Pausa para o café

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O dia estava péssimo, bem péssimo, e a previsão era só piorar. Não havia nada que eu pudesse fazer a não ser aceitar que a Época da Amarula tinha sido uma farsa, uma tramoia bem planejada contra a minha pessoa, e que tudo aconteceria o contrário do que previ.

Então eu entendi, finalmente entendi. Tudo que eu planejava saia fora do meu controle, portanto, a solução era não planejar. A partir de agora, nada de planos, paranoias ou ideias malucas. Eu me focaria na única pessoa que eu não tinha me focado até ali: Kim Jisoo. Jisoo, que aceitou embarcar nessa viagem comigo e em diversos outros planos que deram errado. Minha namorada, a garota que me ajudou em toda essa loucuragem sem tamanho. Porque, já que tudo iria dar errado (não estou brincando, vocês vão ver) eu gostaria de aproveitar algumas horas de sossego antes do quengaral queimar.

Miyeon havia plantado a sementinha da discórdia entre nós e agora, Jennie e Lisa estavam se olhando como se a qualquer momento fossem entrar um ringue de MMA.

Estava na cara que Jennie e Lisa escondiam algo de mim. Ok, eu desconfiava. Ok, toda essa história só surgiu para que eu as juntasse. Ok, vocês me avisaram que elas estavam me fazendo de trouxa, mas vamos para a parte que interessa: eu, Jisoo, Lisa, Jennie e as mães dela em volta da mesa redonda de café da manhã, em uma cozinha com móveis antigos, artes abstratas e um quadro de crochê de uma vagina pendurado ao lado de um relógio.

Zuri e Amara capricharam na comida, o café da manhã estava fenomenal, com pão de queijo, queijo, biscoito de queijo, requeijão... e mais alguns derivados de queijo e claro, café. Acho que Jennie e Lisa, num primeiro momento, decidiram deixar as expressões bravas de lado já que a fome falou mais alto.

As mães de Jennie ficaram momentaneamente encantadas por Jisoo (e quem não ficaria?) e devo admitir que, nesse meio tempo, eu achei que as coisas fossem dar certo.

— Amanhã iremos começar com a colheita da amarula, se todas estiverem de acordo! — Amara disse.

Ela tinha um tom de pele marrom escuro, cabelos em uma trança nagô que quase chegava a bunda e um sorriso cálido no rosto. Amara não parecia ter a idade que tinha e quando sorria, me lembrava Jennie. Era estranho dizer isso, ainda mais porque Jennie é adotada, mas elas compartilhavam um sorriso que todo mundo tinha que parar para ver.

— Precisamos mesmo amassar frutinhas com os pés, beber até cair e queimar no sol... — Dei um empurrãozinho em Lisa, do meu lado, mas ela só deu de ombros. Jennie a olhava tão intensamente que até eu me sentia desconfortável.

— Também acho, Jennie está muito pálida! — Zuri tocou a bochecha da filha. Ela tinha um tom marrom claro, olhos grandes e uma expressão de brava que me causou traumas.

Uma vez, quando Jennie e eu éramos pequenas, queimamos o DVD do show do Roberto Carlos que Zuri guardava na estante, porque, seguindo uma lógica infantil, achávamos que ele vivia dentro da televisão e se queimássemos qualquer sinal dele, não aconteceria o especial de natal e viveríamos para sempre no ano de 2006.

Não deu certo. Zuri descobriu e ficou tão brava que eu nunca mais ousei mencionar O Rei em toda a minha vida.

— Eu estou bem, mãe... — Jennie disse, compenetrada em olhar Lisa, enquanto comia o pão de queijo com uma cara que poderia ser de ameaça, se não parecesse um esquilo bravo, como aquelas fêmeas em Alvin e os Esquilos. — Aliás, é Jisoo quem está passando mal aqui, eu tô de boa.

— Não estou passando mal mais, acho que era fome — Jisoo respondeu, de boca cheia.

Realmente, ela não parou de comer desde que sentou na mesa. Acho que foi a primeira vez que levantou os olhos da comida para nos encarar.

O Plano JWhere stories live. Discover now