Capítulo 9

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Andamos por horas. A neve voltou a cair e a temperatura também. Cada passo nas montanhas era um convite a permanecer parado, sem gastar mais energia, o que seria um grande erro. Nossas respirações se condensavam no ar e se perdiam em meio à neve, uma lenta procissão de cavalos e homens cabisbaixos seguindo aparentemente sem rumo. Seria difícil imaginar que aquele grupo salvaria a Cidade Imperial.

Era impossível manter o olhar focado em qualquer coisa, até porque a branquidão cansava a vista, mas era a única coisa que podia fazer na tentativa de não pensar em meu pai, nem na missão que tínhamos pela frente. Assim gastei horas olhando para a neve e ao mesmo tempo para o nada... Poderia ter prosseguido assim eternamente até a Cidade Imperial não fosse o grande estouro que quase me derrubou do cavalo.

Primeiro achei que estivéssemos sendo atacados. Zhen, tirado da letargia abruptamente como eu, lançou-se em frente esbaforido e, se fosse realmente um ataque, eu já teria sido morto no tempo que levei para acalmá-lo e me recompor. Outros homens também se recuperavam do susto e Chi Fu estava dependurado na sela, blasfemando.

Olhei para o céu em busca de sinais do ataque, mas o rastro de fumaça não vinha de nenhum inimigo e sim de nossa própria carroça.

A nossa. Própria. Carroça!

Reconheci a figura franzina ao lado do cavalo negro, que por sinal era dele, sem acreditar que Ping tinha realmente usado nossa munição para nos entregar a qualquer possível inimigo escondido na neve!

Ou não tinha passado pela cabeça dele que, se quando chegamos à aldeia ainda havia vestígios do fogo vivo, Shan Yu não podia estar tão longe!

Incitei Zhen a galopar na direção do garoto, me controlando para não esganá-lo.

— O que você fez? — perguntei parando próximo a ele, vagamente ciente de Chi Fu me seguindo. Ping respondeu com sua costumeira falta de resposta para quase tudo que eu questionava. — Denunciou nossa posição! — eu mesmo respondi — Agora...

Mas não consegui terminar minha acusação, pois um impacto me derrubou da sela.

Agora estávamos mesmo sendo atacados.

Uma chuva de flechas começou a cair sobre nós.

No menor tempo que consegui, e grato pela adrenalina impedir que sentisse dor, arranquei a flecha que fincara na armadura.

— Saiam do alcance! — gritei.

A neve atrasava nossa corrida e não havia quase nenhum lugar que pudesse servir de escudo, mas próximo ao desfiladeiro havia um amontoado de pedras e foi para lá que o grupo se dirigiu aos tropeços, fustigados por flechas inimigas.

Atrás de nós não havia nada mais que uma queda livre para a morte... a nossa frente o inimigo atacava ocultado pelas montanhas. Nada em nossa precária posição me agradava ou inspirava confiança, mas eu havia sido treinado para combater em qualquer situação e nada me faria desistir ou recuar.

Na metade do caminho nossa carroça de munição foi incendiada por uma flecha em chamas. O inimigo queria nos causar o maior dano possível do alto, antes de vir ao nosso encontro.

— Salvem os canhões! — gritei. Não tínhamos muitos e o grupo conseguiu retirar poucos da carroça. Mas Ping salvou o cavalo...

Enquanto nos aglomerávamos a salvo nas rochas, passei os olhos em nossa munição. Não duraríamos muito tempo na batalha. A cada ordem para atirar eu sentia que nosso tempo se escoava como neve derretida, mas minha força vinha da vontade de mostrar a Shan Yu que a China não se renderia, que lutaríamos até o último homem estar em pé na batalha.

Li ShangOnde histórias criam vida. Descubra agora