parte XXI

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Todos os dias, Jiwoo se perguntava se nunca tinha passado pela mente dos tripulantes e comandantes a vontade de redefinir a quantidade de horas num dia. Eles estavam dentro de uma nave e a única noção de hora que  ainda tinham era um grande relógio central que comandava todos os horários no local.

Jiwoo não tinha certeza se aquele horário era o mesmo da Terra, se houve um minuto atrasado ou adiantado, sabia apenas que desde o princípio, eles queriam manter alguns artefatos de sua antiga moradia para esses hábitos na Terra Nova, isso ajudaria na colonização e no início da nova vida.

Passava por sua mente também como aconteceria quando chegassem no tal planeta de atmosfera quase que idêntica à da Terra. Eles precisariam ficar à deriva por alguns anos para que os trabalhadores pudessem construir moradias e estabelecimentos de necessidade básica; não seria fácil repovoar um planeta, desbravar seus solos, conhecer suas espécies e se readaptar aos ares.

Parando para analisar, seria muito difícil manter a sobrevivência de uma população baseado em supostos experimentos e informações coletadas de máquinas e cientistas já mortos. Os humanos fizeram transições entre atmosferas totalmente poluídas, artificiais e estariam encarando uma natural que dizia-se ter oxigênio em desenvolvimento para a inalação humana.

As preocupações com as futuras gerações davam a Jiwoo uma certa ansiedade e fazia seus pensamentos retornarem para o início de suas perguntas: o tempo. Quando estava na Lotus Berthelotii, a hora passava muito rápido já que o dia era corrido entre tentar arranjar empregos e tirar o irmão de ciladas. Agora, na Rafflesia Arnoldii, ela tinha de se preocupar apenas com suas próprias atividades e pensamentos como a alteração de hora, era o que definia a quantidade de tempo ocioso que ela possuía.

Não era o seu primeiro encontro, ela tinha conhecido meia dúzia de belas garotas e umas duas tinham tido o prazer de cruzar a sua vida. As suas outras paixonites se enfiavam em seu alojamento no meio da madrugada para encontrar seu irmão. Ela sempre via as garotas de corpos esbeltos e longos cabelos a passar por sua minúscula sala e poucas eram as que lhe encaravam e transpareciam um sorriso amigável.

A situação agora parecia muito mais diferente — e agradável — do que as que ela se enfiava com garotas da nave principal. Pelo menos dessa vez, Jiwoo tinha a certeza de que o seu irmão não estragaria as coisas. A Kim amava Jongin, mas ele sempre estava metido em merdas que frustravam seus planos, ela sempre foi a mais responsável mesmo sendo a mais nova e todas as poucas vezes que decidiu fazer algo que realmente gostava, precisava desistir para prezar pela segurança dele.

Ela poderia sim ter empecilhos, mas nenhum comparado a Jongin.

Yeji estava numa reunião com o clube de xadrez; depois de anos desativado, ela precisava checar mais de perto a possibilidade de sua reativação e como isso ocorreria. Jisu ainda era um mistério para Jiwoo, ela sempre saía à noite com um caderno em mãos que parecia um diário e só retornava ao dormitório meia hora antes das luzes se apagarem. Jeongyeon com certeza estava com Roseanne contribuindo para a mente desocupada ter mais um plano infantil para atordoar aa garotas da nave.

Tudo estava livre para Jiwoo encarar o reflexo no espelho do banheiro. Ela não costumava fazer isso com muita frequência porque significava encarar aquela grande cicatriz que riscava o rosto. Sempre que se fitava por muito tempo, a Kim enxergava tudo vermelho, como no dia em que seu olho ficou banhado em sangue e ela estendia a mão em meio ao fogo para salvar Jongin. Era o mesmo flash de memória que a atordoava e nunca fugiria de sua mente por o queria aprisioná-lo dentro de si.

Era por um bom motivo, ela precisava se olhar e ter certeza de que estaria apresentável para Sooyoung. Jiwoo não tinha muitas roupas estilosas; o dinheiro que conseguia com pequenos bicos ajudava a comprar roupas usadas e nem sempre eram de seu tamanho. Ela tinha arranjado uma bela calça que a Sra. Im, a dona do brechó, teve o prazer de costurar um girassol no bolso de trás. Era um jeans claro, folgado, confortável e que Jiwoo guardava com todo carinho. Optou por casaco cinza de moletom que tinha o nome desbotado de um time de basquete que ela nem sabia se ainda existia.

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