4º "Calçada"

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Audrey não conseguiu mais dormir naquela noite. Eram tantas perguntas para zero respostas. Seu pai falou que tudo aquilo seria explicado. Todavia, não sabia se aguentaria esperar o esclarecimento sobre algo que parecia ser impossível de acontecer no mundo em que ela vivia; e acreditava que todos os demais indivíduos também. Repassou em sua mente diversas vezes aquela cena. Fora algo tão vívido. Lembrava do desespero que sentia, não compreendia o choro de seu pai...

Sentou-se em posição fetal, rangendo os dentes, apoiou a cabeça sobre os joelhos, tudo com intensidade, para não chorar, o que fora inevitável.

Quando sua tremedeira pareceu querer amenizar, saiu com calma de sua cama e com muita tranquilidade, juntou o uniforme que usaria aquele dia e foi tomar um banho, para tentar relaxar. Fez tudo o mais devagar possível e ainda faltava meia hora para dar o horário que costumava levantar. Viu alguns vídeos cômicos para esfriar a cabeça, o que quase não teve efetividade.

No que o despertador tocou, Audrey desceu para cozinha, preparou seu café da manhã e o aproveitava com muita paciência. Sentia-se menos pior, até o momento em que viu seu pai entrando na cozinha. Arregalou seus olhos e a tensão interna voltou. Parou de comer no mesmo instante. Além da pesada respiração que tinha, não sabia mais o que fazer.

— Querida! Bom dia – exclamou Harry, surpreso ao avistar Audrey. – Sempre desço antes que você. Se arrumou rápido hoje, hein.

Abraçou sua filha e ao reparar que esta não teve reação, sentou-se ao seu lado, passando a mão com delicadeza em seus cabelos.

— Estou achando que você está cedo aqui não por ter se trocado rápido, estou certo? Está tudo bem?

Audrey estava impressionada pela preocupação e desentendimento no olhar e na voz de seu pai. "Como ele pode não se lembrar do que aconteceu esta noite? Porque se lembrasse, com certeza não estaria fazendo estas perguntas", pensava. "Apesar que foi tudo tão natural pra ele... Mas ele sabe que para mim não".

— Filha? – chamou o pai, esperando alguma resposta.

— P-pai, o que ac-conteceu essa noite? – gaguejou Audrey, ainda com a certeza de que eles passaram pelo mesmo acontecimento durante a madrugada.

— Como assim? – Harry parecia não fazer ideia sobre o que sua filha falava. A garota soltou um longo suspiro nervoso, deixando o pai ainda mais confuso. – Você não dormiu bem?

— Você não se lembra mesmo do que aconteceu? – questionou a filha, atônita.

Harry demorou alguns segundos para responder, relembrando sobre a noite anterior.

— Logo depois que chegamos em casa eu jantei, vi as cidades que eu preciso passar hoje e fui dormir. – Audrey balançava a cabeça, indignada por seu pai não estar compreendendo. – O que aconteceu que eu não fiquei sabendo?

— Pai! – bradou Audrey, sem aguentar mais. – Eu e você fomos parar num lugar estranho. Eu não faço ideia de onde e principalmente o que aconteceu! Mas era um lugar branco, aí ficou preto... E uma luz engoliu você! Eu desmaiei e depois, não sei como, voltei para minha cama.

Harry riu com as palavras ditas, como se achasse que era apenas um drama de sua filha. Ao perceber que ela falava com seriedade, passou a demonstrar espanto.

— Lugar estranho, Audrey? Luz que me engoliu? Deve ter sido tudo um sonho, meu amor – dizia, tentando acalmá-la. – Estamos todos bem e aqui.

— Eu sei diferenciar um sonho do real, pai. E mesmo não sabendo como aquilo era real... Sei que era!

— Calma, filha, calma – abafou o pai tenso, percebendo a afobação crescendo em Audrey. – Existem alguns sonhos que parecem muito reais mesmo, normal. Você acabou de acordar de um sonho bem louco, pelo jeito. Daqui a pouco você se acalma, viu – afirmou Harry, confiante do que dizia.

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