Pombo correio com patas peludas

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POV Nico Di Angelo

Abri os olhos, mirando o teto de madeira da cabana. O sol sequer havia nascido completamente, uma metade do céu ainda estava escura, mas de qualquer jeito eu já havia me acostumando, não tinha conseguido dormir muito mais que isso nos últimos dias. 

Me virei um pouco para o lado, mantendo os braços que circundavam minha cintura e ficando frente a frente com Will. Ele dormia de boca aberta, e mesmo que roncasse baixinho eu achei uma graça. Beijei sua bochecha e me levantei de fininho, algo que jurei já ser um expert de tanto que fazia, mas aparentemente não. 

- Fica aqui. - Senti a mão de Will agarrar meu braço, a voz não tão sonolenta entregando que talvez ele tivesse acordado antes mesmo de mim. Fui prontamente puxado para a cama e abraçado com força, ficando preso ao loiro. 

- Eu só vou no banheiro. - Garanti, rindo um pouquinho quando o senti me ajeitar até que eu estivesse em seu colo. Só então o Solace me olhou, um pouco preocupado. Demorei a entender o porquê, até ele erguer uma sobrancelha que dizia claramente "se mutilar?" - Fazer xixi, prometo. - Completei depressa.

Will não havia mais deixado que eu cortasse minhas asas, e agora sempre que saía tinha que usar moletons e casacos para esconder o que vinha crescendo. Estavam bonitinhas, já tinham quase metade do tamanho que deveriam e Will limpava e cuidava delas para mim. Em alguns dias eu devia poder voar novamente

- Tá bom. - Ele retribuiu meu sorriso, mas apesar de tudo não fez nenhuma menção de se afastar.

- Precisa me soltar. - Murmurei, apesar de fazer um carinho em seus braços que me rodeavam.

- Não preciso não. - Segurei o riso quando Will enfiou o rosto no meu peito e ficou ali. E eu deixei, sem mais objeções, óbvio que deixei, estava completamente rendidinho.  - Você vai na cidade hoje? 

Suspirei, era longe e agitada demais comparada a casinha no campo em que estávamos vivendo, eu não queria ir. Mas olhei nossos abastecimentos no fim, nosso café da manhã poderia ser pão com geléia ou geléia com pão. Eu queria cereal froot loops.

- Uhum, precisamos de comida. - Murmurei, fazendo carinho em seus cabelos. Não arriscaria deixar Will ir até lá, já que era fora da barreira de proteção da mamãe, agora que Hades sabia que podia usá-lo contra mim. - Tem alguma coisa especial que você queira?

- Você. - Ri um pouco da resposta rápida dele.

- Alguma coisa de comer, Babe. - Me soltei devagar do seu colo, lhe dando alguns segundos para pensar.

- … Você. - Demorei um pouco para entender o sorriso ladino de Will.

- Idiota. - Me levantei rindo, empurrando de leve seu ombro antes de ir para o banheiro.

- Morangos!

Fingi não ouvir seu pedido, mas de qualquer jeito ele sempre pedia algo doce, e eu sempre trazia apenas por gostar de ver o sorrisinho feliz de Will quando me ajudava a guardar as compras e encontrava o que queria na sacola.

(...)

Escolhi as bandejas mais bonitas que encontrei de morangos, e mais tudo que precisaríamos para semana em abundância. Aproveitei a oportunidade para parar em um mercado e comprar ovos e farinha, já que pretendia fazer as massas que havia aprendido quando criança para Will experimentar. E claramente as massas italianas que eu fazia eram muito melhores do que qualquer uma industrializada que eu pudesse encontrar.

Verdade seja dita, eu me sentia uma senhorinha andando pela feirinha com duas sacolas retornáveis com estampas de flores em cada mão enquanto pensava num jeito de agradar meu namorado pela barriga. 

EnviadoOnde histórias criam vida. Descubra agora