Capítulo 1

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Poucas coisas eram tão tipicas da cidade como o famoso chá da tarde

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Poucas coisas eram tão tipicas da cidade como o famoso chá da tarde. Homens, mulheres, crianças, quase todos paravam o que estavam fazendo para aquele momento tão importante do dia.
Haviam mais casas de chá do que tavernas e restaurantes, e todas se entupiam de pessoas lá pelo começo da tarde.
Ana tinha passado a frequentar essas casas de chás, mais do que pretendia. Adorava os chás, mas gostava principalmente de se sentar a uma das mesas próximas a janela, onde podia ler, com um leve incentivo da luz energizante do sol que entrava pelo vidro.

─── Mais uma xícara, senhora Evengord?

Senhora Evengord.
Ana quase não se aguentava séria ao escutar ser chamada assim.

─── Por favor.

O garoto levantou o bule fumegante e encheu a xícara, tomando cuidado para nenhuma gota pingar no livro que também descansava sobre a mesa.

As Viagens de Gulliver.
Era seu vício do momento. Ela nunca se dera conta que gostava de tantas aventuras. Também como poderia, se nunca fora apresentada a elas antes? E era como se estivesse vivendo todas essas adrenalinas junto com os personagens, mesmo sentada em uma cadeira sem sair do lugar.
Sua vida tinha sido uma aventura por si só no ultimo ano, e agradecia aos céus por toda a paz que tinha encontrado naquela cidadezinha.

O sino da porta tocou anunciando mais um cliente. O garoto que servia a xícara de Ana olhou naquela direção e aplumou o corpo, com uma das mãos ele arrumou o colarinho e ao fazer isso deixou uma gota de chá pingar na barra do vestido de Ana.

─── Minha nossa, me desculpe... ─── o garoto colocou o bule sobre a mesa e tentou concertar o estrago com um pano limpo do seu avental. ─── Me desculpe.

─── Está tudo bem, Beny. ─── Ana tocou na mão do garoto.

Ele olhou na direção do balcão, onde o cliente recém-chegado estava, conversando com outros funcionários.

─── Algum problema?

─── O meu patrão, ele acabou de entrar na loja. Eu estou um pouco nervoso ─── disse Beny, de costas para o balcão.

─── Aquele é o dono desse lugar? Eu nunca o tinha visto antes.

─── Ele estava viajando há alguns meses. Depois que a esposa faleceu, ele tem avitado ficar em casa.

Ana fechou o livro e observou o senhor, de cabelos levemente grisalhos, um braço escorado em uma bengala com a elegância, e o outro braço no balcão. Parecia alguém conhecido, mas ela não podia ver direito de onde estava sentada.

─── E por que ele deixa você nervoso? É por acaso é um patrão ruim?

─── Ruim? O senhor Phillips? Não, ele é um ótimo patrão, eu é que sou um funcionário meia-boca. ─── Beny olhou por sobre os ombros, para o balcão, então voltou a atenção para Ana. ─── Eu já dei vários motivos para ser demito. Faltei sem motivo, durmi no serviço e até estraguei utensílios da cozinha...Minha nossa, como eu era um pivete. Ele me perdoou em todas as vezes, mas antes de viajar ele me disse que essa é a ultima chance. Qualquer deslize meu, rua! ─── O garoto arregalou os olhos, torcendo o avental. ─── Eu estou me esforçado e estou indo bem.

Cidade Da Alvorada | Livro 2Where stories live. Discover now