11º "Fotos"

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— Como foi o primeiro dia? – perguntou Laís, enquanto falava com sua filha ao telefone.

— Foi... Diferente do que estou acostumada – respondeu a garota, temendo para que não falasse muito além do que podia.

— E as pessoas? Fez amizades? – perguntava a mãe, com uma certa animação na voz. Audrey apenas contou sobre Helena, a nova colega que morava com ela e que parecia ser uma boa pessoa. – Mais alguém? – insistiu, parecendo não estar satisfeita.

Ela não queria contar, mas não ia ter como fugir do assunto, pois sua mãe sabia. Se nunca tinham mencionado nada sobre aquele mundo, com certeza não teriam como contar sobre Paula. Não obstante, Laís deveria considerar que Paula seria uma das "coisas boas" que ela encontraria nessa escola. Por seus pais acharem que elas voltaram a ser amigas pouco depois do desentendimento que tiveram anos antes, não teriam o porquê prepará-la para este reencontro.

— Ela está aqui, mãe. Nos vimos hoje – contou Audrey, tentando não demonstrar o descontentamento em sua voz.

— Fico muito feliz que tenham se reencontrado. Seu pai e a mãe dela se conheceram aí! – contou Laís. – Que bom que pelo menos você já tem um vínculo.

— É, mãe. Que bom...

Passaram a noite conversando. Era até bom não poder falar no telefone sobre aquela nova vida, evitando conversas depreciativas.

Como solicitado por Karen, Audrey e Helena se arrumaram para a foto. A primeira ficou sabendo, ao conversar com a sua nova colega, que todo ano essas fotos são tiradas. Um dos motivos, era para registrar e anunciar os alunos novos, compartilhar para todos do mundo deles, quem chegou a Coharnil, seu histórico e virtude. Outro motivo, era para que fosse descrita a evolução dos alunos antigos. Por isso, todos os alunos deveriam participar da foto.

Audrey não fazia questão de tirar foto com algum objeto que remetesse a sua virtude. Nem mesmo teria um, pois tudo ali, para ela, era uma grande novidade. Por curiosidade, apenas procurou algo que pudesse retratar algum significado. Durante a procura, reviu as fotos que trouxera, e cogitou em levar alguma de lembrança expressiva. Todas com seus amigos, Ivan e seus pais lhe causavam impacto, mas nada o suficiente para querer registrar naquele mundo. Foi procurar se tinha alguma a mais esquecida na mochila, ao encontrar a caixa de que seu pai lhe entregara, com os talvez "minis chips". Em conversas recentes com sua mãe, Audrey questionou com ela se sabia o que eram, apesar de seu pai falar que não lembrava deles. Laís disse que também nunca soube, mas como seu pai era uma espécie de cobaia para os estudos da fusão, deveria ser algo relacionado. Como não deu certo, o melhor mesmo seria se livrar deles. Já teria de entregá-la a Karen e a mesma era quem tiraria as fotos. Por isso resolveu levá-la e usar na hora do registro.

Chegaram em frente à sala que estiveram há poucas horas e aguardavam quem estivesse lá dentro sair, para poderem entrar. Logo mais, a porta se abriu. Karen e um garoto, cujo Audrey se recordava bem, terminavam de conversar. Era o aluno que estava sentado ao seu lado durante as apresentações. Tentou lembrar o nome e a virtude dele, mas não conseguia. Rapidamente soube o porquê. Aquele garoto não se apresentou. Também era o mesmo que Fred atacou, dizendo que ele não tinha poder. Será que realmente não tinha?

— Ele não se apresentou, né – perguntou Audrey a Helena, quando o garoto finalmente saíra da sala.

— Não. Depois te explico – respondeu Helena, em cochicho. — Quer ir primeiro?

Antes que pudesse responder, Karen chamou as duas para entrarem.

— Audrey, Helena! Que bom que vieram juntas. Podem entrar.

Sem questionarem, seguiram a ordem da professora.

A sala estava montada semelhante a um estúdio real de fotografia. Uma lona branca em uma tela ao fundo e luzes ao redor para uma boa iluminação. Apenas a máquina fotográfica – pelo menos foi como Audrey julgou a ser – que era diferenciada. Em um tripé, que ficava na altura do aluno que fosse tirar a foto, havia apenas uma pequena esfera, de um material que Audrey não conseguia identificar o que era, mas se assemelhava a uma borracha translúcida e de cor clara. Nela, um fio se conectava em uma ponta e na outra, se ligava a uma tela parecida de um computador, que era do mesmo material da provável câmera.

Elementos DiversosWhere stories live. Discover now