Capítulo 64

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Noah Jacob Urrea, 26 de julho de 2020, 10:25.

- Ei, garoto! - Sorrio ao ver meu pai parado da porta do quarto. Sina e Heyoon tinham acabado de ir embora e eu estava no tédio. Sabina estava passando o final de semana na casa de Joalin e eu estava sozinho.

- Oi, chegou agora? - Me sento na cama. Ele se aproxima, entrando no quarto, e se senta do meu lado.

- Sim. Está ocupado?

- Não, a Sabina me abandonou para ficar com a namorada. - Ele ri e bagunça meu cabelo.

- A gente podia passar o dia juntos - Arqueio uma sobrancelha, surpreso, não fazíamos isso desde que a mamãe morreu.

- É uma ocasião especial?

- Não, nenhuma. Não posso querer passar o dia com o meu filho?

- Onde vamos?

- Não seja tão curioso, você vai ver. Vamos!

Nos levantamos e saímos do quarto. Ele vai até a cozinha e paga duas garrafas de água na geladeira, aparentemente aquela viagem não seria curta. Saímos de casa e eu tranco a porta enquanto ele tira o carro da garagem. Entro no carro e coloco o cinto de segurança, ele começa a dirigir e eu abro a janela para sentir o vento batendo no meu rosto. Eu me sentia um daqueles cachorrinhos viajando no banco da frente, era sempre tão bom a sensação de liberdade que aquele simples ato podia nos proporcionar.

Passamos a maior parte da viagem em silêncio, apenas curtindo a companhia um do outro. Meu pai e eu não éramos muito próximo e eu sinto que nos distanciamos muito com a morte da minha mãe, mas aí chegou a minha doença e nos aproximamos um pouco mais. Eu não o culparia por se afastar mais de mim, não deveria ser nada fácil perder a esposa, e pouco tempo depois descobrir que o filho morreria em breve, mas fiquei feliz que ele não se afastou. A viagem demorou uma hora eu acho, talvez duas. Mas cada segundo valeu a pena quando vi aquele lugar, não sei dizer onde estávamos mas esse lugar era simplesmente... uau! Uma praia, a água tão azul e limpa que quase me dava vontade de beber. Algumas crianças brincavam na água, acenando para os pais de vez em quando e logo voltando a brincar. Não sabia que existia um lugar tão lindo assim nessa cidade. Um lugar que transmitia tanta paz. Descemos do carro e andamos um pouco até acharmos um lugar bom para nos sentarmos. Tiro os tênis e coloco do meu lado. Jogo a cabeça para trás sentindo o sol bater do meu rosto e o vento sacudir meu cabelo

- Eu vinha muito aqui com a sua mãe antes de você nascer. - Olho para meu pai. Ele olhava ao redor com um sorriso nostálgico, quase como se estivesse vendo os dois passeando por ali quando eram mais jovens. - Ela amava tanto você, Noah, e eu tenho certeza de que teria orgulho do homem que você se tornou. Você é incrivelmente talentoso, educado, cavalheiro, é um ótimo amigo, um ótimo irmão, e um filho maravilhoso. Ele estaria orgulhosa, filho. - Meu peito se aqueceu ao ouvir ele falar isso. Ele não tocava muito no nome dela, e ele estar fazendo isso, dizendo que ela estaria orgulhosa de mim, me encheu de felicidade.

- Acha mesmo. - Ele olhou para mim e confirmou com a cabeça. - Como sabe?

- Porque eu sei que eu estou. Quando sua mãe morreu, você se tornou a luz da minha vida. A razão da minha existência, e eu não estou pronto para perder meu filho - desvio meus olhos dos seus, sentindo eles arderem com a vontade de chorar. - Você é a única coisa que me restou da sua mãe, e agora você também vai embora.

- Pai... - tento dizer alguma coisa, mas minha voz sai tão quebrada e triste que ele apenas assente.

- Eu sei, eu sei. Só é muito difícil para mim. Você não tem ideia do quanto eu te amo, garoto. Não sei como vou poder viver sabendo que você não vai mais estar aqui. Eu vivi tantos anos, Noah. Vi tantas coisas e tantos lugares, e eu me pergunto todos os dias por que você tem que morrer? Se eu pudesse, eu iria no seu lugar. Eu daria a minha vida de bom grado se isso significasse que você estaria vivo.

- Não diz isso - ele agarra minha nuca, fazendo um carinho com o polegar. Ele sorri pequeno, como se dissesse que ficaria tudo bem, que não era culpa minha.

- É verdade. Eu prometi a sua mãe que cuidaria de você até o meu último suspiro. Ela queria ver você se formar, se casar, ter filhos, e eu a prometi que viveria para ver isso por nós dois. Uma vida para dois de nós. Mas... eu vou viver, mas nada vai fazer sentindo porque você não vai estar aqui.

- Me desculpa pai.

- Por que está se desculpando? - Ele me olha sério, falando cada palavra com determinação. - Você, Noah Jacob Urrea, é o maior orgulho que eu tenho nessa vida. Você é a melhor coisa que eu já fiz, e não pense nem por um segundo que eu vou deixar de amar você. Você é o meu filho! 

- Eu te amo pai, te amo tanto...

- Estamos orgulhosos de você.

Eu sorri, já não fazendo questão de não chorar. Nos abraçamos e eu conseguia sentir suas lágrimas molhando a minha camisa. E por um momento eu podia jurar que senti outra pessoa se juntar ao abraço. 

Fuck! I Hate YouOnde histórias criam vida. Descubra agora