Isso é amor

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POV Nico Di Angelo

Depois de dias e mais dias deixando que Will cuidasse de minhas asas, elas finalmente estavam prontas para vôo. 

As penas lustrosas e a envergadura alinhada como quando eu as usei pela primeira vez estavam me deixando entusiasmado. Havíamos tomado todos os cuidados, e a ideia era apenas sobrevoar os arredores da casa, mas mesmo sendo um passeio pequeno eu sentia adrenalina nas veias.

Faziam meses que eu não voava, e eu amava voar. 

Estaria com medo de tentar depois de tanto tempo caso não soubesse que era como andar de bicicleta, impossível de desaprender.

- Está esperando um convite? - Meu namorado parou atrás de mim, sussurrando e observando o céu limpo comigo. Um dia lindo para explorar os céus

Comprimi os lábios, minhas asas se agitando um pouco.

- Não, estou esperando uma chance de fazer isso. - Me virei depressa para Will, puxando-o pela cintura e fazendo-o rodear  meu pescoço com os braços.

- O que-

Antes mesmo que ele terminasse de falar eu já tinha dado o primeiro impulso e levantado vôo. Sem calma e sem delicadeza alguma. Tive certeza de que o grito de Will podia ser ouvido de qualquer lugar naquelas montanhas, e ele me apertou com braços e pernas. Abracei seu corpo com força, planando mais baixo para tentar acalmá-lo.

A sensação era indescritível, meu corpo se impulsionando involuntariamente, o vento cortando nossos rostos e as penas sendo sopradas contra a brisa.

- Nico Di Angelo, me põe no chão! Eu não quero morrer, não quero cair! - Comprimi os lábios para não rir enquanto sentia Will bater em meu peito e gritar em plenos pulmões.

- Ei, não vou deixar você cair. - Busquei os olhos de Will, que olhavam ao redor assustados e com certa raiva, que achei que era direcionada a mim. Estava me segurando para não gargalhar do medo aparente dele. Consegui fazer com que sua atenção ficasse em mim, e sorri um pouco. Bati as asas devagar para evitar assustá-lo mais e selei nossos lábios calmamente. - Confia em mim. - Observei Will assentir, ainda que tivesse as mãos tremulas, e mesmo depois disso fiquei algum tempo esperando que ele se acostumasse com a altitude. Firmei mais minhas mãos ao redor de sua cintura e apoiei minha testa na dele. - Agora feche os olhos. 

As íris azuis se esconderam sob as pálpebras, e talvez isso fosse apenas um pretexto para que eu pudesse admirar Will sem ser pego em flagrante. Na altura em que estávamos seus cachinhos loiros eram soprados para o lado pelo vento, e seu corpo estava retraído e colado em mim por causa do receio.

Enrolei as asas em torno de nós dois e ganhei os céus, girando enquanto subia até perto das nuvens. Meu loiro estremeceu em meus braços quando passamos por dentro das densidades fofinhas que carregavam chuva e, lá em cima, perto de onde os aviões planavam, o vento não existia, nem o som dos galhos das árvores e nem a luz da cabana.

- Eu já posso abrir os olhos? - Will disse, meio amedrontado, suas mãos ainda me apertavam com força desnecessária. Beijei cada uma de suas pálpebras, encostando nossas testas antes de responder.

- Sim. 

O Solace o fez devagar, abrindo os olhos um por um e olhando ao redor. Pude ver quando ele engoliu em seco e balançou os pés, como quem busca apoio. 

- Nós… estamos bem alto.

- Estamos sim. - Confirmei, lhe roubando um selinho para ter sua atenção. - Não precisa sentir medo, eu to aqui, te segurando.

Quase achei que ele se soltaria quando suas mãos em meu pescoço se afrouxaram, mas Will apenas impulsionou o próprio corpo e rodeou as pernas em minha cintura, firme e com muita força. Realoquei minhas mãos para suas coxas, rindo um pouquinho quando ele apertou meus ombros também, ficando tão preso a mim quanto uma mochila.

EnviadoOnde histórias criam vida. Descubra agora