"Uma breve introdução ao caos", por Lalisa Manoban

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Dias atuais
— Lisa Manoban.
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Eu não sei exatamente como começar isso.

Rosé me disse que todo começo de história precisa ter um empecilho, algo grandioso o bastante para deixar os leitores ansiosos para acompanhá-la até o fim. Um mistério, uma situação difícil para ser solucionada, duas pessoas que aparentemente se odeiam mas não se odeiam tanto assim... opções, ela me deu muitas opções, mas nenhuma parecia se encaixar no que eu gostaria de contar.

Eu não tinha nenhum mistério, nenhuma briga irremediável ou uma situação difícil de lidar (além do meu boletim em vermelho, do meu vício em cigarros de palha e no pouco tempo que Jennie tinha para nós). Estávamos bem, melhor do que já estivemos em todos os anos das nossas vidas.

Park Rosé era a detentora de todas as histórias malucas que rolavam no campus e dos planos infalíveis que estavam destinados a dar errado. Portanto, não esperem me ver nas mesmas situações em que ela se sujeita. Rosé está em um nível inalcançável para qualquer ser humano normal.

Eu fiquei com a parte menos complicada, a parte em que eu estava amando viver: completamente apaixonada pela minha pseudo-inimiga jurada, morando no mesmo quarto que ela, sentindo o cheiro do seu bafo todo o dia de manhã, seus ataques de caretice, predileção por séries ruins, apelidos fofos e ciúmes. E, para o nosso aniversário de seis meses de namoro, me inspirei nesses aspectos de Jennie (e nas fotos que tirei nas nossas últimas férias), para fazer um mural de fotos no nosso quarto. Ele ocupava a parede da nossa cama, com coraçõezinhos de cartolina caindo do teto e barras de chocolates espalhadas no colchão.

Amarrei os cabelos em um coque desajeitado no topo da cabeça e parei no meio do quarto, meus dedos se remexiam de ansiedade, suor acumulava debaixo do meu braço.

— Okay, vai dar tudo certo... — Passei a mão suada na calça de moletom. — Tudo numa boa... — Olhei novamente para o painel de fotos, com o cenho franzido. — Ela vai gostar, não é?

Em um rompante, Jennie entrou no quarto.

Segurei a respiração, minha pressão abaixou vertiginosamente e eu tentei sorrir, mas acabou se tornando uma careta. Eu estava ansiosa para ver a reação dela, mas Jennie passou por mim sem ao menos olhar para a parede. Ela desceu de cima dos saltos quinze e começou a tirar os brincos.

— Você não vai acreditar no que aconteceu hoje, Lalisa! — Jennie deu um selinho rápido nos meus lábios e foi para o banheiro. — Eu fui praquela audiência e, juro para você, cheguei apenas dez minutos atrasada... — Ela levantou a saia, abaixou a calcinha e sentou no vaso. — Mas o doutor Afonso veio com aquele papinho de que eu "não cumpro com os meus deveres" acredita? Aquele velho cacético está pegando no meu pé! — Jennie fez uma carranca, a voz mais grossa para imitar a fala dele. — "A senhorita deveria ponderar se merece ou não o estágio, Kim". Sabe o que eu respondi, Lalisa?

— Amor, eu...

Ela me interrompeu.

— Eu olhei bem na cara dele e não disse nada! Eu não disse nada porque preciso aguentar o excelentíssimo senhor "tenho dois centímetros de rola e preciso encher o saco da minha nova estagiária"!

— Ei, ei, ei! — Agarrei o rosto de Jennie, as bochechas se espremeram e um biquinho brotou nos lábios dela. — Respira...

Ela cumpriu o meu comando.

— E inspira.

Fizemos juntas.

Jennie colocou as mãos em cima das minhas e a expressão irritada deu lugar a uma cansada, mas comigo apertando o seu rosto ela ainda parecia um gatinho emburrado.

O Plano JOnde histórias criam vida. Descubra agora