Capítulo 25

619 85 16
                                    


Os dois coches de Valquíria estavam estacionados na estrada, prontos para partir. Um deles ia lotado de malas e objetos, sem espaços para humanos, enquanto o outro iria levar tia e sobrinha.
Os empregados da mansão Phillips já tinham cobrido os móveis da casa com panos e guardado as tapeçarias, agora que não sobraria nenhum morador na casa além dos próprios criados. Robert não tinha previsão de voltar, mas ele nunca ficou por muito tempo ali de modo que ninguém esperava por ele.

Marienne sempre fora o motivo de manter aquela casa viva e funcional.

─── Papai vai ficar furioso quando voltar e não me encontrar aqui.

A porta do coche foi fechada com todos as malas finalmente guardadas. Tamara deu um beijo na testa de Marienne junto com uma lata de biscoitos frescos para que ela comesse durante a viagem. A criada trabalhava na mansão há mais tempo que qualquer outro, e cuidou da garota pessoalmente. Tamara não estava triste, pelo contrário, tinha um sorriso nos lábios e a expressão ansiosa como quem diz: vá criança.

─── Deixarei uma carta para meu irmão, mas não acredito que ele voltará tão logo. Netur está fervendo como brasa, pelo que eu soube. É de lá que seu pai gosta.

Depois de lançar um olhar reprovador a sobrinha que havia aberto a lata antecipadamente e começado a comer os biscoitos, Valquíria se virou para o outro lado ali perto, onde estavam parados Ana e Beny.
Tinham vindo se despedir, mas estavam terrivelmente calados. Apesar do garoto não ter protestado nenhuma vez, era evidente em sua expressão minguada que ele não gostava tanto assim da ideia de sua amiga se mudar. Marienne tinha prometido a ele que se comunicariam por cartas e que ela voltaria para visitá-lo, mas ele não era tão tolo como fazia parecer. Ele sabia que logo logo ela se esqueceria dele.
Ana porém, parecia abatida e mais magra. Esteve indisposta durante toda a semana e não aceitou nenhum convite para tomar chá na mansão ou passear no campo como tinham feito durante alguns dias nas semanas anteriores.

─── Se não estava sentindo-se bem, não precisava ter vindo até aqui, tenho certeza que Marienne entenderia. ─── Valquiria disse a ela.

─── Estou me recuperando. O que tive essa semana foi uma desses resfriados fortes. Ainda não estou totalmente acostumada com as mudanças climáticas dessa cidade.

Era verdade que Ana estava bem melhor que alguns dias atrás. As sopas e os chás de Olga tinham combatido fortemente o resfriado. Seu corpo parecia bem novamente, mas ela não sabia como explicar as pessoas que saudade e decepção também faziam adoecer.

─── Seu marido ainda não retornou da viagem? ─── A viúva não podia ler mentes, mas era ótima em entender as pessoas e o ambiente ao redor.

─── Oh não, ainda não. Ele deve estar muito ocupado. ─── disse Ana casualmente.

A viúva a encarou como se pudesse ver sua alma, ver as engrenagens de seu corpo trabalhando e quisesse dizer algo mais a ela, mas contrariando a própria tagarelice invasiva, preferiu deixar para lá.

─── Bem, tenho certeza que você não é uma mulher que deixa-se abalar por causa do sumiço de um homem ─── Valquíria tinha se aproximado para dizer aquilo, com a voz mais baixa. ─── Procure um médico se o resfriado piorar. Pode ser mais grave que um resfriado.

Ana fez que sim e seguiu para se despedir de Marienne.

─── Divirta-se em Forteblack o máximo que puder. Só me envie cartas se tiver aventuras para contar. Isso é para você ─── Ana deu um embrulho com laço azul a ela. ─── É uma capa para seu violino. Eu mesma fiz. Mas pensando melhor agora, talvez fosse melhor que tivesse feito outra coisa. Seu violino não vai mais precisar ficar guardado na casa de sua tia.

Cidade Da Alvorada | Livro 2Where stories live. Discover now