Capítulo 14

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Conforme andava de volta para casa, Ana começou a desapertar o passo e a contestar a própria euforia. Não tinha motivo correr para casa para mostrar o jornal, Juan nem mesmo estava lá e Olga provavelmente já teria recebido o jornal assim que Ana saiu.

Apesar de surpreendente o conteúdo da manchete daquele dia, era também satisfatório e aliviante. Ele havia achado uma maneira eficiente de colocar Phillips em seu devido lugar, ameaçando seu negócio.
E com isso, Philips e tudo relacionado a eles não seriam mais problemas deles. A partir desse dia, estavam desligados daquela família.

Ana dobrou o jornal e enfiou-o numa caixa de cartas de uma casa qualquer, então continuou andando.

O tráfego de coches e cavalos ali no vilarejo não era tão intenso quanto na cidade, por isso ela se assustou quando um cavaleiro disparou em sua direção, derrubando-a no chão de pedra e terra da rua.

─── Você está cego?

O homem deu meia volta com seu cavalo. Não para socorre-la, mas para amedrontá-la, parado na estrada como se quisesse algo.
Ela não o conhecia. Boa parte do rosto estava coberto por um lenço preto, mas tinha certeza que não o conhecia.

Quando começou a se levantar, um coche grande surgiu na rua, sendo guiado por outro homem, também de lenço no rosto. Os cavalos frearam e o veículo parou ao lado dela.
Sem que ninguém abrisse a porta, como era de se esperar que um criado fizesse para seu patrão descer, uma figura vestida toda de preto desceu.

─── Vejo que nos reencontramos ─── disse Valquíria.

─── E de um jeito bastante casual ─── O braço de Ana ficara ralado com a queda, mas não era a hora de reclamar. ─── Deseja algo?

Valquíria fez um sinal com a cabeça para o homem encima do cavalo. Algo como aprovação ou agradecimento, Ana não soube interpretar ao certo.

─── Apenas conversar com você, senhora Evengord. Porque não entra no coche e me acompanha até um lugar com mais privacidade?

Ana olhou de esguelha para o capanga no cavalo. Estavam no meio da rua, um lugar aberto e vigiado. Ele nada poderiam fazer ou sua senhora seria incriminada.

─── Terei que ser um pouco rude e recusar seu convite, senhora Valquíria. Tenho certeza que sobre ser rude a senhora entende. Tenha um bom dia.

Ela se virou, ajeitou o vestido e deu alguns passos.

─── Ora, não se esqueça que me deve uma. Eu guardei seu segredo Anjo do Sono. ─── disse Valquíria.

Não tinha porque se fazer de desentendida ou confessar ingenuamente. Apesar de ser uma pessoa sabiamente cautelosa nos momentos certos, Ana ainda tinha seus momentos de curiosidade. Saber porque a viúva ajudara Juan naquela noite e porque estava ali agora querendo sua atenção, era um.
Ela entrou no coche e esperou que a viúva sentasse ao seu lado.

O cavalos puxadores deram meia volta, voltando para a cidade e parando em frente a uma pequena igreja de um outro vilarejo.
Ana seguiu a viúva e a seguiu até o interior do templo vazio.

─── Se queria apenas conversar comigo, por que não mandou um bilhete ou carta para minha casa ao invés de mandar os homens do seu irmão me derrubar no meio da rua.

─── Homens do meu irmão? Não, não querida. Esses homens são meus e vieram do norte comigo.

Ana olhou para trás, para a entrada da igreja, onde um dos capangas estava de pé na porta. Realmente, nas vezes em que fora na propriedade Phillips, nunca vira nenhum dos dois. Mas então...
Se vieram do norte com ela, onde estavam na noite em que Juan entrou na casa e pegou o Castiçal?

Cidade Da Alvorada | Livro 2Donde viven las historias. Descúbrelo ahora