Quase um final feliz

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Enquanto cavalgava até a praça, a cena anterior ainda martelava na minha cabeça. Jennie e Lisa estavam brigando, elas fizeram um levante de comida transmitido em rede quase nacional.

Dei duas batidinhas com o pé em Estrela e ela correu um pouco mais. A bagunça lá embaixo se tornava pior a cada instante, agora as barracas eram um amontoado de lona verde e os legumes eram bolotas coloridas que voavam por todo lugar. Devia ter umas 50 pessoas concentradas no meio da praça, talvez 100, jogando legumes uns nos outros. Jennie e Lisa eram o fio condutor daquilo tudo.

Desci de Estrela com o coração apertado.

— Estrela, Estrela... — Fiz um carinho na cara dela. — Fica aqui, não saia daqui, por favor, a mamãe já... — Um tomate acertou meu cabelo. — Argh, merda! Quem foi!? — Me abaixei no momento em que um pimentão passou voando na minha direção, atingiu em cheio Estrela, ela relinchou, irritada.

A praça estava tomada por legumes voadores, se uma guerra de comida parecia divertida em filmes, na vida real era um pesadelo. Era difícil reconhecer alguém no meio de tanta gente suja, andar corretamente sem escorregar em tomates ou desviar de cebolas assassinas era um trabalho árduo. Uma batata acertou minha barriga e quando percebi já estava completamente encharcada de restos de outros legumes. Peguei um rabanete no chão e acertei o garoto que jogou a batata em mim, mas já estava sendo bombardeada com chuchus. No segundo seguinte, minha única preocupação era revidar os ataques que passei a receber.

Tirei a gosma de um chuchu que pregava os fios do meu cabelo e, bem no meio da praça, vi as duas. Foi como um farol, não consegui mais desviar os olhos delas.

Jennie parecia uma versão pobre de Carrie a Estranha, substituindo a tinta por tomate. Seus cabelos estavam molhados, restos da fruta grudaram nas bochecha, testa, braços e na roupa. Lisa era uma bagunça mais diversa, os cabelos tinham folhas de repolho e alface e um quiabo solitário estava enterrado em seu decote. Ela pulou alguns nabos jogados e voltou a acertar tomates em Jennie, mas não tinha mais nenhum tomate inteiro, ela pegava os restos do chão.

Corri até elas, mas escorreguei e caí de joelhos. Uma senhora caiu em cima de mim e me fez bater o queixo no meio fio, senti gosto de terra, beterraba e pepino. A senhora rolou para o lado, cuspindo injúrias e restos de nabo enquanto eu me levantava e começava a correr. Meu joelho ardia, talvez o líquido pegajoso que escorria do meu queixo fosse sangue, mas eu tinha um propósito maior.

— LALISA MANOBAN E JENNIE KIM! — berrei, minha voz se tornou aguda demais no processo. Elas se viraram até mim. — Que merda! — Tropecei em uma lona verde. — Vocês... — Uma batata acertou minha testa. — Estão fazendo!?

Jennie passou a mão no rosto, tirando o suco de tomate.

— ÓTIMO! — Ela apontou o dedo para mim. — Já que estamos aqui, vamos tirar toda essa merda a limpo!

Lisa patinou no resto dos legumes até se apoiar no meu ombro. Estávamos no meio de uma guerra que parecia real (eu poderia ouvir os estalos de arma ao longe, pois algum fazendeiro resolveu dar tiros para o alto), era agora ou nunca. Jennie, fazendo cosplay da rainha do tomate, se aproximou de nós, mas seus olhos não desgrudaram de Lisa.

— Por que você não assume de uma vez, Lalisa? — Ela apontou o dedo para a tailandesa. — A culpa é sua! Toda sua! Conta pra Rosé que não sou eu que não está sendo sincera aqui! É você que não diz a verdade! Que ficou anos escondendo e mentindo!

— Até que enfim vocês resolveram falar e...

— Lalisa é apaixonada por você! — Jennie me interrompeu.

— Quê!? — Eu e Lisa falamos em uníssono.

Lisa riu, depois arregalou os olhos, riu de novo, talvez quisesse chorar, mas no final estava gargalhando. Ela apertou a barriga com uma mão enquanto a outra ainda segurava meu ombro, com medo de cair.

O Plano JOnde histórias criam vida. Descubra agora