Noite Sombria e Perversa

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Assim que chegamos na sala, escutamos alguém vomitando. Az diz que é tia Mor. Isso é o suficiente para saber que a situação está fodida demais.

Uma illiryana usando roupa de combate sai da cozinha com uma bandeja repleta de chás. Eu nâo a vi muitas vezes, mas sei que é Emerie. 

- Consegui fazer as crianças beberem os calmantes - fala ela para Az. - Estão todas dormindo no quarto da Feyre.

- Podem explicar o que está acontecendo? - pergunto, beirando o desespero. 

Meu tio assente de novo e pede para Emerie fazer isso enquanto ele cuida de Mor. A illiryana nos leva até a sala. Quando nos sentamos, ela entrega uma caneca de chá para mim e outra para Nephelle, mas não vou beber até ter certeza do que está acontecendo.

- Nestha e Elain não foram as únicas feitas pelo Caldeirão - diz ela, calma gélida e impenetrável. - Sem que ninguém visse, Hybern fez uma terceira mulher entrar no Caldeirão. Ela já era grã-feérica. O que Hybern não sabia era que Serena já era o mal encarnado.

"Serena não conseguiu roubar nada inteiro do Caldeirão, mas roubou fagulhas de cada um dos poderes que restavam Nele. Durante todos esses anos, ela estudou formas de conseguir ativar essas fagulhas, de uni-las em uma só coisa, e descobriu um jeito."

Um filme de memórias está passando na minha mente, contra a minha vontade. O dia em que minha mãe tentou me ensinar a pintar e eu acabei engolindo toda a tinta do pote porque achei que tinta vermelha teria gosto de morango; o dia em que tia Nestha e eu passamos o fim de semana inteiro trancadas na biblioteca dela escrevendo o nosso próprio livro de romance e aventura, com uma mocinha que era mais forte que o mocinho;  quando tia Elain me ensinou a fazer tintura usando flores e pintou todo o meu cabelo de rosa e azul. Meu pai quase caiu duro quando viu, mas a história rendeu boas risadas depois. Todas essas memórias ficam me açoitando, como se dissessem que nunca mais vou te-las, que nunca mais vou ver minha mãe e minhas tias. 

- Que jeito? - pergunta Nephelle, discretamente passando o braço envolta da minha cintura e me puxando contra ela. 

- Há essência do Caldeirão em Elain e Nestha. Se Serena conseguir tirar essa essência das duas e coloca-la em si mesma, poderá acabar com o mundo em questão de dias. 

- Não tem como tirar a essência de um feeéico, tem?

Emerie faz que sim, lentamente, e tira um manuscrito do bolso. 

- Encontraram isso hoje de manhã. Alguém avisou sobre Nefasta e sua localização, uma mansão abandonada num bosque, e, quando Rhysand e Az chegaram lá, encontraram isso.

" Sobre um altar de obsidiana, coloque o corpo daquele que deseja extrair a essência. Prense o corpo com cinco grandes blocos de obsidiana, e coloque mais cinco sobre estes, três vezes, até que os ossos quebrem e os tecidos rasguem. Deixe uma travessa de prata aos pés do altar; a essência escorrerá até lá quando a vida deixar o corpo."

Abro a boca para perguntar onde estão Nestha e Elain, mas Emerie é mais rápida.

- Serena estava soltando o primeiro bloco sobre Nestha quando Rhys e Az a encontraram. Ela está com Cassian agora, tentando... se recuperar. Não encontraram Elain, mas o cheiro dela estava na casa, assim como isso - Emerie tira um brinco do bolso. É uma pequena e delicada flor, presente de Mor. Então é por isso que Morrigan está vomitando... Deuses.

Um grito irrompe, alto e ensurdecedor, vindo do banheiro. Contudo, não é de Mor. É masculino, desesperado e...

Az esta encolhido no chão, envolvido por suas sombras, as mãos segurando a cabeça como se esta fosse explodir. Mor está caída no canto do banheiro, inconsciente. As sombras dele se agitam ao redor do seu corpo e do dela, como se tentassem salvá-los.

- Foi o Rhysand - ofega ele entre os dentes. - Quando ele perde o controle, sua dor explode dentro das nossas mentes. É como um laço de parceria, mas entre irmãos - ele grita de novo e se encolhe mais. Meu sangue parece gelo. Azriel não grita, nunca gritou! - Feyre... Serena pegou Feyre.

Estas são suas ultimas palavras antes de ficar inconsciente, todo o corpo branco e suado de dor. 

Seja racional seja racional seja racional  seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional seja racional.

Viro-me para Emerie e pergunto:

- Sabe onde Serena está? 

- Os manuscritos mencionam um lugar cheio de morte e dor e paz, e-eu não tenho ideia de onde é isso - acho que Emerie vai ser a próxima a desmaiar.

Lugar cheio de morte e dor e paz.

A colina onde aconteceu a batalha de Hybern.