Naquele momento vi em Luke o mesmo brilho que eu via nos olhos da minha mãe quando ela conversava comigo.
Eu sabia que Luke era especial. Ele estava comigo sempre, se importava comigo mais do que consigo mesmo, era amigo nos momentos bons e ruins, era meu amigo de infância, mas isso não bastaria para o que eu sentia naquele momento olhando o homem à minha frente.
Homem. Pela primeira vez em todos esses anos que o conheço, aquela foi a primeira vez que olhei para Luke como um homem, e não como um garotinho que me fazia rir.
O que eu estava sentindo e por que minha visão por ele estava mudando?
- O que foi? - Luke perguntou parecendo confuso e eu me desviei dos meus pensamentos.
- Hm?
- Por que está me olhando assim? - O mesmo soltou meus ombros e recuou um passo para trás.
- Nada. - Balancei a cabeça e me virei para a frente novamente. Cruzei meus braços ainda me sentindo confusa quando me lembrei o motivo por eu estar ali: Henry. - Aquelas doações que você me dava era o dinheiro da sua faculdade?
- Aham. - Luke respondeu como se aquilo não tivesse importância nenhuma. Como se seu sonho de ir para a faculdade não fosse nada demais comparado ao fato de que eu poderia perder minha livraria.
- Luke...
- Eu não me arrependo, Anne. - Ele me interrompeu. - E não começa com papo de que vai me devolver porque... - Eu o interrompi.
- É claro que vou te devolver!
- Não precisa, Anne. Aquilo foi... - O interrompi novamente.
- Você não precisa cuidar de tudo, Luke. - O encarei e ele abriu a boca para falar, mas nada saiu. Luke voltou a olhar para frente com as mãos nos bolsos.
- Cuidar de você já basta para mim. - Sua voz soou calma fazendo meu coração papitar.
Abaixei minha cabeça. Eu estava cheia. Aquele havia sido um dia cheio e ainda era manhã. Era manhã de natal e eu estava cheia! Estava exausta. Já havia chorado, me irritado, discutido e me sentindo um nada. Eu estava péssima e era natal!
Deixei mais uma lágrima escorrer pelo meu olho e me senti mal por isso. Eu queria ser forte como minha mãe era, como Júlia era, como Meredith era. Se eu fosse ameaçada, tenho certeza que choraria como um bebê igual sempre.
Senti o braço de Luke rodear-me e apoiei minha cabeça em seu ombro. Eu estava mal. Me sentia tão mal que tinha vergonha da minha própria presença. Parecia que tudo aquilo havia acontecido para provar para mim mesma o quão fraca eu era.
Comecei a chorar mais quando Luke se virou totalmente para mim e me puxou para um abraço apertado. Abraço que não só abraçou a mim, como também todas as minhas frustrações e angústias. Seu abraço se transformou num abrigo.
- Eu sou fraca, Luke. Em todos os problemas que tive, eu chorei como uma fraca. Eu acreditei em um mentiroso como uma fraca. Deixei vocês sofrerem como uma fraca. Estraguei o natal de todo mundo como uma fraca. - Falei contra seu peito.
- Sabe Anne... as pessoas reagem de maneiras diferentes em momentos difíceis. Algumas choram, outras se irritam, outras perder o controle, outras culpam outras pessoas.. mas você se preocupa com seus amigos. - Ele começou a falar. - Quando éramos pequenos e caímos da minha bicicleta, você se machucou mais que eu mas mesmo assim ficou triste por eu ter me machucado. Quando correu o risco de perder sua livraria, você ficou preocupada em perder o legado de seus pais. Quando um idiota apareceu e bagunçou com as nossas vidas, mesmo você tendo sido a mais afetada, você ainda está se preocupando com seus amigos e com o natal deles. - Luke afastou o corpo de mim e segurou meu rosto. - Isso não é sinal de fraqueza, você só se preocupa. Chorar não é sinal de fraqueza, é só resultado do que você está sentindo. De todas as pessoas que conheço, você é a mais generosa. Não se torture assim, estrelinha. - Luke aproximou o rosto devagar de mim e me deu um beijo na testa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Café, Um Livro E Um Amor ( A Garota Da Livraria )
RomanceEm uma livraria pequena e aconchegante localizada em Deadwood, Dakota do Sul, uma jovem de 20 anos, apaixonada por leitura e apreciadora de arte, trabalha para manter o local que herdou de seus falecidos pais. A mesma vive uma incansável rotina mo...