Um Café, Um Livro E Um Amor ( A Garota Da Livraria )

54_ Meu maluco sonhador.

- Eu sinto muito mesmo por ter virado as costas para você quando precisou por puro orgulho. - Ela acrescentou. - Além de tudo isso, quando seu pai apareceu eu havia acabado de terminar com meu namorado. Sofri uma desilusão. O cara pela qual eu havia entregado meus sentimentos me traiu. Eu fiquei revoltada com os homens e isso resultou na meu ódio por seu pai. Além de eu pensar na época que ele era um total maluco sonhador, eu pensei que ele faria com a sua mãe o mesmo que o meu ex tinha feito comigo. Eu queria proteger a minha irmã mais nova de uma maneira errada. - Ela abaixou a cabeça e respirou pesadamente.

- Ta tudo bem, tia. Isso ficou no passado. Tenho certeza que minha mãe a perdoaria. - Toquei a mão dela sobre a mesa e seu sorriso brilhou junto de seus olhos.

- Eu preciso me desculpar com seu pai.

- O que? - Inclinei o rosto levemente para a frente.

- Com o sonho dele. - Ela deu uma risada baixa e curta. - Com a sua livraria, Anne. Quero conhecê-la e ver o que minha irmã construiu nesse mundo junto do seu pai.

- Agora?

- Não, pode aproveitar a noite com seus amigos. Amanhã você me mostra. - Ela sorriu e olhou para trás de mim.

Fiz movimento para virar o rosto para ver o que ela olhava, mas recebi um abraço por trás naquele momento e um beijo na bochecha que foi tão forte que me fez inclinar para o lado enquanto sorria.

- Esse... - Olhei para minha tia. - É o meu maluco sonhador. - Ela sorriu e Luke grudou o rosto ao meu olhando para ela.

- E que sonhos você tem, rapaz? - Minha tia perguntou curiosa e ele se sentou na cadeira ao meu lado. Primeiro ele olhou para mim como se esperasse eu dizer que ele podia responder, afinal, não conhecia minha tia. Assenti com um sorriso e ele olhou para ela.

- Muitos, mas além de poder ficar minha vida inteira ao lado da minha estrelinha, eu sonho em fazer gastronomia. - Ele respondeu pegando na minha mão e me dando um sorriso de canto.

- Gastronomia? Isso é muito interessante. - Minha tia assentiu com a cabeça.

- Ele ia começar esse ano, mas doou parte do dinheiro que havia juntado da faculdade para ajudar minha livraria. - Falei e Luke abaixou a cabeça enquanto acariciava minha mão com seus dedos.

- Mesmo? - Minha tia pareceu surpresa. - Rapaz? Você fez isso pela minha sobrinha? - Luke voltou a encara-la.

- Eu faço qualquer coisa por ela. - Luke respondeu. - E não me arrependo.

Minha tia ficou uns segundos olhando para Luke sem dizer nada, seus pensamentos pareciam distantes até que ela deu um sorriso e se levantou.

- Bem, eu acho que vou indo para deixar vocês a vontade. - Me levantei também.

- O que? Não vai ficar com a gente? - Ela me olhou.

- Não acha que é melhor passar a noite com seus amigos? - Ela ajeitou a bolsa.

- Também, mas a senhora é minha família. Tem que ficar comigo essa noite também. - Falei e Júlia se aproximou.

- Fica aí, Tia. E me conta mais coisas... - Júlia a fez se sentar. - O que sente quando está na passarela? Conheceu alguma modelo famosa como a Gigi ou a Adriana Lima? Ela é brasileira e uma inspiração! - Jukia começou a tagarelar enquanto minha tia a olhava rindo. - Já caiu alguma vez? Como foi seu primeiro desfile? Quanto recebe por mês?

Ri da mesma e Luke puxou minha mão para que eu o seguisse até a cozinha. Fui junto dele e assim que paramos lá eu senti o tal cheiro bom que a Júlia havia sentido lá da porta. Como era possível ela te sentido de lá? Pior que vão farejador.

- Quem é aquela moça? - Ele perguntou parecendo confuso e eu soltei uma risada.

- Minha tia Lilian. A que tinha me feito a proposta de ir estudar em LA. - Me apoiei num dos armários da enorme cozinha do Luke enquanto o mesmo mexia em algo no fogão. - Ela veio porque queria se desculpar comigo e com o passado.

- E por que me chamou de maluco sonhador? - Ri de novo.

- Eu chamei de meu maluco sonhador. - Me aproximei dele e ele logo olhou para mim. - Era assim que ela se referia ao meu pai porque ele não tinha medo de sonhar alto e arriscar naquilo. - Dei um sorriso e o observei. - Você não vai mesmo me deixar devolver o dinheiro para sua faculdade, amor?

- Não precisa, eu já disse. Doação não se devolve. Eu vou continuar trabalhando e vou recuperar.

- Mas Luke...

- Minha princesa? - Luke segurou meu rosto e me observou. - Não tem que se preocupar com isso. Eu já esperei e esperar mais um ano não vai ser nada. Eu não fazer a faculdade agora não diminui a alegria que eu sinto de finalmente poder olhar para você e te chamar de amor. De poder segurar seu rosto e pensar que te terei ao meu lado sempre. - Ele sorria. - Eu te amo, Anne. Não se preocupe comigo porque no momento sou o cara mais feliz da face da terra. - Ele aproximou o rosto de mim. - E é porque tenho você.

Luke uniu os lábios aos meus deixando com que nossos sentimentos fossem expressados e colocados para fora. Suas mãos prendiam minha cintura contra o armário e as minhas segurava sua nuca. Nossos lábios se encaixavam enquanto nossos corpos se uniam cada vez mais.

Terminamos o beijo com um selinho e Luke me abraçou. Seu abraço sempre causava a melhor sensação. Eu o amava demais.

- Se você continuar aqui na cozinha o jantar vai sair só ano que vem, literalmente. - Ele falou me fazendo rir.

- Tudo bem, estou indo lá para fora. - Ergui as mãos em rendição e ele puxou minha cintura novamente me roubando mais um selinho.

- Te amo.

- Também te amo. - Sorri para ele e logo em seguida saí da cozinha. Júlia ainda estava interrogando minha tia que não parecia incomodada com as perguntas da mesma, Steven e Meredith conversavam animadamente em pé perto da porta e Jojo estava falando ao telefone em coreano, provavelmente com sua família.

Sorri analisando-os e resolvi ir até a porta. Por mais que não estivesse mais nevando, o frio ainda estava presente. Abracei meus braços sentindo um leve vento tocar minha pele e observei as pessoas que passavam.

- Feliz ano novo! - Umas meninas passaram por mim. Eu as conhecia de vista, eram estudantes e passaram a frequentar a livraria depois do kindle.

- Feliz ano novo! - Sorri para elas que estavam bem animadas, provavelmente iriam para alguma festa.

Comecei a analisar o local. A cafeteria de Luke ficava bem em frente da praça principal, então ali realmente tinha um número grande de pessoas. Mas uma pessoa em especial me chamou atenção. Era um homem, sua barba bem feita era notável e seu olhar distante me entristeceu. Era o Sr Lincoln.

Ele estava sozinho sentado naquela praça. Ele sorria todas as vezes que alguém lhe desejava feliz ano novo, mas logo seu olhar se distanciava novamente.

Sem nem pensar muito eu comecei a caminhar em sua direção.

- Sr Lincoln? - Chamei por ele e ele logo me olhou.

- Oh Anne, Feliz ano novo. - Ele abriu seu sorriso.

- Feliz ano novo, Sr Lincoln. - Sorri para ele.

- Me chame de Joan. - Ele assentiu e só aí eu notei a semelhança de seu nome para com o nome de meu pai, Jonan. - Está tudo bem? Onde estão seus amigos?

- Está sim, eles estão na cafeteria do Luke. Eu pensei que o senhor iria para LA passar com a sua família. - Esfreguei os braços e ele abaixou a cabeça.

- Meu vôo foi cancelado em cima da hora e eu não tive como. - Ele esfregou as mãos umas nas outras.

- Deseja jantar com a gente?

- O que? - Ele levantou o olhar para mim.

- Perguntei se deseja jantar com a gente. Tenho certeza que o pessoal vai gostar Sr Lin... Joan. - Sorri para ele.

Os olhos de Joan brilharam e ele se pôs de pé.

- Claro. - Ele assentiu alegremente e nós dois seguimos para a cafeteria.

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Continua...