Capítulo 56

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Noah Jacob Urrea, 30 de junho de 2020, 14:21.

- Finalmente! - exclamo, aliviado, quando acabo de arrumar o meu quarto. Aquele lugar estava uma zona completa. Olho para os meus antigos exames em cima da cama com ódio. Eu deveria queimar eles. Sim. Eu faria isso. Mas antes precisava de um banho urgente. Sabina tinha saído com Joalin, e meu pai e Ale tinham ido ao mercado, o que significava que eu teria a casa inteira só para mim. O que significava que eu poderia ficar deitado no sofá comendo uma pizza inteira sozinho sem ter ninguém para me perturbar. É, era um bom plano.

Tiro as roupas suadas, colocando-as no cesto, e entro no banheiro. Tomo um banho bastante demorado e lavo os meus cabelos. Enrolo uma toalha na cintura e me olho no espelho por alguns rápidos segundos antes de abrir a porta.

Assim que meus olhos se focaram no garoto loiro sentado na cama, de costas para mim, sinto a bile subir na minha garganta. Não. Não. Não, não, não. O que ele estava fazendo aqui? Josh se vira, e finalmente parece notar a minha presença. As mãos cheias de papéis e o cenho franzido em confusão. Queria vomitar, ou pular da janela. Ou os dois talvez.

- Josh, larga isso... por favor. - minha voz saia com receosa, como se os papéis fossem uma bomba que estava prestes a explodir. E, de certa forma, eles eram. Minhas mãos tremiam na barra da toalha.

- Você está doente? - Sua voz saiu baixa, quase como um sussurro. Aperto os olhos com força, desejando que aquilo não passasse de um pesadelo.

- E-eu... Josh, larga isso. Por favor - peço choroso. 

- Eu não entendi quase nada do que está escrito aqui. A única coisa que eu consegui entender, é que você está doente. É verdade? - Mordo o lábio, nervoso, querendo evitar que as lágrimas rolassem. - Me responde, Noah! - Ele grita, me fazendo encolher um pouco.

- Não grita comigo! - Josh cerra a mandíbula, irritado, e se levanta, ficando a poucos metros de distância de mim. - Não tenho câncer, se é isso que está pensando. - O loiro solta o ar, aliviado. - Não exatamente - Josh prende o ar de novo.

- Como assim?

- Eu tenho Glioblastoma Multiforme grau IV. É um glioma. - Digo tudo em um fôlego só. Josh arfa, surpreso, e volta a se sentar na cama, parecendo em choque. 

- Eu... e-eu não entendo.

- Glioblastoma Multiforme grau IV - repito - , é um tumor maligno que afeta o cérebro ou a coluna vertebral. O meu está no cérebro. É o tipo mais agressivo de glioma.

- Mas você vai ficar bem, não é? - Dou um sorriso triste quando a voz dele sai esperançosa, quase como se estivesse suplicando para que a resposta fosse 'sim'.

- Acha mesmo que eu te afastaria se eu fosse ficar bem? Não, Josh. Eu não vou ficar bem. - Respiro fundo antes de continuar: - Eu descobri 1 semana depois que você terminou comigo, no ano passado, a primeira pessoa que eu pensei em contar foi você. Mas quando eu cheguei em frente á sua casa, você estava lá com a Any. Eu vi você tentando beijar ela e ela te empurrando. Eu tive uma crise convulsiva no mesmo dia, depois de a Any ir na minha casa chorando e contando o que aconteceu com medo de que eu fosse parar de ser amigo dela por aquilo. Passei por uma cirurgia três dias depois, mas não adiantou muita coisa, o tumor cresce rápido. Não tem exatamente uma cura. Eu fui tendo sessões de quimioterapia e radioterapia, por isso meus cabelos estavam mais curtos quando esse ano começou, dei sorte que eles não caíram totalmente. Eu parei com o tratamento, não queria mais ter que aguentar tudo aquilo. Era sufocante. É raro sobreviver a esse tumor, não tem porque eu me destruir tentando.

- E quanto tempo você ainda tem? - Josh engole em seco.

- As pessoas tem, em média, uma sobrevida de 14 meses. - Repito as mesmas palavras que o meu médico disse uma vez. - Já se passaram 8.

- Você só tem mais 6 meses de vida - não era uma pergunta, ele só estava tentando digerir todas as informações. Seu olhar desse para os tênis, e ele apoia os cotovelos nos joelhos e enterra a cabeça nas mãos.

- É.

- Por que não me disse isso antes?

- Quando a gente começou esse nosso... - procuro a palavra certa - ...lance, eu pensei que não ia durar muito, mas não importava porque eu queria ficar com você enquanto eu conseguisse. Você disse que gostava de mim, mas nunca disse que me amava. Até aquele dia. Aí eu vi que estava tudo errado, você se apaixonou mas eu ia morrer. Então eu terminei com você. Meu plano era deixar uma carta com a Sabina endereçada a você. Não queria te ver sofrendo, seria cruel e...

- Então seu plano para não me ver sofrendo, era morrer do nada? - Ele se levanta de uma vez, me fazendo dar um passo para trás. - Terminar comigo assim sem mais nem menos? Sem que eu pudesse estar do seu lado?

- Sinto muito. Mas isso tudo é uma merda, Josh! Eu não consigo fazer algumas coisas, eu sinto dores de cabeça que parecem que vão partir meu crânio no meio, tenho crises convulsivas e me isolo do mundo! Não queria que você me visse desse jeito, porque isso é uma merda. Vai infectar tudo, vai estragar tudo! Tudo na minha vida gira em torno dessa doença. Você não precisa me ver quando eu nem se quer consigo pegar minha própria camisa ou quando não consigo me vestir sozinho. Ou quando estou me debatendo tendo outra convulsão. Você não precisa me ver assim. E nem eu quero que me veja.

- Não é uma escolha sua, Noah! - Josh grita, e eu só quero chorar. - Você nem me contou sobre isso! Você ia simplesmente me deixar pra sempre e ia me contar isso por meio de uma droga de carta?!

- Me desculpa! Eu não queria te arrastar para isso! Você já me viu tendo uma convulsão, não é uma coisa bonita! Acha que eu quero essa merda?

- Isso. Não. É. Sua. Escolha! Porra, Noah! Sou eu! - Ele me sacode pelos ombros.

- Por favor... vai embora.

- Não! Eu não vou deixar você me afastar de novo, eu me recuso a isso!

Não consigo olhar para ele. Sinto que vou desabar a qualquer momento. Me desvencilho dele e vou para o closet, visto uma boxer e calça de moletom. As lágrimas já desciam sem que eu tivesse nenhum controle, meu peito subia e descia rapidamente e parecia que minha garganta estava se fechando.

- Noah, ainda não terminamos essa conversa! - Ele aparece na porta, ainda irritado.

- Não, eu quero... quero que você vá embora. - Peço com a voz quebrada. Josh se aproxima, segurando meus pulsos com força. - Olha para mim. Por favor.

- Me abraça, Josh. Só me abraça.  - Me rendo com a sensação de seus braços rodeando meu corpo de novo. Enfio o rosto na curvatura de seu pescoço, sentindo seu cheiro gostoso. Era tão bom estar assim com ele de novo, tão próximo e... meu Deus. Eu amo ele demais.

- Eu senti tanto a sua falta - ele diz, as mãos subindo e descendo nas minhas costas.

- Eu te amo - sussurro em seu ouvido, me sentindo mais leve por finalmente poder dizer isso a ele.

- Eu também te amo.

Fuck! I Hate YouDonde viven las historias. Descúbrelo ahora