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CALEN

Durante o jantar, o clima está péssimo. Embora meu pai tente dar uma animada, não há como romper o silêncio por muito tempo; ninguém está afim de conversar hoje.

Discretamente, fico observando Rohan e Nephelle. Eles estão sentados de frente para mim, mas consigo perceber que estão de mãos dadas sob a mesa. Seria estranho da minha parte dizer que sinto falta da implicância deles? Nas últimas semanas eles realmente foram monstros, mas, antigamente, era algo mais leve, sem tanta crueldade. Agora, os dois parecem estar trancados no mundinho deles, trocando olhares vez ou outra como se estivessem se comunicando mentalmente, por mais impossível que isso seja e...

Espere. Não é tão impossível assim. Meus pais fazem isso, tia Nestha e tio Cass fazem isso também, porque são parceiros. Nephelle disse que gosta de mim, mas Lucien gosta de Azriel sendo parceiro de Elain, então...

Será que Rohan e Nephelle são parceiros? A Mãe olha para mim e dá risada.

Olho para o meu prato de comida intocado. A única que está se alimentando é minha mãe, mas, considerando os três bebês em sua barriga, ela está comendo pouco. Ainda parece pálida e assustada devido ao que Serena fez, embora eu não saiba o que (papai diz que não é a melhor hora para eu saber dos detalhes). Rhys nota isso e, após alguns minutos encarando-a, com certeza se comunicando pelo Laço, ele se levanta e diz:

— Vou buscar a sobremesa. Pequena, pode me ajudar?

— Claro — embora eu queira sair correndo daqui, me levanto bem devagar. Não sei se foi por causa do tombo, mas minha perna não para de doer. Fiz massagens e todos os alongamentos possíveis, mas essa dor é nova, estranha, mais forte.

Os poucos metros que preciso caminhar com meu pai até a cozinha parecem infinitos. Cada passo é como uma facada. Não quero parar, porque isso faria meu pai notar que há algo de errado, e não quero dar mais problema para ele se preocupar, mas não consigo.

Me apoio na parede e mantenho o peso do corpo só na perna boa, mas a dor sequer alivia.

— É a sua perna? — Rhys já está do meu lado, me olhando com aflição. Há olheiras roxas sob seus olhos, mais escuras do que eu jamais vi.

— Já vai passar — digo entre os dentes, porque a dor está aumentando. Nunca tive nenhum membro do meu corpo arrancado, mas acho que a sensação é igual.

— Você está branca, pequena. Vou te levar para o seu quarto e chamar Madja agora mesmo.

Papai se aproxima mais, como se fosse me pegar no colo, mas ele parece tão cansado, tão exausto...

— Nao precisa, pai, consigo ir sozinha.

— Tem certeza?

Assinto com a cabeça e apoio a perna machucada no chão. No mesmo instante, ela queima. Parece que alguém está esfregando cacos de vidro contra ela. Quero gritar, arrancá-la, ficar inconsciente e parar de sentir isso.

Dessa vez, não consigo impedir que meu pai me pegue no colo e nos atravesse direto para o consultório de Madja.


NEPHELLE

Não demoro a perceber que há algo de errado. Azriel foi atrás de Rhys e de Calen para descobrir o motivo da demora — se aquela sobremesa não surgisse logo, os trigêmeos nasceriam com cara de doces — e voltou rapidamente, dizendo que estavam dando o toque final na decoração e que seria melhor esperarmos na sala de estar, onde a poltrona era mais confortável para Feyre do que a cadeira. Ele, Lucien e ela vão para lá, mas Rohan e eu seguimos direto para a cozinha, que está vazia.

Noite Sombria e Perversa Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt