12-10-19 (parte 1)

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Gerard Way - capítulo 11

Dizem que quando você está machucado internamente, essa dor se manifesta no seu exterior também.

Você acredita nisso?

Eu não acreditava. Pelo menos não que um coração partido teria esse tipo de consequência.

Hoje faz uma semana que Frank invadiu o meu estúdio e toda a merda aconteceu; seis dias que ele saiu desta casa e, talvez, da minha vida; cinco dias que eu não saio da cama. Dois dias que a minha vida perdeu completamente a sua vitalidade.

A comida já não tem o mesmo gosto e cheiro e às vezes tenho a impressão que eles são inexistentes. Mas isso não importa, afinal eu quase não comi nada todos esses dias. 

Eu não tenho ânimo para nada...

Me sinto extremamente cansado, o desgaste é tanto que não se restringe apenas ao emocional, pois me sinto fisicamente cansado. Eu não tenho vontade alguma de sair da cama e por mais que eu tenha uma das camas mais caras do mercado, constantemente me sinto desconfortável nela.

Meu coração se encontra repartido ao meio pelas palavras duras de Frank e a culpa que me consumiu por completo. A ferida em meu peito é tão profunda que sinto minha caixa torácica doer e, por vezes, o ar falta em meus pulmões.

Em minhas frequentes crises de choro, eu simplesmente entro em estado febril e suou frio.

Minha cabeça constantemente arde em uma dor dilacerante, parecendo que quanto mais eu penso nele, mais o incômodo se agrava.

Como se não bastasse tudo isso, eu me arrependo amargamente de ter tomado um banho gelado (o último que me recordo, desde que Iero se foi), esperando relaxar um pouco e, ao invés disso, agora uma tosse seca e extremamente chata está me atormentando, esta provocou uma dor de garganta horrível.

Como pode constar, eu sou a prova viva de que a cresça popular citada inicialmente é verdadeira.

Posso dizer com a certeza: eu nunca estive pior em toda a minha vida, tanto física, quanto psicologicamente.

Meu psicólogo me tortura em pensamentos constantes sobre a minha vida e, principalmente, sobre Frank, afinal, quando se está neste estado mórbido que me encontro, tudo que se tem a fazer é pensar. 

Dizem que é olhando para o passado que se encontra o caminho para um futuro melhor… Sendo assim, rever a história da minha vida, me parece um ótimo passatempo.

São poucas as coisas que eu me recordo da minha infância, mas tenho certeza de que ela foi regada de muitos mimos característicos de uma criança criada num berço de ouro. Tudo era me dado e nada eu tinha a chance de conquistar. Isso até que era uma coisa boa, até o momento em que eu tive que lidar com pessoas que não eram os meus pais ou seus subordinados, pois o resto do mundo não iria me tratar da mesma maneira mimada que minha família.

A primeira a me ensinar isso foi a escola e, como o aluno exemplar que sempre fui, eu aprendi. Aprendi que o mundo não tem paciência e nem espaço para pessoas mimadas. Também me foi ensinado algo muito especial: a sensação de conquistar algo é uma das melhores que existem.

Me lembro que eu até tentei ensinar isso ao Mikey, para que ele não precisasse passar pelas situações desagradáveis que eu passei, mas não tinha muito o que eu pudesse fazer, afinal eu não não tinha a função de educá-lo. Entretanto, eu sempre soube que independente das atitudes tóxicas dos pais, Mikey seria melhor do que aquilo, mais cedo ou mais tarde.

Quarantine Limits  ✱  ғʀᴇʀᴀʀᴅOù les histoires vivent. Découvrez maintenant