6º "Reencontro"

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A família Gapso tomava café da manhã. Em silêncio. Apreensão aos ares. Audrey desejava contestar sobre a noite anterior, mas assim como seus pais, preferia se aquietar. Quando terminou de comer, levantou-se e já ia para seu quarto. Entretanto, ao sair da cozinha, escutou a voz de seu pai.

— Drey, que tal sairmos hoje?

Audrey demorou a responder. Era difícil ter de aceitar uma pergunta natural, devido tais decorrências. A voz de seu pai era de angústia e se ela respondesse imediatamente, imaginava que a sua também assim soaria. Não queria passar essa impressão. Portanto respirou fundo, ainda de costas para mesa, apoiando-se ao batente da porta da cozinha, tentando responder espontaneamente.

— Acho que pode ser. Onde?

— Podemos ir ao shopping, ver algum filme – enquanto respondia, Audrey se voltou em direção a cozinha e ficou parada encostada na porta. Não iria querer enrolação naquela conversa. – Ou podemos ir ao parque aproveitar o Sol. Ou tudo, se der tempo! – a voz de Harry se recuperava. – O que acham?

Sua filha assentiu e olhou para sua mãe, a qual passara a manhã toda de forma reservada. A mulher não interagiu momento algum, mas Audrey imaginava que ela faria parte dos planos propostos por Harry. Ao que indicava, o homem não queria voltar tão tarde do passeio planejado, então Audrey decidiu aceitar todas as estranhezas que aparecessem ao longo do dia, pois sabia que em determinado momento receberia alguma caixa e com esta, clareações deveriam vir juntas.

Os três foram se arrumar e quando Audrey já estava pronta para se encontrar com a família, seu celular tocou.

— Oi Claris. Tudo bem?

— Oie. Tudo sim e você?

— Tudo certo – mentiu Audrey, sem perceber a quão desanimada soou sua voz.

— Só para avisar, o trabalho está impresso. Eu fiquei com a introdução, como os vulcões se formam e você fica com a sua parte queridinha de solos, certo?

— Certo – concordou Audrey, sem muito entusiasmo. — Vou lendo nesses dias. Até quinta eu decoro.

— Ok. E então, novidades? Não está com uma voz muito boa.

— Tá tudo certo... – mentiu outra vez. Queria contar para sua melhor amiga, mas não sabia nem o que de fato acontecia. – E você?

— Nossa, eu tenho! – empolgou-se Clarisse. Audrey imaginou que uma notícia boa poderia animar seu dia. – Minha melhor amiga está mentindo pra mim, acredita – falou em seu tom sarcástico usual. Mesmo chateada com todos os acontecimentos, sua amiga fez com que Audrey deixasse um sorriso escapar. – Mas tudo bem. Ela pensa que me engana, mas na escola terei uma conversa séria com ela.

— Então tá. Boa sorte com isso.

— Tranquilo. Eu consigo.

Audrey terminou de conversar com sua amiga, sentindo-se menos pior, e voltou para sala. A família, então, saiu de casa e começou a caminhar até o parque. Harry era o que mais falava e com um ótimo humor. Tentava fazer com que sua filha e sua mulher se contagiassem com esta felicidade, o que estava difícil. Elas riam, mas com uma empolgação bem menor.

Com certeza o dia estava alegre. A luz solar refletia sobre o ambiente, colorindo a paisagem. As flores, árvores, casas e animais pareciam mais vivos. Com exceção aos três. Tinham que fazer esforço para se contentarem com o brilho ao redor. Chegaram fingindo ânimo, como se fosse uma obrigação suas presenças ali. Não muito tempo após, Audrey avistou uma mulher pálida há alguns metros na frente deles. Ela estava só, parecendo à espera de alguém. Não se lembrava de onde, mas tinha a certeza que já a vira anteriormente. No que começou a buscar em suas lembranças de onde ela era, seu pai disse que iria falar com a mesma, então Audrey suspeitou que seria uma amiga de seu trabalho. Talvez a tenha conhecido em algum evento, sem se recordar com exatidão. Audrey e Laís pararam de andar por um momento, esperando que o pai terminasse a conversa. Harry e a mulher pálida encontravam-se em uma distância que Audrey e Laís seriam incapazes de ouvi-los. A garota reparou que ambos eram bem próximos. Longos minutos se passaram. Em dado momento, Audrey notou que seu pai não parava de passar os dedos ao redor dos olhos dela, como se limpasse lágrimas.

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