Tudo é uma questão de ódio

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O primeiro porre de Jennie foi aos 16 anos.

Foi no mesmo dia que Lisa comemorou um ano de namoro com Miyeon.

Lembro-me que foi esquisita a nossa transição dos 15 para os 16 anos. Jennie ficou um ano inteiro sem conversar comigo e com Lisa depois da brincadeira dos 7 minutos no paraíso, onde aconteceu o que vocês estão cansados de saber. Ela passou metade do ano reclusa como um monge e a outra metade fazendo intercâmbio no país natal das mães. Lisa engatou um namoro que parecia ser sério com Miyeon (que coincidentemente era a minha vizinha, cidade pequena, lembram?) enquanto Jennie caminhava para ingressar em nossas vidas novamente.

Talvez ela não tivesse nos perdoado totalmente, talvez fosse coisa da minha cabeça, mas o fato é que, quando Jennie me mandou uma mensagem, bêbada, me chamando para encontrá-la na sua casa, eu sabia que tinha alguma coisa errada.

Jennie nunca bebia, ela nem mesmo comia bombom de licor com medo dos 0000.1% do álcool. Ela dormia oito horas da noite, todos os dias, e assistia as reprises do Jornal Nacional pelas manhãs. E tudo bem, nós estávamos há um ano sem conversar, mas não era uma pausa tão grande assim para Jennie ter mudado radicalmente.

A distância das nossas casas dava uns vinte minutos de bicicleta, e contando que a cidade era um ovo, o trajeto era um tanto quanto longe. O campo verde que cercava toda a área da casa de Jennie era reaproveitado por Zuri e Amara. Elas cultivavam uma horta, um canteiro de flores cheio de margaridas, tulipas, copos de leite e rosas, e montaram um pequeno bazar que abria aos domingos.

A casa estava escura quando cheguei, Jennie estava sozinha. Deixei a minha bicicleta do lado dos gnomos e dos flamingos enterrados na grama, pensando em como nada havia mudado durante esses meses em que ela esteve longe. Ao menos passou pela minha cabeça a coincidência de Jennie ter resolvido experimentar álcool no aniversário de um ano de namoro de Lisa.

Suspirei, passando as mãos pelos cabelos ainda castanhos, e apertei a campainha.

— Rosé! — Jennie apareceu na janela do segundo andar, os cabelos em uma bagunça sacolejante, graças ao vento noturno, e uma garrafa de amarula balançando nas mãos. Ela acenou freneticamente para mim, arrotando logo depois.

— Suas mães sabem que você roubou isso da deca delas? — gritei de volta.

— Elas deixaram! Se esqueceu que vamos fazer mais amanhã!?

Jennie sumiu para dentro da casa. O silêncio da noite e a rua pouco movimentada me fizeram ser capaz de ouvir a porta do quarto dela batendo e os pés bêbedos descendo as escadas, trombando nos móveis antes de abrir a porta principal.

— Olá, Rosie, vem vinda de volta... — Ela riu. — Bem.... vinda... — gargalhou. — Entra, logo! — E me puxou para dentro.

Jennie me ofereceu a bebida, bebi rápido, sentindo descer pela minha garganta junto com o amargor e um pouquinho de culpa. Mas Jennie não me parecia nada culpada, nem com a aula de amanhã e nem com a possibilidade das mães chegarem a qualquer momento, então eu também não me preocupei. Depois de mais alguns goles, subimos correndo para o quarto dela.

Jennie estava na minha frente, com os cabelos balançando de lá para cá no escuro dos cômodos e nossos pés fazendo barulho pelo chão de madeira. Ela empurrou a porta do quarto e sorriu para mim ao entrar, em uma boa vinda silenciosa.

— Desculpa a bagunça, não desfiz as malas ainda.

— Isso é porque você não viu o meu quarto, e eu nem tenho a desculpa da viagem para dar.

Me joguei na cama, Jennie deitou do meu lado. Ficamos um tempinho assim, sentindo a embriaguez transformar nossas bochechas um tom de vermelho mais forte e os lençóis macios abraçando nossos corpos moles. A garrafa ficava mais vazia a cada minuto, alternando entre mim e Jennie. O quarto dela estava estranhamente bagunçado, livros jogados, roupas amontoadas e lençóis desforrados.

O Plano JWhere stories live. Discover now