PRÓLOGO

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Mais um dia comum se seguia. Há pouco, Harry retornara de seu exaustivo serviço e Laís passara um longo tempo se dedicando ao seu doutorado. Mas era sexta-feira, o que reivindicava um merecido descanso ao casal. Como costume, planejaram jantar em algum restaurante, para iniciar a paz do final de semana. O marido aguardava sua esposa terminar de se arrumar, sentado na poltrona da sala. O casamento acontecera há quase dois anos e ainda juntavam dinheiro para futuras despesas, por isso economizavam ao máximo, o que incluía não comprar nem um sofá, por enquanto. Independentemente da situação financeira atual apertada, eram um casal feliz e apaixonado.

Estranhamente, Laís demorou para se aprontar, mais do que o habitual. Quando Harry a viu chegar, compreendera o motivo. Ela trazia uma notícia que mudaria suas vidas.

— Meu Deus, Harry – exclamava a mulher, encantada, entregando ao homem um teste de gravidez; de resultado positivo.

Os olhos de Harry se encheram de lágrimas. Abraçou sua esposa com muita intensidade, sem querer soltá-la. Os primeiros minutos de comemoração eram acompanhados de uma alegria infinita.

Os demais, de um imenso terror.

O possível significado de sucessão a este fato, que somente Harry conhecia, o assombrava, da mesma forma que tomava o lugar da euforia inicial. O homem queria continuar a resplandecer felicidade, para acompanhar o entusiasmo de sua mulher e, principalmente, para não assustá-la. No ano anterior, passou a criar esperanças de que seria seguro ser pai. Porém, ao ver certa realidade batendo na porta, percebera que nunca teve a total certeza de que uma tragédia futura não viesse a acontecer. No fundo, sentia que não se salvaria de um destino céptico.

— Amor, o que aconteceu? – estranhou a futura mãe, que por conhecer aquele homem há 7 anos, sabia que algo de errado acontecia.

Harry não queria estragar aquele momento. Sempre soube do imenso sonho de Laís em querer ser mãe e nunca iria querer tirar isso dela. De toda forma, pelo menos deveria ter tido a bravura de conversar com Laís antes, contar alguns segredos, para cogitarem melhor a ideia. Tantos momentos que pareceram oportunos, vinham acompanhados de desculpas.

— Harry – chamou a mulher novamente.

O homem, por sua vez, apenas caminhou para a poltrona, pensando em motivos que o encorajasse a falar. Talvez, ao contar a verdade, poderiam juntos encontrar uma forma de lidar com a situação. E mesmo que optasse por não revelar o fato, este não deixaria de existir... Por isso, escolhia com quais palavras começaria. Acompanhando seu ato, Laís sentou-se em uma cadeira ao seu lado. Percebendo o olhar depressivo do marido, sabia que estava prestes a receber uma grandiosa notícia, cuja não parecia boa.

Harry segurou na mão de sua mulher e a acariciava. Por fim, deu um longo suspiro e se pôs a falar.

— Bem... Você sabe sobre mim... O que tenho de... Diferente... – começou, deixando clara a dificuldade em que se encontrava para se explicar.

— E fico muito feliz por você ter me aceitado assim, mesmo eu sendo uma mera mortal – respondeu a mulher, sorrindo, tentando passar alguma confiança, o que não resultou em sucesso.

— Não fale assim – disse Harry, com a voz trêmula. – Eu te amaria de qualquer jeito, você sabe. E... Também sou mortal. E é exatamente sobre que isso vou falar – Laís olhava intrigada para o marido, mas ficava quieta, para que ele continuasse. – Vai chegar um momento, que bem, eu...

Não sabia mais como prosseguir. Tinha em mente todos os detalhes que deveria contar, o que não o impedia de sentir anseio, pois era imenso o medo de sua mulher se assustar com a nova situação e até repensar a decisão tomada anos antes; a de ficarem juntos.

Começou a chorar. Laís acarinhava sua cabeça, tentando acalmá-lo.

— Relaxe. Respire e me diga de uma vez. Acho que vai ser melhor – pediu a mulher com paciência, ao mesmo tempo que o medo crescia.

— Como a maioria dos filhos de alguém como eu, chegará um momento em que ele começa adquirir seus dons – Harry voltou a falar. – No ano certo, nosso filho ou filha, dependerá de mim, para que... – ele deixou lágrimas caírem de seus olhos outra vez. – Laís, meu mundo é diferente, você sabe. E o estudo que contei que eu faço parte, é pra tentar evitar isso que vou te contar. Mas de verdade, não acho que mudará algo. Nossa criança vai ficar com a minha herança. Ela vai ter que passar pela fusão e quando chegar a hora...

— Fusão? Chegar a hora? Como assim? – perguntou Laís, perplexa.

Então Harry, olhando nosolhos de sua esposa, começou a detalhar.

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