menores, sendo usado muitas vezes até por pessoas de fora. Talvez a ideia de ver rostos novos fosse animadora para os outros advogados, mas com certeza não era para ele. 

— E é isso, pessoal. — Seu chefe se preparava para finalizar. — Alguma pergunta?  — Silêncio.  — Então tudo bem. Mais tarde minha secretária passará em cada setor para sortear os nomes para o amigo secreto. Lembrando, vocês devem participar, e o limite do presente é $30. Continuem com o bom trabalho.

Um murmúrio passou pelo auditório e algumas pessoas já começavam a sair. Byakuya desencostou-se da parede, ajeitando o colarinho. Começou a se dirigir para fora também, tinha muito o que fazer antes do seu turno acabar. 

— E então, Byakuya, — Kirigiri, sua colega, chamou-o quando já estavam no corredor — o que achou de tudo isso?

Byakuya fez uma careta. Às vezes, parecia que ela só falava com ele quando via a oportunidade de irritá-lo. 

— O que você acha?

No fundo, mesmo ela sendo irritante e mandona, gostava de Kirigiri. Achava-a astuta. Quando tinha algum problema nos processos, sabia que poderia contar com ela sem hesitar. Ela sempre teve um olho bom para achar falhas e detalhes importantes que ficavam subentendidos. Não melhor que ele, claro; mas, se um dia ela quisesse largar aquele lugar para ser detetive, tinha certeza que ela teria sucesso.

Secret Santa ⇄ NaegamiWhere stories live. Discover now