-*O que? - gritou Stayce, assim que contei sobre a mudança quando nos encontramos na lancheria naquela noite - Não, você também não. Você não pode me deixar aqui!
Abaixei a minha cabeça sem reação nenhuma. Eu tinha agido quase que do mesmo jeito.
O negócio era: eu não podia voltar para o Brasil. Não podia. Eu e a minha família saímos de lá para não lembrarmos mais do que aconteceu e isso só tinha dois anos. A gente não tinha superado ainda. Eu não tinha superado! Se voltasse, as memórias de tudo o que aconteceu ficariam mais vivas do que já estavam em minha cabeça. Eu não iria aguentar aquilo de novo.
-Eu também não queria ir. Você sabe o porquê... - fui interrompida.
-Exatamente por isso! Seus pais não perceberam que ainda é muito recente? Não tem como...
-Se dependesse deles a gente não voltava, mas a empresa que meu pai trabalha o transferiu para lá. O salário vai aumentar... enfim, vai ser bom para a gente, mas principalmente para a Izzy.
-Eu entendo tudo, mas... não é justo! - ficamos em silêncio por algum tempo – Quando vocês vão?
Respirei fundo antes de responder:
-Amanhã.
-O QUÊ? - gritou, mas logo falou mais baixo para que todos que estavam no mesmo local que nós, parassem de olhar para ela – O que? Vocês estão loucos? Como assim tão rápido?
-É que na verdade... meu pai recebeu essa proposta de gerenciar uma das empresas do chefe dele no Brasil a... dois meses atrás... - Stayce abriu a boca para falar com uma cara indignada, mas fui mais rápida - eu não sabia! Eles só me falaram hoje quando tiveram a confirmação de tudo.
Ela apenas apoiou os cotovelos na mesa e colocou as mãos no rosto. Olhei para baixo sem ter o que dizer. Era complicado! Eu não gostava de mudanças. Nunca gostei e naquele momento principalmente, eu tinha uma amiga a qual eu não podia deixar. Sabia que ela tinha outros amigos, mas ela era minha melhor amiga! Eu tinha que ir, mas eu não queria.
-Eu juro que se eu pudesse fazer qualquer coisa para poder ficar aqui, eu faria! - ela olhou para mim e abriu a boca para falar – Menos esse negócio de dizer que sou maior de idade, porque isso não vai colar.
Stayce abaixou a cabeça, mas logo a levantou com os olhos brilhando. Ai, ela teve uma ideia.
-Você poderia morar na minha casa!
-O que?
-Mas é claro! Você não precisa ir embora! Seus pais e irmãos vão e você fica aqui comigo. Pode ir visitar eles a cada quinze dias... é isso! Fechou – pegou o celular e começou a discar o número de alguém.
-Ei! Parou, parou, parou! - peguei o celular de sua mão e ela me olhou assustada - Não é assim tão simples. Isso seria a mesma de eu usar a minha idade para ficar aqui e não funciona. Eu já tentei!
-Ela só não deixa você ficar porque, por agora, o dinheiro que guardou por contar do seu emprego não te deixa alugar uma casa por aqui. Mas agora você tem onde ficar. A minha casa! - respirei fundo, sem saber o que falar – Me deixa tentar falar com ela.
Estendeu a mão para que eu devolvesse o telefone.
-O que? - continuou estendendo a mão em minha direção - Você está louca? Ela não vai deixar!
-Você ainda não me deixou tentar – piscou para mim.
-Stayce, por favor... - mas ela continuou irredutível – bom, eu te avisei.
Devolvi o celular para ela e começou a fazer suas ligações.
Apoiei minha cabeça em meus braços, cansada. Aquele país me trazia lembranças tão ruins. Principalmente aquela cidade a qual eu voltaria a morar. Tudo bem que meus avós e meus tios ainda moravam lá e que eu estava morrendo de saudades deles, mas mesmo assim. No fundo eu esperava que um alienígena entrasse no corpo da minha mãe e ela me deixasse ficar... vi a expressão da minha amiga mudar de feliz para chateada. Como eu imaginava. A possibilidade da senhora Patrícia me deixar ficar seria impossível.
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Apenas Um Acaso...?
Espiritual"- Não, não, não não, não! - desesperei-me, apertando o botãozinho que tem ao lado da cama e indo em direção a porta - Enfermeira! Doutor! Alguém, por favor, ajuda! Voltei até a cama onde estava e começei a colocar a mão em seu rosto. -Por favor, nã...