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Décadas após a Guerra, o Círculo Íntimo aumetou de forma considerável. Não que Rhys ou Feyre tivessem feito novos amigos. Os tempos de paz deixaram eles e os outros membros do Círculo com muito tempo livre, e sabemos o que os casais fazem no tempo livre.

Feyre e Rhys fizeram eu e meus dois irmãos; Mor e Elain adotaram duas crianças; Azriel e Lucien apadrinharam uma bebê órfã que encontraram em uma de suas viagens e Nestha e Cass tiveram um único filho, graças aos deuses.

Os gêmeos de Mor e Elain, Sarah e Kieran, são relativamente chatos, mas é raro que crianças de quatro anos sejam legais;

Nephelle, de Az e Lucien, é legal, exceto quando decide existir.

Meus dois irmãos, Nyx e Alis, são... Bem, eu gosto deles, são meus irmãos, mas sinto falta da privacidade que eu tinha antes deles nascerem. E também sinto falta de quando minha mãe trançada apenas os meus cabelos, ou quando papai contava histórias de ninar apenas para mim. Na verdade, com exceção a Nephelle e Rohan, que não moravam na Casa conosco, fui a primeira criança do Círculo Íntimo, e tive muitas exclusividades. Ia ao Rita's com tia Mor, cuidava do jardim com tia Elain, aprendia luta e vôo com Az... Mas tudo isso acabou quando as outras crianças vieram. Mor e Elain estavam cansadas demais para fazer qualquer outra coisa além de dormir no seu tempo livre; Az e Lucien estavam sempre ocupados ou treinando Nephelle ou viajando para a Corte Outonal; então vieram Nyx e Alis, e meus pais se focaram totalmente neles. Não que eu estivesse com ciúmes, mas tinha 2 anos quando Alis nasceu, e 7 quando Nyx. Eu também precisava de carinho e atenção.

Na ordem de idade, sou a terceira mais velha:

Nephelle - 18 anos, embora às vezes pareça uma general de 600;

A praga que tia Nestha gerou, conhecida popularmente como Rohan, com 18 anos (ele é três meses mais novo que Nephelle);

Eu, Calen, com 16;

Alis, com 10 anos;

Nyx, 5;

Sarah e Kieran com 4.

Num geral, gosto de todos eles - Rohan não entra nessa lista. Apenas sinto falta de quando éramos apenas eu, meus pais, Mor e Elain. Az, Lucien e Nephelle viajavam muito; Nestha e Cassian tinham a própria casa perto da nossa, mas após a reforma illyriana, tio Cass queria que seu filho crescesse no acampamento.

Em suma, fui a única criança da casa por muito tempo, e era assim que eu queria continuar.

- Filha? - Minha mãe abre porta rapidamente, sem bater. Se um dia ela me pegar em um momento constrangedor, a culpa não será minha.

Fecho o livro e ergo os olhos para ela. Ainda acho estranho o quão nova minha mãe parece. Sei que ela tem quase sessenta anos, e também sei que isso não significa porcaria nenhuma para um feérico, mas ainda assim acho estranho.

- Seus tios chegarão daqui a pouco - sorri ela. Minha mãe sempre fica radiante quando se encontra com eles.

Eu também sorrio, afinal estou com saudades de Nestha e Cass, porém meu sorriso some ao lembrar que, se eles vierem, Rohan também virá.

- Não gostou da surpresa? - o rosto da minha mãe fica preocupado, e ela se senta na cama, pondo a mão no meu joelho. Me encolho involuntariamente; não gosto que encostem em mim.

- Gostei, sim, apenas estou com um pouco de enxaqueca - balanço o livro, para dar ênfase. - Li muito hoje.

- Quer que eu prepare um chá para você?

- Não, não precisa. Vou tomar um banho, tirar um cochilo e logo estarei melhor - me levanto, devolvendo o livro à estante, e dou um sorriso para minha mãe.

Assim que ela sai do quarto, pego meu pijama e uma toalha e vou para o banheiro. Deveria vestir uma roupa digna de receber meus tios, mas a verdade é que eu não quero ver ninguém. Quero que meu cochilo dure até a manhã seguinte, no mínimo, porque realmente li demais e estou com dor de cabeça, e ver Rohan não irá melhorar isso.

Rohan e eu fomos melhores amigos até meus nove anos. Certo dia, recebi um bilhete dizendo: me encontre no Arco-Íris ao pôr do sol. O bilhete estava assinado por Jesse, o garoto do qual eu gostava. Fui até o Arco Íris e esperei pelo pôr do sol.

O sol se pôs. As pessoas começaram a voltar para suas casas. A noite começou a cair, e eu tenho medo de escuro - sim, eu sei o quão patético isso soa. Tempestades eram raras em Velaris, mas não eram impossíveis. Quando começou a chover e trovejar, no meio de toda aquela escuridão, entrei em pânico e corri, simplesmente corri sem rumo até tropeçar e enfiar um galho de árvore na perna. Tentei me levantar, mas apenas ganhei um pulso torcido. Todo o Círculo Íntimo me procurou durante a noite inteira, e foram tio Cass e Rohan que me encontraram. Voltamos para casa, mas eu já estava bem... acabada. Eu era uma criança com fobia de escuro que passou a noite inteira chorando e sangrando durante uma tempestade, você esperava o que?

Passei a dormir com a luz acesa todas as noite e desenvolvi fobia de lugares. Lugares escuros me deixam em pânico, lugares grandes demais ou pequenos demais também me dão agonia. E, além disso, a perfuração na minha perna infeccionou. Meu pai chamou os melhores curandeiros que ele conhecia, mas até hoje tenho uma cicatriz horrível e sinto uma dor infernal quando fica frio ou faço muito esforço físico. Meu sonho era ser treinada no acampamento illyriano para que, no futuro, eu me tornasse uma instrutora e treinasse outras crianças feéricas. Acho que não preciso dizer que, aos 10 anos, quando tentei entrar no acampamento, minha perna falhou e eu despenquei de um penhasco de vinte metros.

A questão é que tudo isso aconteceu por culpa daquele maldito bilhete. Porém, não foi Jesse que mandou o bilhete. Foi Rohan. Ele me contou isso quando tive uma crise de ódio e arremessei uma faca na direção de Jesse.

Minha cabeça lateja mais. Entro na banheira e deixo a água escaldante queimar minha pele. Tento relaxar, mas não consigo, e a dor de cabeça só aumenta.

Certa vez, em algum lugar, ouvi dizer que os orgasmos curavam enxaquecas. Bem, se não der certo, pelo menos terei tido alguma diversão no dia. Tranco a porta e volto para a água, onde começo a me tocar.

***

Depois do primeiro orgasmo, metade da dor já foi embora. Eu ainda estou muito ofegante, cansada, mas se todo esse esforço será para me livrar dessa dor de cabeça chata, então vale a pena.

Enterro o rosto na curva do braço para sufocar os gemidos. Estou quase lá, quase lá...

- Que delícia.

Mil palavrões se formam em minha mente quando ergo o rosto, pegando fogo de vergonha, e vejo Rohan parado na porta do banheiro, me encarando. Ele estava ali aquele tempo todo?!

Quero gritar, expulsá-lo dali, me cobrir com a toalha, mas não consigo. Estou paralisada de vergonha. Eu estava num momento íntimo demais, e seria constrangedor se qualquer pessoa me visse, mas Rohan ver aquilo é pior do que a morte.

- Então esse é o seu cochilo? - pergunta ele, entrando no banheiro e fechando a porta atrás de si. Seus olhos castanhos percorrem meus seios, minha barriga, o lugar onde minhas mãos estavam a poucos segundos, e então sobem e encaram meus olhos. Seus lábios de curvam num sorriso perverso.

- Saia daqui agora - Por mais que eu me esforce, minha voz fica trêmula.

Rohan se aproxima mais e para de frente para o espelho, encarando o próprio reflexo. É ruim odiá-lo e não poder chamá-lo de feio. Ele tem os cabelos dourados e lábios fartos de Nestha e os olhos escuros e zombeteiros e o maxilar marcado de Cass.

- Vou contar para todo mundo - fala ele, fingido estar muito interessado em esfregar uma mancha inexistente no espelho.

Não. Eu morreria de vergonha; não queria que ninguém soubesse daquilo, ninguém.

- O que quer em troca?

Rohan se vira para mim e se apoia casualmente na bancada de mármore da pia. Seus olhos brilham de perversidade.

- Haverá um baile no fim de semana - fala ele. - Preciso de uma acompanhante.

Ele podia chamar Nephelle, podia chamar qualquer uma, porque ninguém recusaria o convite dele. Mas não nego. Apenas assinto, sentindo o peito apertar e os olhos queimarem.

Noite Sombria e Perversa Where stories live. Discover now