Capítulo 3

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Ao voltarmos para casa embora o assunto ainda fosse a casamenteira e os sucessos iminentes no encontro de noivos adequados para Qingshang e Ru Shi — e infelizmente para mim — a minha preocupação era com meu pai, que já deveria estar aqui e que até então não dera sequer notícias.

Meus pensamentos estavam à milhas de distâncias analisando o que poderia ter acontecido e a conversa entre elas tinha ficado absolutamente de lado.

— Você podia ter agido menos com um oficial, Shang — protestou Qingshan em determinado momento — todo sério.

— Ele sempre foi sério — Ru Shi deu uma risadinha. — E as meninas da vizinhança sempre foram apaixonadas por ele.

Qingshan revirou os olhos.

— Pobres tolas que gostam de oficiais... — ela mal tinha terminado a frase quando levou um safanão de nossa mãe, que enxugava as mãos em um pano. — Mamãe! — ela berrou.

— Você não devia dizer isso, menina ingrata, filha de um general e irmã de um soldado exemplar! Você provavelmente vai se casar com um também!

Qingshan fez uma careta.

— Que maravilha será esperar por um homem que está sempre fora e lavar uniformes quando estiver presente.

— Veja pelo lado positivo! — piscou Ru Shi — ele vai passar mais tempo fora!

— Prefiro eu mesma me alistar no exército — resmungou minha irmã.

— Aí você traria desonra e vergonha para a família. E seria executada — acrescentei, nem me dando ao trabalho de imaginar o desastre que seria uma mulher entre as tropas.

— Você é sempre tão gentil, Shang — Ru Shi comentou.

— Eu sou realista.

— Um oficial. — retrucou minha irmã, mal humorada.

Teríamos seguido com essa discussão infantil se um soldado não tivesse surgido esbaforido à porta. Ele vinha escoltado por outros cavaleiros e os reconheci com o uniforme dos regimentos de meu pai. Naquele momento eu soube que nenhum encontro com futura noiva aconteceria na próxima semana.

Pelo menos não através da casamenteira.

— O general Li requisita sua presença no campo — disse o homem, então acrescentou com um toque agourento na voz — os hunos invadiram a China.

As tropas de meu pai estavam reunidas no acampamento Vu Jong, situado em local estratégico distante da Cidade Imperial, já prontas para o combate, de onde partiriam direto para a fronteira norte, região da muralha que havia sido invadida.

Fileiras de cavalos tordilhos cercavam o acampamento e reconheci as flâmulas com o símbolo do imperador e as cores das tropas do general Li. Fosse lá o que estivesse acontecendo era sério o suficiente para que o imperador decidisse convocar seu próprio povo para lutar. Um homem de cada família tinha sido chamado para se juntar às tropas e engrossar as colunas do exército que defenderia a China... E nossas tropas não eram pequenas, mas nosso território era muito maior, o que me levava a acreditar que nosso inimigo era numeroso e consumiria muito de nossas forças.

Passei pelos novos recrutas sem prestar muita atenção e me dirigi à tenda de meu pai, deixando Zhen aos cuidados de um oficial.

— Ah, Shang! Aí está você! — meu pai me recebeu com um sorriso cordial, não deixando transparecer nada além de sua calma e bom humor tradicional. — Junte-se a mim, eu o estava esperando.

Ele indiciou um mapa posicionado na lateral da tenda e tomei meu lugar junto dele.

— Sua mãe ficou muito preocupada? — ele perguntou casualmente, cofiando a barba que começava a ficar prateada.

Li ShangOnde histórias criam vida. Descubra agora