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Quando fiquei sozinha no banheiro,
uma lágrima caiu. E depois outra e mais outra. Eu já havia penteado meus cabelos e vestido uma calça justa e uma blusa larga, mas não consegui parar de tremer e chorar. Rohan tem o poder de me deixar assim.

Me encaro no espelho que fica em cima da cômoda. Enquanto meus cabelos são iguais aos da minha mãe, meus olhos são violeta iguais aos do meu pai. Eu não acho isso legal. As pessoas acham que só porque a cor deles é diferente, elas têm o direito de se aproximar de mim e ficar encarando. Nunca ouvi um "nossa, como você é linda". É sempre "nossa, como seus olhos são lindos". Eu não sou feita apenas de olhos, inferno!

Outra desvantagem é que quando eu choro, o roxo destaca o vermelho. Disfarçar o choro é algo impossível.

Chorar dá dor de cabeça. Estresse, medo e ansiedade também. Não preciso dizer como está o estado da minha enxaqueca. Apenas digo que espero, do fundo do meu coração, que Rohan tropece e caia de cara numa espada bem afiada.

Uma batida na porta.

— Pequena?

Meu pai. Eu nasci um pouco prematura, e, segundo ele, era menor do que seu antebraço, por isso ele só me chamava de pequena. Agora, já tenho quase 1,70 de altura, mas ele continua me chamando assim.

— Você está bem? — pergunta ele, ainda do lado de fora do quarto. — Sua mãe disse que você estava com dor de cabeça.

— Já está passando, pai, mas acho que vou pular o jantar. Mande um beijo para tia Nestha e o tio Cass.

— Azriel, Lucien e Nephelle também vieram — dá para saber, só pela sua voz, o quão feliz ele está.

Eu sei que tudo de ruim que aconteceu com meus pais e com seus amigos não é culpa minha — eu sequer existia naquela época — mas mesmo assim, às vezes me vejo na obrigação de alegrar eles, quase como se isso diminuísse os horrores que viram durante todos aqueles anos.

— Vou trocar de roupa e jantar com vocês, então — Minha voz saiu alegre, graças aos deuses.

— Esperarei no corredor, pequena.

Um sorriso se forma em meus lábios enquanto troco a roupa simples por um vestido lilás que ganhei de Azriel há alguns meses. Tio Azriel está acostumado a usar só a sua armadura de guerreiro, e não entende de moda, então quando ele surgiu com um vestido que realmente era bonito e combinava comigo, foi um milagre que até mesmo Alis notou. Mas, mesmo que nem sempre sejam bonitas, o que eu mais gosto nas roupas que Az compra é que elas sempre são confortáveis. O vestido de alcinha é rente ao corpo, mas sem apertar, e fica um pouco mais solto na altura da panturrilha, onde acaba. Gosto dele.

Me sentindo um pouquinho melhor, saio do quarto e vou até meu pai, que estava parado no corredor, onde disse que estaria. Ele sorri ao me ver e me oferece o braço.

— Ainda não consigo acreditar que Azriel conseguiu comprar uma roupa bonita para você — fala ele enquanto caminhamos até a sala de jantar. Consigo ouvir as risadas e os gritos das crianças.

— Milagres acontecem — adoro quando meu pai incentiva meu humor "errado" ao invés de fazer como os outros pais, que dizem "shiu".

Estamos quase chegando à sala de jantar quando meu pai para em frente a um vaso com pequenas flores brancas. Ele pega uma e coloca atrás da minha orelha.

Quando Alis e Nyx nasceram, minha mãe se afastou muito de mim. Óbvio que não foi de propósito, mas como você explicaria a uma criança que ela teria que dividir a mãe com outras crianças totalmente desconhecidas?

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