parte XLIV

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No total, havia se passado 16 horas desde o acidente na Rafflesia Arnoldii. Algumas garotas começaram a ser liberadas para os dormitórios ou para voltar à rotina, o que ainda era um pouco difícil já que a nave não parecia totalmente estável e segura. A aflição que rondava a comunidade escolar também vinha da diretora Lee, que estava dando suporte desde o ocorrido e ainda não tinha descansado.

Seus pés tinham bolhas, embaixo dos olhos, havia bolsas vermelhas mostrando cansaço, suas roupas estavam sujas tanto pela poeira escura da nave quanto por marcas de sangue que acabou adquirindo ao se recostar nos lugares manchados da nave.

O alívio vinha aos poucos quando ela avistava as garotas saindo da enfermaria com poucos machucados e, aquelas que estavam mais cobertas por faixas ou caminhando com dificuldade, sorriam para lhe acalmar em prol de mostrar que tudo ficaria bem. Ela recebia os relatórios e ter as informações de que a quantidade de garotas nas unidades de tratamento intensivo ia diminuindo lhe enchia de esperanças.

Ela precisava ter um número pequeno e significativo de garotas na enfermaria para expor que estava tudo bem e poucas estavam debilitadas. Exausta e sentindo todo o peso da responsabilidade nas costas, Sunmi escolheu o terceiro degrau das escadas expostas ao lado do elevador para se sentar e descansar as pernas. Ela sentia dores tão fortes que sempre reforçava o interesse de deixar a profissão.

Acabava por sofrer por antecedência, pois sabia que ainda teria de lidar com o governo, com a capitã da nave principal e com todos os pais que investiram rendas naquele internato com a certeza de que ele traria a segurança de volta para a Lotus Berthelotii, não que elas correriam mais perigo ali do que em uma sociedade completa.

Era a primeira vez em horas que Sunmi conseguia ter resiliência e calma ao respirar. Ouvir os cochichos das garotas, mesmo que pudessem ser maldosos, lhe aliviava, pois parecia que, aos poucos, tudo estava voltando aos conformes e ao seu controle. A única coisa que ainda lhe causava confusão era a presença da Capitã Kwon, que desde o seu último anúncio nos alto-falantes, não havia dado as caras.

Lee era apenas a diretora do internato, suas responsabilidades eram acadêmicas, ela não estava sendo paga para cuidar de uma nave e sim, de garotas problemáticas. Não era justo assumir a culpa por algo que ela nem sabia que poderia acontecer. O acidente a fez perceber que não tinha conhecimento sobre muitas coisas que aconteciam na nave e isso era preocupante posto que agora, depois que tudo normalizou, ela não conseguiria dissertar com clareza os problemas que vinha adquirindo ao longo do tempo.

Achou que conseguiria ficar ainda mais tempo relaxando e descansando de olhos abertos, mas uma monitora com um cassetete guardado no suporte à cintura correu em sua direção, despertando-lhe da calmaria momentânea. Aquela interrupção era adicionada em sua lista de motivos para se aposentar e viver uma vida tranquila na Lotus Berthelotii em algum condado nobre.

— Diretora Lee?! — chamou a monitora.

— Sim, o que há?! Tem alguma novidade sobre as garotas na enfermaria?! Os técnicos finalizaram os serviços no exterior da nave?!

— A Capitã Jung está na casa — disse a monitora aflita fazendo a diretora se levantar.

— O quê?! Como assim?! Ela me disse que só viria amanhã — Sunmi se levantou e começou a caminhar, golpeando o chão com os saltos finos.

— Ela ainda está entrando na nave. Me parece estar acompanhada, vi alguns soldados e ela não me pareceu muito amigável.

— E quando Jessica Jung está amigável, hum?! — questionou Sunmi tentando chegar em sua sala.

Apesar da rapidez, Sunmi não conseguiu ser tão ligeira a ponto de preparar um discurso que fizesse Jessica Jung ir embora. A Capitã surgiu em sua frente a trajes pretos, como se tivesse deixado o posto assim que soube da notícia e zarpado às pressas para o internato, sem nem ter tempo de vestir algo mais apresentável. Ela ainda segurava o capacete espacial e as luvas de proteção, fora isso, a carranca se misturava com os cabelos sedosos e hidratados, que entrava em contraposição ao seu humor.

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