Capítulo 1

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O céu estava de um crepúsculo estonteante no dia 24 de dezembro de 2020, a neve que caia nas ruas de gramado se agrupavam nos telhados das casas-chalés que apresentavam uma beleza natalina cobertas de grandes luzes brilhantes. Os adereços e árvores de natal que se espalhavam pela cidade davam lugar à magia natalina que o povo gaúcho conhecia muito bem. A cidade concebia um frio noturno que postulava o verdadeiro natal da Europa; gorros, luvas, casacos e todas as vestes que davam a entender um início de inverno mesmo em pleno verão brasileiro. Quem era anfitrião, reunia as melhores histórias para contar aos turistas, e quem não contasse estaria interferindo em uma tradição iniciada na guerra dos farrapos, onde a população gaúcha criava histórias de natal para enroupar a crise civil estabelecida naquela época. Os contos de natal eram uma das coisas que Cora mais amava, inúmeras delas foram apresentadas por sua avó, Anastásia. O natal para cora era desde os 6 anos de idade a melhor época do ano, mesmo depois de ter descoberto que o papai Noel não existia e que aquele velhinho que ela sempre visitava no natal luz era apenas um vovô com grandes barbas brancas e uma barriga cheia de shop. Quando completara 16 anos, as pessoas começaram a pergunta sobre os namorados, Cora sabia que essas perguntas iriam aumentar gradativamente enquanto ela crescia, e foi exatamente o que aconteceu... O tempo foi passando, a vó Anastácia foi parando de contar histórias de natal e as perguntas sobre namorados vinham sempre quando se tinha oportunidade, mas para Cora, namorar era algo que não pertencia a sua lista de desejos, e sim, ela tinha uma lista de desejos, e a maioria deles deveriam ser realizados antes da véspera de natal.

Naquele mesmo ano, Cora percebeu que ao completar 22 anos não havia realizado nada das sete coisas que havia escrito no natal antecedente, e mesmo que se propunha a fazer, não teria tempo, já que estava focada o suficiente na carreira que tanto almejara. Então, durante o resto do ano, ela se limitou a olhar o que havia escrito naquele papel, e com o tempo foi esquecendo o que realmente tinha ali. No entanto, para que ela pudesse fazer novas metas, ela teria que ir ao lago que percorria sua casa, ler as metas que deveriam ter sido realizadas até aquele dia, e jogá-las na água, já que acreditava que boa águas banham bons sonhos, e assim que a água do lago corrompesse aquele papel, era vez de escrever novas metas que seriam realizadas ao longo do ano seguinte. Cora sabia que não havia realizado nada do que escrevera no natal anterior, mas sabia que ao jogá-las nas águas do lago, novas metas iriam ser escritas e novas oportunidades iriam surgir.

— Você acredita em amor natalino, Vovó? — Perguntou Cora, enquanto ajudava Anastácia a montar a mesa de jantar para a ceia.

— Não só acredito, como eu já vivi um. Mas você não se interessaria em saber. — Falou Anastácia que lançou um sorriso bobo para neta.

— Sério? Não me diga que a senhora teve um crush natalino. Que romântico, vamos, me conte, quero saber. — indagou a jovem, sentada em uma das cadeiras da mesa de madeira.

— Bom, na verdade, eu sempre me questionei quem perguntaria sobre esse assunto, e sempre imaginei que você seria essa pessoa, quer dizer, quem teria mais curiosidade em saber do amor que uma pessoa que nunca o sentiu?

— Mas eu sei o que é o amor, dona Anastácia. Ele é exatamente o que sinto pela senhora. — Falou Cora, segurando as mãos rugosas da vó.

— Bom, não é desse amor que estou falando, é do amor carnal, do amor romântico, poético. Você um dia vai saber o que é isso, minha linda. Mas deixe eu lhe contar sobre essa história de amor que vivi durante o natal de 1965.

— Estou aqui ouvindo — falou a neta, empolgada.

— Eu tinha 17 anos quando uma família mudou-se para o bairro onde morava, eles tinham um filho e se chamava Alberto, era bonito, alto, olhos verdes, era um verdadeiro príncipe. Eu sempre cuidava da horta que minha mãe tinha no quintal de casa e em um desses dias, mexendo em adubo, ele apareceu do outro lado da cerca, se apresentando e contando muitas histórias de como tinha vindo parar ali. Conversamos por horas, e alí construímos uma linda amizade. Todos os dias naquele mesmo horário, ele me via cuidar da horta, conversamos e sorrimos, era bom estar com ele. No entanto, meus pais não sabiam da nossa amizade, então no natal eu os convidei para cear conosco, Meus pais ficaram sabendo que o pai de Alberto investiu em empresas de pequeno porte, então gostaram bastante da ideia de convidá-los. Estava tudo perfeito, nossos pais se deram muito bem e nossas mães conversaram o bastante para não prestar atenção no nosso pequeno sumiço. Ele havia me puxado para o quintal da casa dele, e me mostrou o que ele havia feito com as luzinhas que sobraram da decoração. Era um painel belíssimo, e as luzes formavam uma árvore de natal. Fiquei maravilhada e então o vi pegar uma caixinha vermelha, ao me entregar percebi que o que tinha ali dentro valia muito mais que qualquer presente de natal. Era um colar com um pingente de uma flor chamada camélia.

A lista de desejos de Cora BeckerOnde histórias criam vida. Descubra agora